terça-feira, 25 de maio de 2021

BIELO-RÚSSIA, BIELO-RAM, BIELO-COVID: ONDE ESTAREMOS NÓS SEGUROS?

                                                                     


O  Planeta volta a estar vulcanizado. Se não damos pelas placas geotectónicas que revolvem a profundidade, chegam-nos quase à pele as lavas que escorrem à nossa beira, seja em Marrocos e Ceuta, seja em Israel, seja por terra ou por mar.

Mas o que nunca se esperaria neste primeiro quartel do século XXI é a trepidante insegurança no ar que nos cobre e nos envolve. Os actos de pirataria aérea remontam ao reino das ditaduras, contra as quais os terroristas – assim taxados pelos regimes totalitários – afrontavam quase suicidariamente os detentores do poder absoluto. Hoje, porém  (e ontem foi, em 24 de Maio!)  é outro o terrorismo, o de um Estado, dito democrático, porque eleito pelo povo, um Estado pertencente à nossa família europeia, sentado à nossa mesa, comendo do nosso orçamento. Para onde fugiremos, se nem no azul dos céus nos achamos seguros?...

É incrível o desaforo de desumanidade reinante no ditador pró-soviético Lukashenko que não tem um pingo de remorso em mandar ‘sequestrar’ 121 pessoas, de 18 nacionalidades, que pacificamente  se dirigiam ao aeroporto de Vilnius, na Lituânia, e fá-las aterrar de emergência em Minsk (BieloRússia), sob a assustadora escolta de um MiG-29, da era soviética.

Tudo porquê?... Na versão oficial, devido a uma suspeita de bomba a bordo, a mesma que engendrou o gélido Bush para justificar os bombardeamentos no Iraque. Na versão real, a prisão de um jovem de 26 anos, jornalista anti-regime, que viajava no mesmo avião!!! Como é possível? Em que mundo, em que Europa estamos nós?

Transcrevo aqui o pensamento da filósofa americana Judith Butler, em recente entrevista ao jornal Le Monde: “Com a morte de George Floyd, operou-se uma reviravolta a nível cultural e será preciso observar atentamente as consequências e comportamentos institucionais que daí resultam”.

Os órgãos máximos da EU já tomaram medidas severas, como as que já conhecemos. Ninguém, sobretudo nós europeus, poderá ficar indiferente a uma barbaridade tribal de um indivíduo, vigia de uma quinta sob o regime soviético e, depois da independência, apoiado nas eleições para a presidência da Bielorússia, a qual detém desde 1994, com o manifesto apoio de Putin.

Um vulgar guardião-vigia de quinta do regime, catapultado a ditador desenfreado numa Europa restituída à Liberdade e à Paz desde 1945! Onde é que eu já vi coisa semelhante?...  Ocorre-me à memória o caso de um obscuro sargento do exército alemão, mais tarde transformado no maior assassino da história. “Se bem me lembro” (parafraseando Vitorino Nemésio), também não consigo  esquecer que, nos primórdios do 25 de Abril de 1974,  numa minúscula Bielo-MAD-RAM aconteceu, entre outras, esta cena precursora de um tal vigia-de-quinta Lucashenko: um competente professor, distinto escultor, foi mandado coercivamente para o aeroporto, tomar o avião e, sem mandado judicial nem processo formado,  foi literalmente expulso da ilha!

Onde quero eu chegar com estas aproximações à tômbola da história?

Simplesmente a isto: não bastam as retaliações da EU e do mundo civilizado para refrear os instintos maquiavélicos dos ditadores. É preciso mais. Aliás, as sanções institucionais nem seriam necessárias, se houvesse esse ‘mais’. Qual será esse ‘mais’ adicional, estrutural? O Povo,  o Eleitor, o Cidadão comum, enfim, a consciência colectiva de que a soberania está no Povo! O resto deixo à consideração de quem me acompanha nestas páginas.

Apenas, uma última precaução: em tempo de confinamentos preventivos (e necessários à saúde pública) cuidado, muita vigilância, porque sob o manto protecionista, pode estar embuçado o pró-ditador Bielo-COVID que, sem escrúpulos, visa sub-repticiamente anestesiar a consciência e a força soberana da identidade de um Povo!

Repetindo Judith Butler: “É preciso observar atentamente os comportamentos institucionais”!

 

25.Mai.21

Martins Júnior  

Sem comentários:

Enviar um comentário