sexta-feira, 19 de março de 2021

TUDO O QUE É VIDA É HERMAFRODITA: POSTAL CONTRIBUTIVO PARA UM CONTÍNUO DIA DO PAI

                                                                        


Será o mote para uma interminável glosa.

Aceite-a quem quiser e trate-a com a profundura das raízes milenares e com a altitude que excede as galáxias vencidas e vincendas, alcançadas e alcançáveis. Porque o grito másculo deste dia ultrapassa-o, projecta-se, dilui-se e não descansa enquanto não se consubstanciar na sua real totalidade genesíaca.

E a mensagem é esta: Tudo quanto nasce traz consigo o maravilhoso enigma do Hermafrodita.

Explico-me: podem cortar  em dois  os hemisférios, podem colocar em cada um deles um homem e uma mulher. O oiro, a prata, o diamante podem superar-se em brilho autónomo, cada qual ostentando o preço singular da sua espécie. Pode o fruto maduro separar-se da mãe-árvore que o trouxe nos braços verdejantes. Tudo é divisível, tudo é sinónimo e tudo é antónimo. Mas algo existe que não pode manter-se na luta de género, de sexo, de fertilidade ou de supremacia. Um nunca poderá subsistir sem o outro. E se o tentarem, anulam-se irremediavelmente.

Reexplico-me: Não há Pai sem Mãe! E não há Mãe sem Pai!

Poderá haver homem sem mulher e mulher sem homem, mas o que se afirma estruturalmente indissociável é a união – chamarei hipostática – entre maternidade e paternidade. Uma nunca verá a luz do dia sem a outra.

Mãe só ganhará estatuto essencial se houver Pai. E Pai só ganhará essa sua identidade se houver Mãe. Poderá, pois, dizer-se que a Natureza procriadora é biologicamente Hermafrodita. Só existe se for portadora, na sua génese, das duas forças conjuntas: masculinidade-feminilidade. As duas no mesmo plano e no mesmo berço. Não há volta a dar: desde a mais rasteira violeta aos mais possantes dinossauros, sobrepujando-se no vértice real da Criação, o Ser Humano! Razão  têm, pois, certas cosmogonias orientais, ao conceber o Demiurgo, o Deus Criado na figura de um Homem-Pai e de uma Mulher-Mãe.

 No, oficialmente cognominado, Dia do Pai, trago a presente reflexão que gostaria de tê-la transformado em poema épico, se a tal chegasse a minha inspiração. Para vencer a dissonância desta efeméride. Não deveria haver Dia do Pai que não fosse Dia da Mãe. A Mãe, como definição, só existe se houver Pai – reafirmo. E o seu reverso também!

Sem distanciar-me da leitura biológica do mote que hoje propus-me apresentar, permitam-me extrapolar para um âmbito maior, no relacionamento sócio-pedagógico decorrente da condição familiar – Pai e Mãe -  citando  o veredicto do Nazareno: “Que o homem não separe aquilo que Deus uniu”.

 

19.Mar.21

Martins Júnior

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