De
terramotos, revoluções, incêndios e guerras se faz o pão que o diabo amassou e nos
serve, ele mesmo, à mesa de cada dia.
Sobretudo de guerras, de ucrânias e rússias transplantadas por tudo quanto é
mundo. É de guerras cruentas, sangrentas, tiroteios, tanques e armadilhas letais
que se pintam os nossos ecrãs e os jornais que nos caem debaixo dos olhos.
Mas
há outras guerras, de outra tipologia invisível, sem dúvida a mais temível e
decisiva, aliás, a mãe de todas as guerras: a guerra ideológica. Do ventre dela
é que saem todas as armas, todos os planos bélicos, todos os generais-cabos de
guerra e até as medalhas ´ganhas´ em combate. Foi o próprio Meigo e Terno Nazareno
que o afirmou: “É de dentro do homem que sai tudo isso”. Consciente ou
inconscientemente, é a Ideia (inata, adquirida, construída ou destruída) que
acciona o detonador de todas as nossas guerrilhas, sejam elas familiares, vicinais,
sociais ou colectivas, sejam nacionais ou transnacionais.
Ora,
é precisamente neste Domingo que o LIVRO nos faz sinalizar, à saciedade, o
axioma ou a verificação do que acabo de traduzir no parágrafo anterior. Em
palco, três exemplares perfeitos de uma tríplice mentalidade: de um lado, o dogmatismo jurídico-social
representado pelas classes dominantes, fariseus, escribas, doutores da Lei e,
implicitamente, os sumos-sacerdotes. E agregado ao estatuto de superioridade, o
charco da hipocrisia, das aparências, do obscurantismo imperante. Do outro lado, a interpretação global da
sociedade e do indivíduo, uma mundividência alternativa e personalizante com
base na transparência e na auto-libertação ética e psicológica, todo este
acervo consignado em Jesus de Nazaré. E
no meio destas duas ideias-força antagónicas, uma Mulher. Não uma mulher
indiferenciada, anónima, indistinta, mas uma autêntica “bomba-relógio” que a
classe dominante colocou ali nas mãos do líder Jesus, ao rubro – uma capciosa
armadilha - para caçá-lo em flagrante e denunciá-lo à poderosa ditadura sócio-religiosa de Jerusalém.
Como
sempre, sugiro o texto de João, 8, 1-11, cuja leitura iluminará as conclusões que
sintetizarei nestas linhas: à Mulher, porque apanhada em adultério, devia ser
aplicada a sentença da Lei moisaica, a lapidação. “E tu, Mestre, qual a tua opinião?”, questionavam
os fariseus e os juristas escribas doutores. Até Lhe chamavam “Mestre”, o
cúmulo do cinismo calculista, quando tudo não passava de uma diabólica manobra
para comprometê-lO.
Em
termos finais desta terrível acareação pública:
1. Jesus
toma desassombradamente a defesa da Mulher (“atirem-lhe vocês a primeira pedra”…)
não apenas daquela, mas de todas as mulheres, contrariando a ideologia da época
que tratava a Mulher como um ser inferior ao Homem, causadora, desde a bíblica
Eva, de todas anomalias e desvarios do mundo.
2. Não
fora a primeira vez que o “Mestre” tinha desmascarado os escândalos do Templo e
a corrupção da classe dominante, mas aqui foi mais longe (Oh grande, pujante,
gigante Jesus!) o seu discurso denunciador foi escrito no chão do largo do
Templo, onde decorria a acção judicial pública. Contra o reino das trevas
criminosas, Ele instaura o novo Reino da Transparência e da Verdade.
3. “Porquê
e para onde fugiram eles? – perguntou à Mulher. E acrescentou: “Nenhum deles te
condenou?”, ao que ela respondeu: “Nenhum me condenou, Senhor”. “Eu também não
te condeno. Adeus, Mulher, podes ir embora, mas o que te peço é só isto; Muda
de vida”!
4. Profunda
lição de psicologia, extraordinária sentença ressocializadora, que deveria ser
o móbil de todo o Processo Penal!
5. Mesmo
sabendo que esta sua atitude constituiria mais um libelo acusatório carreado pela
dita classe dominante para o processo no
tribunal do Procurador Romano Pôncio Pilatos, o nosso Mestre não cedeu nem um
palmo de consciência activa nesta guerra ideológica que veio a culminar no seu
próprio assassinato.
Assim
entramos na análise e na compreensão de todo o percurso de Jesus de Nazaré, uma
luta de toda a vida em prol da regeneração da Humanidade, vislumbre de uma Nova
Ordem Mundial que nos incumbe construir.
Em
uníssono, evoco e curvo-me solidário diante do túmulo de Salgueiro Maia, neste
aniversário da sua morte. Cumpre-nos Ressuscitá-lo!
03.Abr.22
Martins Júnior
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