domingo, 3 de abril de 2022

A OUTRA GRANDE GUERRA – A DAS MENTALIDADES – GUERRA DE TODOS OS DIAS! À MARGEM DA ADÚLTERA.

                                                                       


De terramotos, revoluções, incêndios e guerras se faz o pão que o diabo amassou e nos serve, ele mesmo,  à mesa de cada dia. Sobretudo de guerras, de ucrânias e rússias transplantadas por tudo quanto é mundo. É de guerras cruentas, sangrentas, tiroteios, tanques e armadilhas letais que se pintam os nossos ecrãs e os jornais que nos caem debaixo dos olhos.

Mas há outras guerras, de outra tipologia invisível, sem dúvida a mais temível e decisiva, aliás, a mãe de todas as guerras: a guerra ideológica. Do ventre dela é que saem todas as armas, todos os planos bélicos, todos os generais-cabos de guerra e até as medalhas ´ganhas´ em combate. Foi o próprio Meigo e Terno Nazareno que o afirmou: “É de dentro do homem que sai tudo isso”. Consciente ou inconscientemente, é a Ideia (inata, adquirida, construída ou destruída) que acciona o detonador de todas as nossas guerrilhas, sejam elas familiares, vicinais, sociais ou colectivas, sejam nacionais ou transnacionais.

Ora, é precisamente neste Domingo que o LIVRO nos faz sinalizar, à saciedade, o axioma ou a verificação do que acabo de traduzir no parágrafo anterior. Em palco, três exemplares perfeitos de uma tríplice mentalidade: de um lado, o dogmatismo jurídico-social representado pelas classes dominantes, fariseus, escribas, doutores da Lei e, implicitamente, os sumos-sacerdotes. E agregado ao estatuto de superioridade, o charco da hipocrisia, das aparências, do obscurantismo imperante.  Do outro lado, a interpretação global da sociedade e do indivíduo, uma mundividência alternativa e personalizante com base na transparência e na auto-libertação ética e psicológica, todo este acervo consignado em Jesus de Nazaré. E no meio destas duas ideias-força antagónicas, uma Mulher. Não uma mulher indiferenciada, anónima, indistinta, mas uma autêntica “bomba-relógio” que a classe dominante colocou ali nas mãos do líder Jesus, ao rubro – uma capciosa armadilha - para caçá-lo em flagrante e denunciá-lo à poderosa ditadura  sócio-religiosa de Jerusalém.

Como sempre, sugiro o texto de João, 8, 1-11, cuja leitura iluminará as conclusões que sintetizarei nestas linhas: à Mulher, porque apanhada em adultério, devia ser aplicada a sentença da Lei moisaica, a lapidação.  “E tu, Mestre, qual a tua opinião?”, questionavam os fariseus e os juristas escribas doutores. Até Lhe chamavam “Mestre”, o cúmulo do cinismo calculista, quando tudo não passava de uma diabólica manobra para comprometê-lO.    

Em termos finais desta terrível acareação pública:

1.     Jesus toma desassombradamente a defesa da Mulher (“atirem-lhe vocês a primeira pedra”…) não apenas daquela, mas de todas as mulheres, contrariando a ideologia da época que tratava a Mulher como um ser inferior ao Homem, causadora, desde a bíblica Eva, de todas anomalias e desvarios do mundo.    

2.     Não fora a primeira vez que o “Mestre” tinha desmascarado os escândalos do Templo e a corrupção da classe dominante, mas aqui foi mais longe (Oh grande, pujante, gigante Jesus!) o seu discurso denunciador foi escrito no chão do largo do Templo, onde decorria a acção judicial pública. Contra o reino das trevas criminosas, Ele instaura o novo Reino da Transparência e da Verdade.

3.     “Porquê e para onde fugiram eles? – perguntou à Mulher. E acrescentou: “Nenhum deles te condenou?”, ao que ela respondeu: “Nenhum me condenou, Senhor”. “Eu também não te condeno. Adeus, Mulher, podes ir embora, mas o que te peço é só isto; Muda de vida”!

4.     Profunda lição de psicologia, extraordinária sentença ressocializadora, que deveria ser o móbil de todo o Processo Penal!

5.     Mesmo sabendo que esta sua atitude constituiria mais um libelo acusatório carreado pela dita classe dominante para o  processo no tribunal do Procurador Romano Pôncio Pilatos, o nosso Mestre não cedeu nem um palmo de consciência activa nesta guerra ideológica que veio a culminar no seu próprio assassinato.

 

Assim entramos na análise e na compreensão de todo o percurso de Jesus de Nazaré, uma luta de toda a vida em prol da regeneração da Humanidade, vislumbre de uma Nova Ordem Mundial que nos incumbe construir.

Em uníssono, evoco e curvo-me solidário diante do túmulo de Salgueiro Maia, neste aniversário da sua morte. Cumpre-nos Ressuscitá-lo!

 

03.Abr.22

Martins Júnior

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