Em
cada ano, chegado o mês de Julho, a Descoberta renasce e toma o encomiástico sobrenome de Redescoberta. É assim em Machico.
E é-o na Madeira. Porque nisso deve consistir o corpo de toda a efeméride evocativa
dos primórdios do ‘Achamento’. E mais que o corpo, é o seu espírito que deve
enformar as comemorações do nascimento da Ilha para a História.
Já
ontem referi as encenações proclamatórias da Autonomia e observei a liturgia
enfaixada com que os titulares e os títeres do poder pretendem engalanar-se aos
olhos do vulgo, sem que para isso tenham factualmente contribuído.
Muitas
e sonoras parangonas, frases feitas, estados de alma sôfrega de mais Autonomia,
clamorosos panegíricos aos 600 anos! Faltou apenas o essencial – o essencial apenas – faltou ali Fernando Pessoa a
apostrofar os patrioteiros regionais com o mesmo tom com que se dirigiu ao “Mar
Salgado’… “VALEU A PENA”?!
Viro
as costas aos vernizes do “teatro das operações” oficiais, incandescentes da
hipocrisia encobridora de interesses corporativos, partidários, jogos assolapados
do poder político-económico --- e volto-me para Machico, o Pórtico das
Descobertas, e pergunto, olhos nos olhos, aos meus conterrâneos e a mim
próprio: Valeu a pena terem aqui chegado Tristão e Zargo?... Que diriam se voltassem
ao berço que eles deitaram neste solo para criar e fazer crescer 598 anos de
vidas, sonhos e ambições?
Deixo
para o julgamento da História as décadas e os séculos que não foram nossos e
cravo os olhos na majestade deste vale: “Que fizemos deste mar, deste céu e
desta terra que nos deram para cuidar como inquilinos e possuidores?...
Sente-se cada um de nós senhorio e colono, benfeitor e beneficiário, dono provisório
e utente inteiro desta nesga de húmus vivo, que sendo nosso deixará de sê-lo
mais tarde?... Que remos e velas temos içado para fazer deste ecológico berço
de outrora uma baía de humanismo e esperança no futuro?... Que passos temos dado
para alcançar o cume destas montanhas que nos chamam a amar o sonho e o ideal
de um Povo Melhor?...
“TUDO
VALE A PENA SE A ALMA NÃO É PEQUENA”. Respondeu Fernando Pessoa. Mas queremos
mais: Que o corpo acompanhe a alma! Mais que um fugaz estado de alma, Machico
quer plasmar no concreto quotidiano o plano produtivo que animou o Visionário
Infante no promontório de Sagres que tornou a Ilha numa sementeira fértil e
promissora para a economia, para a arte e para a ciência dos oceanos.
Esta
é a nossa hora, porque em toda a hora soa aos nossos ouvidos a sábia palavra: “Não
perguntes o que é que a tua Pátria pode fazer por ti. Pergunta, antes, o que é que tu podes fazer pela tua Pátria”?
À
interpelação de Fernando Pessoa, Machico responde:
Por nós, aqui e agora VALEU
A PENA!
03.Jul.17
Martins Júnior
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