quinta-feira, 21 de outubro de 2021

ACORDES E VARIAÇÕES SOBRE “MY WAY” DE FRANK SINATRA

                                                                           


Entendam quantos por aqui passarem: o que hoje deixo escrito não tem nada a ver com o Cântico Negro – ‘Não sei por onde vou, Sei que não vou por aí’ – do grande José Régio, nem tão-pouco com as arremetidas fanáticas dos iconoclastas da Reforma Luterana. Será antes um eco longínquo, mas suficientemente audível, da mensagem de Paul Anka na canção que Frank Sinatra imortalizou – My Way – desde 1969, bafejada pela vaga libertadora do Maio/68.

         Faço-o, hoje, porque - mais que pelo Sonho – pelo Espectáculo é que Vamos. Displicentemente o digo, muito embora respeitando o teor da canção que qualquer indivíduo e qualquer instituição têm o direito de cantá-la e chamar sua: This is My Way. Todos podem repeti-la.

         O “Espectáculo” a que me refiro e que tem ocupado as redes de informação bifurca-se em dois palcos distintos: em Lisboa, Portugal soberano, através dos seus principais titulares, colocou no trono do Panteão um Homem comum que salvou cerca de 30.000 vidas humanas e, por isso, foi imolado no cadafalso do fascismo luso. Na Madeira, idêntica homenagem é prestada, cinco séculos volvidos, a um canonizado Taumaturgo, de nome Tiago, que terá erradicado o vírus da peste no Funchal e, daí, ter sido tirado ‘às sortes’ em 1521 para patrono da cidade, embora, como judiciosamente assinalou o escritor Padre José Luís Rodrigues na sua página, a peste tenha persistido durante  anos posteriores.

         Tem a Instituição Eclesiástica o direito de opção protocolar e de proclamar o seu My Way, ostentando garbosamente por toda a Madeira e Porto Santo o símbolo escultórico imaginário do referido Taumaturgo sorteado, com banda musical altifalante e até com privilégio de “pernoita” em certas estações paroquiais, assim reza o Programa.

         No entanto, há os sinais, porque toda a Ideia e todo o Espectáculo manifestam-se e projectam-se através de sinais: uns, mais concretos e realistas, digamos que ‘ao vivo’; outros, os que sugerem e sintetizam a mensagem; e ainda os últimos, os que dispensam a fotocópia empírica e quase desaparecem para dar lugar ao ‘dentro mais dentro’ da Ideia e à essência da Pessoa.

         No âmbito desta plenividência, há os Sinais dos Tempos. E constata-se que cada Tempo tem o seu tempo e os seus Sinais, tudo dependendo dos utentes espectadores, que historicamente provam este axioma, datado e selado por milénios de experiência: Quanto mais atrasado é um povo, mais  precisa ele de sinais concretos, empíricos e palpáveis, em ‘carne viva’, se possível. Já o próprio Mestre da Galileia censurava por isso os seus conterrâneos. Pelo contrário, quanto mais evoluída é uma comunidade, menos se embaraça com o objecto fac-símile e prefere a transparência invisível (a antítese é propositada) do conteúdo. Esta é a realidade, queiramos que não queiramos!

         E é este o Nosso Tempo. É este o seu Sinal: cada vez mais tendem a desaparecer as montanhas de papel burocrático, os estafetas ambulantes, os correios epistolares, para dar lugar à síntese tecnológica, à comunicação em rede, até no domínio  das transferências financeiras, o próprio bitcoin, numa palavra, a Era do Digital. No limite, direi em sintaxe cósmica, cada vez há menos corpo e mais Espírito. Não foi por uma lapso de memória nem por  veleidade poética que o mesmo Líder Nazareno afirmou às multidões: “A carne não serve de nada. O Espírito é dá Vida. As Minhas palavras são Espírito e Vida”!

         Reiterando o respeito pelas opções de todo o indivíduo e de cada instituição, a minha mensagem, hoje, é tão simples a filosofia popular: Se “quem semeia ventos colhe tempestades”, quem espalha relíquias colhe epitáfios, quem cultiva carne espere por esqueletos ao fim da linha. E quem semeia Espírito ganha Eternidade!

Aristides Sousa Mendes não tem no Panteão nem um pó de cinza sua. Mas ele será eterno, enquanto o Mundo for Mundo!

 

21.Out.21

Martins Júnior  

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