Seja
embora de pura fruição intelectual, o que hoje me inebria e faz bater a pulsação
é a coincidência temporal de tantos e todos os “ABRIS” que tantas e todas a s
nações trazem no seu seio materno. Sem sombra de dúvida, a alvorada de Abril
iluminou a cordilheira multicolor de todo o planeta. Em qualquer país ou em
qualquer lugarejo, “sempre que há alguém que resiste” e ergue o facho da
Liberdade, aí está gémeo e viçoso o Cravo de Abril.
Por todos, condenso hoje três picos
históricos que, precisamente neste mês, cruzam-se no mesmo abraço fraterno e
formam o triângulo virtuoso e heróico da libertação dos povos.
O Primeiro ocorreu há cerca de 3.300
anos (Séc.XII-XII A.C.) quando o líder
maior do povo israelita, Moisés, confrontou-se com o super-poderoso Faraó do
Egipto e, após porfiada luta sem tréguas, conseguiu que a sua gente, cativa
durante 40 longos anos, se evadisse daquela “casa de escravidão”, conforme
testemunho escrito pelo próprio libertador no Livro do ÉXODO. Não obstante toda
uma linguagem inspirada na visão teocrática da época (as Dez Pragas contra o
Egipto, a abertura enigmática do Mar Vermelho que deu passagem “a pé enxuto”
aos israelitas) o saldo final culminou
na conquista da Liberdade e o subsequente regresso à pátria de Canaã. Foi tão
retumbante o acontecimento e de tanta repercussão nas gerações futuras que o
proclamaram a sua Festa Nacional, calorosamente instaurada e celebrada em Dia
de Páscoa – a Páscoa dos Judeus, da qual todos somos herdeiros, no mesmo
plenilúnio e com a mesma pompa e circunstância, embora sob o signo de uma outra
vitória.
De
uma outra Vitória e de uma Nova Páscoa, a da Ressurreição do Nazareno, 1.300
anos depois!
Seja
qual for a interpretação atribuída pelos exegetas e historiadores, o que não
pode escamotear-se é a pujança indomável da expansão evangélica que a Nova
Páscoa do Ressuscitado inoculou nas veias e no cérebro daqueles homens e
naquelas mulheres, antes tímidos e vacilantes, que viram no seu Líder e Mestre o
sucesso contra a ditadura político-religiosa dos sumos-sacerdotes do Templo de
Jerusalém.
Cabia
aqui evocar as vitórias dos povos escravos sobre o Império Romano, protótipo de
outras tantas que derrubaram o poderio imperialista da opressão dos povos, ao
longo destes 20 séculos. Sintetizo-as, porém, no derrube do duplo império
Português, ocorrido em 1974 – ABRIL/25 – quando caíram finalmente o Império da
Ditadura e o Império Colonial.
Há
uma linha contínua que atravessa territórios e gerações e, em tempo oportuno, explode apoteótica e decisiva
para sacudir todas as formas de repressão de que são vítimas os povos
indefesos. Em todas as lutas mencionadas no tríptico acima descrito, há três
núcleos indissociáveis: um Líder, um Povo e as Armas.
Nos
casos mencionados, identificamos o Líder Moisés, o seu Povo e a sua vara de
caminheiro pelo deserto. Séculos depois, temos o Líder Jesus de Nazaré, o seu
Povo e as armas da Luz e das Verdade com as quais pacificamente ultrapassou
todos os obstáculos, até a própria morte. No Século XX, surgem os Líderes
intrépidos e firmes do “25 de Abril”, o Povo Português e as Forças Armadas com
as famosas ‘G3’ cujas munições eram Cravos vermelhos no cano da espingarda.
Defini,
logo de início, que era um mero exercício de fruição intelectual o texto de
hoje. Mas é mais, muito mais: exprime uma veemente convocatória a cada cidadão
do mundo – no campo ou na urbe – para estar vigilante face às capciosas
manobras dos ditadores que circulam entre nós sem sequer nos darmos conta da
sua maquiavélica presença. Não há Líder que mobilize se não houver gente
mobilizável. Não são e nunca foram desejáveis as vitórias de um “Homem Só”.
Todas as vitórias hão-de ser conseguidas
“com o Povo, pelo Povo e para o Povo”.
E,
seja qual o nosso contributo, não esqueçamos a nossa palavra-de-ordem/2022:
VIVER
É RESSUSCITAR NA MANHÃ DE CADA DIA”.
19.Abr.22
Martins Júnior
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