quarta-feira, 29 de setembro de 2021

POR QUE VOTAS? ……………………............................... POR QUEM VOTAS?....................................................

                                                                          


    São para os directórios partidários as análises, os contornos e as consequências dos actos eleitorais. E nisso andarão bem se tiverem a coragem (para os perdedores) e a sensatez (para os ganhadores) de pegarem pelas raízes os resultados das urnas, pendam eles para onde penderem.

         Limito-me neste breve observatório à visão concreta, direi telúrica e genuína, que terá levado alguém a deixar a sua casa, o seu passeio, o seu cómodo para traçar aquela cruzinha mágica num papel colorido que lhe cai nas mãos. Justamente por isso, porque a cruzinha tanto se assemelha a um sinal de trânsito, a um GPS, como nalguns casos a uma arma para derrubar tronos e erguer mausoléus! Sinal de trânsito ou GPS decisivos para a livre circulação de uma sociedade inteira. Como partilhante dessa mesma sociedade não posso ficar indiferente, muito menos inerte ao fenómeno pós-eleitoral.

         Eis-me, pois, aqui para perscrutar as poderosas motivações (cada eleitor tem o seu poder autónomo) das votações. E, como já tudo passou, o tempo indicativo presente – ‘Por que votas… Por quem votas? – transforma-se no pretérito passado: “Por que votaste?... Por quem votaste?”.

         O assunto daria trama para um ‘fac-símile’ dos Diálogos de Platão ou os Apólogos Dialogais  e Relógios Falantes de D. Francisco Manuel de Melo, ou qualquer outro discurso directo entre votantes. Certo, mas tudo quanto dissessem os personagens em cena sintetizar-se-ia em dois polos distintos, duas motivações opostas, dois vectores conflituantes, que passo a identificar:

         De um lado, o votante comum (comum porque ele pertence a todas as classes sociais) ou cidadão-caracol da couve fechada, que só vê o seu mini-espaço e faz dele o epicentro do mundo: o seu chão, o seu beco, o seu tubo de água, o terreiro do seu casebre. E o seu voto, aquele GPS social que atinge toda a comunidade,, não tem mais tamanho que a torneira, o terreiro, a vereda estreita. E é só por isso, que se desloca à assembleia de voto.

Do outro lado, o cidadão do mundo (seja a cidade, o município, a aldeia) aquele cujo voto tem a dimensão de um enorme periscópio e que lhe faz ver o todo da cidade, do município, da aldeia, a tal visão holística que tanta falta faz aos programadores sócio-paisagísticos.

Enquanto para o primeiro conta apenas a visão egoísta, oportunista, auto-utilitária do voto, para o segundo outros valores mais largos e mais altos se levantam, torna-se altruísta, expansivo e generoso. Para o primeiro, o cidadão-caracol, “não votei no partido X, porque não me acrescentaram o beco ou a vereda. Eram só dois metros”. Para o segundo, “não me deram nada, mas votei nele, porque o presidente deu prioridade a um problema que era de todos nós”.

Enquanto continuar a medrar no terro das nossas sociedades o joio da raça-cidadão caracol, teremos sempre titulares medíocres, egoístas, oportunistas a dirigir o povo, sabendo-se que ‘um fraco rei faz fraca a forte gente’, já vaticinara Luis Vaz de Camões, desde há quinhentos anos.  

O calculista votante-caracol das chamadas ‘élites’ quer mais, muito mais: o emprego ‘pró-menino e prá-menina’, o apoio e a benesse para a firma, o cheque-em-branco polivalente nas horas. Quanta podridão me enoja em certas maiorias esmagadoras!!!

   Parafraseando o velho ditado, ajuntarei:

Diz-me por que votas e eu dir-te-ei quem és”!

           

29.Set.21

         Martins Júnior

1 comentário:

  1. Parabéns.....Bem dito, e sempre bem escrito pelo Mestre da Palavra..... Mas, qual seria a solução? (mostrou as falhas, agora mostre o caminho!)

    ResponderEliminar