quarta-feira, 21 de setembro de 2022

QUANTOS ROSTOS TEM “ALZHEIMER” ?!

                                                                        


Ainda em tempo da invertebrada e mole estação - a silly season  do novo God Save The King -  aí está a Lei do Menor Esforço: Esquecer!

         Memória – a faculdade de esquecer. Que tanto toma a veste de um fantasma como o fato-macaco de um dever ou o ceptro autoritário de um direito! Todos iguais e todos diferentes. Porque é dentro das paredes ósseas de cada um de nós que está a oficina onde se fabricam os três modelos de esquecimento e respectivos derivados.

         Mais claro: é do Alzheimer que falamos.

         O Alzheimer, avantesma vindo das entranhas do génesis que nos amassou e  misturou com o barro de que que somos feitos. Quanto a nós, o que se lhe pede é que o alzheimer se esqueça do Alzheimer. Mas se vier, que venha tarde ou nunca!

         O Alzheimer imposto pelo vírus da ingratidão  que anestesia o melhor que há em nós e se esquece da mão que nos deu a vida e dos braços que nos arrancaram à morte!

         O Alzheimer cego, surdo e mudo – alzheimer do autismo, produto endémico nosso – erguido como grossas muralhas às vozes que gritam, às fomes que choram e acabam por jazer inanes à nossa porta! Tem endereço firmado, auto-fabricado: nos palácios dos cônsules, nos arcos romanos do poder, no crude viscoso dos poços metalizados, nos paraísos fiscais, guardados por  férreos, satânicos portões. Perto ou longe ou, quem sabe, dentro de nós, tem as suas sucursais estandardizadas, tantas vezes dissimuladas.

O Alzheimer armado, missilizado, nuclearizado,  terra-mar-e-ar, para quem o planeta não passa de um punhado de cinza em lista de espera.

Mas no interminável Vade-Mecum das variantes desta patologia, uma existe e, silenciosa, aguarda o nosso olhar. Vejo-a, estendo-lhe o abraço lúcido e peço-lhe que me revista com a sua túnica alvacenta e regeneradora: o Alzheimer da introspecção, do despojamento interior e de uma catarse tão possessiva que me faça (e nos faça) esquecer as sombras de todas as noites e olhar apenas o sol que nasce na fímbria dos montes, desvendando  o caminho novo do futuro e a “urgência de cantar a Vida” !

 

21.Set.22

Martins Júnior

  

              

 

 

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