quinta-feira, 11 de março de 2021

OURO BRANCO, OURO PRETO, OURO PORTUGUÊS NA EUROPA

                                                                          


Longe vão os tempos em que visitei uma cidade brasileira, com sabor e cor a solo português, desde a planta dos pés que pisam as ruas antigas, sinuosas, calcetadas a pedra viva (como em Alfama, Coimbra-a-Velha  e os centros históricos das nossas cidades) até às varandas que trepam as casas de traçado tipicamente luso. Mas o que vivamente me impressionou foi a monumental presença do escultor António Francisco Lisboa, “O Aleijadinho”, filho do entalhador português Manuel Francisco Lisboa, com as magníficas estátuas em pau-sabão, obra-prima da arte brasileira.

São José de Ouro Preto, de seu nome, em virtude da extração do precioso metal, em Minas Gerais! Já então, dei comigo a pensar na vocação multirracial do nosso país fruto da expansão marítima que “deu novos mundos ao mundo”, com o já discutido contraste de luz e sombras que daí deriva.

Que sensação de intemporalidade cívica, de beleza polícroma, de multiculturalismo étnico senti eu, ao ver que Portugal voltou a brilhar com a auriflama atlética no firmamento europeu!!! Ouro do mais fino quilate num tríptico nunca visto, onde a tez negra e olhos estelares assentam plenamente na moldura da bandeira de Portugal! Seja qual a identidade biológica da sua génese – Cuba, Angola, Camarões – o que releva neste pódio é o prestígio de Portugal, sob cuja égide ganharam tão almejado galardão.

Este feito, autenticado pela chancela desta exígua faixa de terra à beira-mar plantada, tem no seu âmago a mesma histórica mensagem de “dar novos mundos ao mundo”. Numa época, incompreensivelmente no século XXI, em que pululam estranhas viroses, algumas até despudoradas, de desigualdades raciais que desembocam em escandalosos atentados  criminais, a tríplice coroa de ouro português vem afirmar solenemente a dignidade de cada povo, senão mesmo a superioridade de certos segmentos sociais, estupidamente ostracizados pelos empolados  detentores de peles pintadas de neve, por vezes, anémica. Ao valoroso trio atlético, junto (por todos) o famoso “Pantera Negra” e, a nível musical, o melodioso “Duo Ouro Negro” que, na década de 80 e por sugestão minha, veio abrilhantar o Dia do Concelho de Machico.

Desde Moçambique trago comigo o respeito e a simpatia pela etnia africana, desde o mais infantil nativo até ao laureado ‘Prémio Camões’, José Craveirinha, e ao talentoso pintor Malangatana Valente, em cuja modesta habitação me sublimei com a imponência das fabulosas pinturas que enchiam as paredes.

 Felicitações aos vencedores de agora, futuros olímpicos. Para ilustrar este meu tributo à sua vitória, faltar-me-ia gravar no ouro das sua medalhas o Poema “Lágrima” de António Gedeão, expressão poético-científica da Igualdade Universal que caracteriza todo o Ser Humano.

 

11.Mar.21

Martins Júnior

 

Sem comentários:

Enviar um comentário