Ainda
em tempo da invertebrada e mole estação - a
silly season do novo God Save The King - aí está a Lei do Menor
Esforço: Esquecer!
Memória – a faculdade de esquecer. Que tanto
toma a veste de um fantasma como o fato-macaco de um dever ou o ceptro
autoritário de um direito! Todos iguais e todos diferentes. Porque é dentro das
paredes ósseas de cada um de nós que está a oficina onde se fabricam os três
modelos de esquecimento e respectivos derivados.
Mais claro: é do Alzheimer que falamos.
O Alzheimer,
avantesma vindo das entranhas do génesis que nos amassou e misturou com o barro de que que somos feitos.
Quanto a nós, o que se lhe pede é que o alzheimer se esqueça do Alzheimer. Mas
se vier, que venha tarde ou nunca!
O Alzheimer
imposto pelo vírus da ingratidão que
anestesia o melhor que há em nós e se esquece da mão que nos deu a vida e dos
braços que nos arrancaram à morte!
O Alzheimer
cego, surdo e mudo – alzheimer do autismo, produto endémico nosso – erguido
como grossas muralhas às vozes que gritam, às fomes que choram e acabam por
jazer inanes à nossa porta! Tem endereço firmado, auto-fabricado: nos palácios
dos cônsules, nos arcos romanos do poder, no crude viscoso dos poços metalizados,
nos paraísos fiscais, guardados por férreos, satânicos portões. Perto ou longe ou,
quem sabe, dentro de nós, tem as suas sucursais estandardizadas, tantas vezes
dissimuladas.
O
Alzheimer armado, missilizado, nuclearizado,
terra-mar-e-ar, para quem o planeta não
passa de um punhado de cinza em lista de espera.
Mas
no interminável Vade-Mecum das
variantes desta patologia, uma existe e, silenciosa, aguarda o nosso olhar.
Vejo-a, estendo-lhe o abraço lúcido e peço-lhe que me revista com a sua túnica
alvacenta e regeneradora: o Alzheimer da
introspecção, do despojamento interior e de uma catarse tão possessiva que me
faça (e nos faça) esquecer as sombras de todas as noites e olhar apenas o sol
que nasce na fímbria dos montes, desvendando o caminho novo do futuro e a “urgência de
cantar a Vida” !
21.Set.22
Martins Júnior
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