segunda-feira, 25 de abril de 2022

EM ABRIL CRAVOS MIL…EM MACHICO RENASCIDO!

                                                                           


Em 1974, a alma do Cravo Livre venceu a ditadura dos homens. E em 2022, a alma rediviva do mesmo Cravo Aberto venceu a ditadura-natura que, durante dois anos consecutivos, nos amarrou as mãos que plantam e os braços que levantam Abril de Cravos Mil. Foi, portanto,  o dia de hoje uma dupla vitória restaurada e ampliada.

         Em Machico, os cravos refloriram no chão jovem dos corações que povoam as terras de Tristão Vaz. A teimosa chuva cantante durante toda a manhã preparou a apoteose de um tarde global colorida pelo sol, pelas diversas faixas etárias, pelas canções coreografadas em palco, enfim, pelas mensagens ditas, pelas esperanças semeadas no Largo-testemunha de Abril em quase meio-século de vitalidade contínua.

Em verso, música e dança interpretadas pelos jovens desfilaram as conquistas de Abril, desde a abolição do regime de colonia, a destruição do medo secular e a conquista do bem maior da Liberdade – uma extensa e bela partitura escrita pelo suor, denodo e chama do povo desta terra, justamente cognominada de “Terra de Abril”. Para quem viveu “na hora” a dolorosa e gloriosa transição entre regimes, a ditadura para a Democracia, foi hoje o Dia da Renascença!

Melhor vigília não poderíamos ter saboreado do que a da noite de 24 no Salão de Actividades Culturais da Junta de Freguesia de Machico, cujo programa entrelaçou duas freguesias/concelhos gémeos: Câmara de Lobos e Machico, através das Tunas de Bandolins que proporcionaram um concerto comum, partilhado vocalmente por todos os que encheram o local. 

                                


Todos aqueles que instauraram ou transplantaram Abril, esses já fizeram a sua parte. Falta agora à geração de hoje – e de amanhã – fazer a sua.

Fazer Abril é criar um estado de alma permanente inspirado nos ideais da Revolução dos Cravos.

É Abril quando nasce um filho.

É Abril quando a criança dá o primeiro passo na escola.

É Abril quando o jovem termina o curso na Faculdade ou na Escola Profissional.

É Abril quando os namorados se casam, quando o lavrador lança a semente e recolhe-a com êxito, quando o pedreiro levanta uma nova construção e ainda é Abril quando o pescador enche o barco de cardumes, como Pedro no Mar da Galileia.

Tudo é Abril, se ganharmos dentro de nós um estado de alma de Abril!

Sempre que o Homem quer, Abril responde “Presente, Aqui estou”!

                                                             


A primeira condição para fazer Abril é ser competente no ofício e respectivo desempenho. Desde a base até ao vértice da sociedade. A falência dos regimes e de todo o sistema partidário acontece quando incluem nos seus elencos governativos ou nas suas listas gente incompetente, inábil, desonesta, calculista e corrupta. E há tantos casos à nossa volta…

Abril não está na eloquência dos discursos tribunícios, embora oportunos, nem está também nos decibéis dos propagadores do som, nem muito menos nas lantejoulas furtivas dos fogos-de-artifícios. Porque o estado de alma de Abril não é extático, é dinâmico, não é formal mas existencial, orgânico, corpo vivo que cresce em espiral evolutiva.

Cada povo tem o “seu” 25 de Abril. Há muitos anos, passou na Ribeira Seca o Bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, apelidado de “Bispo Vermelho”, já falecido. No contacto com os jovens, disse textualmente que “o 25 de Abril foi o Dia de Páscoa de todos os portugueses”. E disse-o muito bem.  

Recordo aqui a “Tomada da Bastlha” em França, o histórico “14 de Julho” e associo-o à recente  vitória de Emanuel Macron. Lembro, porém, com mais emoção, o 7 de Setembro, o Dia da Independência do Brasil. Em 1972, ouvi eu da boca do corajoso arcebispo Hélder da Câmara, em Olinda e Recife, este libelo veemente contra a ditadura militar brasileira, então vigente; “Queremos o progresso do Brasil, sim, mas terá de ser levado a efeito com os brasileiros, pelos brasileiros e para os brasileiros”.

Ao Arcebispo de Olinda Recife, também alcunhado de “Arcebispo Vermelho”, peço licença para recuperar as suas palavras e lançar idêntico pregão aos portugueses, aos madeirenses e, em última instância, aos machiquenses:

Queremos um 25 de Abril, sim decididamente, mas com os machiquenses (portugueses, madeirenses), pelos machiquenses (portugueses, madeirenses) e para os machiquenses (portugueses, madeirenses)!

  Porque Abril não é obra de anjos ou extra-terrestres, nem de líderes partidários, Abril é tarefa de todos nós!

Um voto do tamanho do mundo ecoou, de 24 a 25 de Abril, com o Hino Nacional da Ucrânia, interpretado vibrantemente pela Tuna: “Venha depressa um 25 de Abril para o Povo Ucraniano”.

 

25,Abr.22

Martins Júnior

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