sexta-feira, 15 de abril de 2022

“VIA-SACRA” SOB PROTESTO

Aguardei que morressem as vinte e quatro horas para poder saudar o fim de um pesadelo – a Sexta-Feira – a qual, por ser Santa, não deixa de ser pesada. Pesadíssima, não pela amostra exterior que dela fazem, mas pela hediondez do crime que esconde – e que escondem – no teatro dos tempos.

A Cruz tem dois rostos.

De um lado, o mistério da salvação, a súmula de todas as dores, o lenitivo para todas as depressões, o oceano de todas as lágrimas.

Mas  há o outro lado. E é para lá que eu vou. Descubro então que a Cruz é o crime arvorado em bandeira, é a ignomínia sacralizada, o maior ultraje à condição humana.

Nunca deveria ter sido dado palco à maior injustiça praticada contra um Homem Bom. Nunca mereceria trono nem altar o culto de uma religião corrupta e assassina,   a do Templo de Jerusalém, a do código de Anás e Caifás,

Recuso-me a adormecer na Cruz. Recuso-me branquear o crime, muito menos a fazer dela um espectáculo nu.

Não será para mim ponto de chegada, mas cais de partida.

 

  

 15.Abr.22, Sexta-Feira Santa

Martins Júnior

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