domingo, 17 de abril de 2022

VIVER É RESSUSCITAR NA MANHÃ DE CADA DIA - ALELUIA

                                                                                     


Estão a calar-se as badaladas aleluiáticas deste Domingo do Ano da (des)Graça de 2022. Do púlpito das sumptuosas basílicas ou do modesto ambão das igrejas e ermidas aproveitaram-se os pregoeiros do costume para despejar as lamúrias de sempre: as guerras, as fomes e as sedes, as epidemias, as injustiças, os maus tratos, as assimetrias, as criancinhas, etc., etc.. E tudo projectado no sepulcro vazio daquele horto onde Maria Madalena descobriu que “alguém tinha roubado o corpo do Senhor”. Para o ano que vem, já está feito o discurso em fotocópia registada.

         Desculpar-me-ão um certo cepticismo, senão mesmo um pessimismo certo, com que vejo e oiço esta quase-novela repetida e martelada. A humanidade/cristandade tem já dois mil anos de aleluias e, em progressão geométrica, dentro do mesmo período tem milénios e  milhões de guerras, fomes, epidemias, crimes e injustiças, adocicadas sempre com o mesmo olhar no sepulcro vazio, à espera do Ressuscitado, como no teatro “À espera de Godot”… que nunca chega! Apetece neste caso parafrasear o velho ditado e dizer “com amêndoas e bolos se enganam os tolos”,,, Da farsa passa-se à repulsa, ao termos conhecimento que muitas guerras e injustiças foram planeadas ou apoiadas pela instituição pregadora das mesmas páscoas.

         Onde quero chegar, sem prejuízo de quem quer que seja tenha outras interpretações?

         Simplesmente a isto: não invoquemos em vão o túmulo vazio ou o Ressuscitado para vir levantar do chão os corpos abatidos pelos russos, ou para acabar com a exploração do homem pelo homem, ou para revogar a lei do mais forte sobre o mais fraco, ou para liquidar as epidemias e chamar a contas os oligarcas que sustentam a guerra. Tudo isto é obra nossa – dos HOMENS E MULHERES DE HOJE – e não do Taumaturgo Ressuscitado.

         Por isso, rendo ao Autor da Vida Ressuscitada, embora  delas não precise, as minhas homenagens, as mais entusiásticas e inspiradoras. Mas, com maior entusiasmo e ousadia, dirijo-me à raiz da Vida - concreta, mensurável e exigente - para interpelar-me a mim próprio e mobilizar-me na grande jornada de um mundo melhor, redivivo, ressuscitado. É a palavra de ordem e o convite inscritos no retábulo do templo da Ribeira Seca:

VIVER

     É

                                            RESSUSCITAR

   NA MANHÃ DE CADA DIA

                                   ALELUIA ------- ALELUIA

 

    17.Abr.22

    Martins Júnior

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