Aguardei
que morressem as vinte e quatro horas para poder saudar o fim de um pesadelo –
a Sexta-Feira – a qual, por ser Santa, não deixa de ser pesada. Pesadíssima,
não pela amostra exterior que dela fazem, mas pela hediondez do crime que
esconde – e que escondem – no teatro dos tempos.
A
Cruz tem dois rostos.
De
um lado, o mistério da salvação, a súmula de todas as dores, o lenitivo para
todas as depressões, o oceano de todas as lágrimas.
Mas há o outro lado. E é para lá que eu vou.
Descubro então que a Cruz é o crime arvorado em bandeira, é a ignomínia
sacralizada, o maior ultraje à condição humana.
Nunca
deveria ter sido dado palco à maior injustiça praticada contra um Homem Bom.
Nunca mereceria trono nem altar o culto de uma religião corrupta e assassina, a do Templo de Jerusalém, a do código de Anás
e Caifás,
Recuso-me
a adormecer na Cruz. Recuso-me branquear o crime, muito menos a fazer dela um
espectáculo nu.
Não
será para mim ponto de chegada, mas cais de partida.
15.Abr.22,
Sexta-Feira Santa
Martins Júnior
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