Em cima da mesa do(s) Orçamentos(s) – o orçamento local, regional, nacional, europeu e, mais que tudo, o Orçamento Global! Em cima dos programas dos governos, em cima e bem na frente dos mercados regulados e não regulados, enfim, na letra e no espírito do primeiro e único Testamento outorgado a todo o ser humano que chega a este planeta: “Tomai a Terra, fazei-a frutificar, Crescei e multiplicai-vos”.
Esta semana começa sob o signo e o
mandato do Livro do Génesis, mas sob
a cominação enérgica do Profeta Amós:
Vós
que vos sentis seguros na capital do país,
Que
dormis em camas de marfim e vos refastelais em vossos divãs,
Mas
não vos toca nem incomoda a miséria do povo,
Vós que comeis os
melhores cordeiros do rebanho
E os mais gordos vitelos
do estábulo,
Que cantais ao som do
alaúde e inventais instrumentos músicos,
Mas não vos toca nem
incomoda a ruína do vosso povo,
Vós que bebeis o bom
vinho em grandes taças
E vos perfumais com os
mais raros cosméticos,
Mas em nada vos aflige a
desgraça do vosso povo.
Então ficai sabendo:
Sereis os primeiros a ser
deportados, para lá bem longe do vosso país. E assim desaparecerá do mundo esse
bando de gente ociosa, parasita.
Não
é nada macia, muito menos pia e ambígua a sentença bíblica, complementada pelo
Livro de Lucas, capítulo 16, onde o Mestre põe ao rubro o escândalo do ricaço
avarento que dava banquetes todos os dias, mas nem deixava que o pobre Lázaro,
jacente às portas do palácio, aparasse
as migalhas desses lautos banquetes. Só os cães vinham lamber-lhe as chagas,
Cuidado
com a parábola!... Durante séculos os pregadores oficiais manipularam a
mensagem, incutindo nos pobres escravizados a resignação que alcançaria o
grande banquete de especiosas iguarias no Além, a quem chamavam docemente o
Céu. Redobrado crime de falsificação,
defraudando o original e amortalhando em vida um povo que nascera para ser
feliz.
A
lição do Mestre é frontal, directa, sem reticências. E tão simples, que até
parece demagógica, tal a clareza do
ensino. Sublinhei demagógica, um douto
qualificativo que ouvi hoje a um celebrante da Eucaristia, via TV, precisamente
para definir o pensamento de Jesus de Nazaré face a esta injusta, escandalosa,
diabólica assimetria entre uma escassa minoria detentora dos bens de todos e
uma esmagada maioria que nem apanha as migalhas da mesa dos latifundiários da
riqueza.
Amós
profetizou que esse “bando desapareceria do planeta”. Mas Deus não pode fazer o
que, pelo profeta, anunciou. Somos nós – outra vez, os genuínos Constituintes –
que cumpriremos o vaticínio bíblico, anseio da Divindade Criadora. Os bens sociais
de que hoje disfrutamos devemo-los às gerações predecessoras que lutaram,
algumas até a custo da própria vida, para que fosse o nosso presente mais
risonho que o seu passado. Beijamos-lhes a memória e o legado.
Compete-nos
fazer o mesmo para que os vindouros – e eles já aí estão – possam lograr os
louros sociais da nossa luta de hoje. Que, ao menos, não nos apedrejem pelos
crimes de inércia e cobardia.
“Bem-aventurados,
Felizes os que sofrem por amor da Verdade e da Justiça” – proclamou o Nazareno
no alto da montanha.
25.Set.22
Martins Júnior
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