Estão
a calar-se as badaladas aleluiáticas deste Domingo do Ano da (des)Graça de
2022. Do púlpito das sumptuosas basílicas ou do modesto ambão das igrejas e
ermidas aproveitaram-se os pregoeiros do costume para despejar as lamúrias de
sempre: as guerras, as fomes e as sedes, as epidemias, as injustiças, os maus
tratos, as assimetrias, as criancinhas, etc., etc.. E tudo projectado no
sepulcro vazio daquele horto onde Maria Madalena descobriu que “alguém tinha
roubado o corpo do Senhor”. Para o ano que vem, já está feito o discurso em
fotocópia registada.
Desculpar-me-ão um certo cepticismo,
senão mesmo um pessimismo certo, com que vejo e oiço esta quase-novela repetida
e martelada. A humanidade/cristandade tem já dois mil anos de aleluias e, em
progressão geométrica, dentro do mesmo período tem milénios e milhões de guerras, fomes, epidemias, crimes e
injustiças, adocicadas sempre com o mesmo olhar no sepulcro vazio, à espera do
Ressuscitado, como no teatro “À espera de Godot”… que nunca chega! Apetece
neste caso parafrasear o velho ditado e dizer “com amêndoas e bolos se enganam
os tolos”,,, Da farsa passa-se à repulsa, ao termos conhecimento que muitas
guerras e injustiças foram planeadas ou apoiadas pela instituição pregadora das
mesmas páscoas.
Onde quero chegar, sem prejuízo de quem
quer que seja tenha outras interpretações?
Simplesmente a isto: não invoquemos em
vão o túmulo vazio ou o Ressuscitado para vir levantar do chão os corpos
abatidos pelos russos, ou para acabar com a exploração do homem pelo homem, ou
para revogar a lei do mais forte sobre o mais fraco, ou para liquidar as epidemias
e chamar a contas os oligarcas que sustentam a guerra. Tudo isto é obra nossa –
dos HOMENS E MULHERES DE HOJE – e não do Taumaturgo Ressuscitado.
Por isso, rendo ao Autor da Vida
Ressuscitada, embora delas não precise,
as minhas homenagens, as mais entusiásticas e inspiradoras. Mas, com maior
entusiasmo e ousadia, dirijo-me à raiz da Vida - concreta, mensurável e
exigente - para interpelar-me a mim próprio e mobilizar-me na grande jornada de
um mundo melhor, redivivo, ressuscitado. É a palavra de ordem e o convite
inscritos no retábulo do templo da Ribeira Seca:
VIVER
É
RESSUSCITAR
NA MANHÃ DE CADA DIA
ALELUIA ------- ALELUIA
17.Abr.22
Martins Júnior
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