quinta-feira, 19 de novembro de 2020

CABO DELGADO – DAS NOSSAS (E MINHAS!) TORMENTAS

                                                             


As palavras caem-me ao chão

Como as armas das mãos dos condenados a matar

Como os corpos às postas sepultos sem caixão

Caem-me os braços o tronco o coração

 

Só dos olhos não me larga

Aquela berliet medonha carga

De cunhetes munições petardos

Onde inscreveram o meu nome

Também o meu nome

 

A um povo indefeso morto de fome

Em vez de pão

Levámos-lhe um natal português

Menino branco na ponta da G3

 

Hoje  as mesma balas as catanas

Pintadas de Mafoma e de Corão

E um mesmo povo mártir carne pra canhão

 

Cabo

Delgado Cabo

Vala de Deus paiol do diabo

Onde deixei os cajueiros e as virgens florestas

A mandioca em cima do braseiro

E as gentes correndo em debandada

Delgado arbusto de esperança

Embondeiro de saudade e de vergonha

Pedra dura onde a cabeça não descansa

E do terror antigo ainda cora e toda a noite  sonha

 

Hoje as palavras caem-me ao chão…

 

19.Nov.20

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