sábado, 23 de outubro de 2021

…O CEGO QUE NOS ABRE OS OLHOS…

                                                                                    


 

Sempre o LIVRO!

Cada galáxia tem o seu. E cada segmento ou grupo ou cavaleiro andante também o têm, quer se chame Tora, Bíblia, Corão, manual, regimento ou bússola GPS. O meu LIVRO de hoje – companhia inseparável de princípio e/ou fim de semana – reduz-se a uma  incógnita que, se não toca a todos, mexe decididamente com o genoma de milhões de crentes e incrédulos de todos os tempos. E quem no-la propõe é um mendigo, sem abrigo e, para cúmulo, cego de nascença.

“O cego ouviu dizer que o Mestre, Filho de David, passava ali junto do muro onde costumava sentar-se. Atormentava-o o drama da cegueira e, maior que o desgosto, era o desejo incontido de poder ver o mundo e as pessoas à sua volta. Começou a gritar por socorro. Mandaram-no  calar-se, mas ele redobrava o volume e o tom da voz em desespero.. Depois, quando o Mestre o chama, dá um salto, sem saber onde cair. Ajeitaram-no diante do Nazareno. E naquela mesma hora, abriram-se de par em par as persianas dos seus olhos e o cego saltou logo, mas de alegria eufórica, triunfante. Perante o assombro da multidão rendida ao Messias, autor do portento, é o próprio Mestre que desvenda o enigma e diz, alto e bom som, para o mendigo: “Foi a tua fé que te salvou”. (Marcos, 10).

Da análise da narrativa, da resposta personalizada com  que o Mestre esclareceu a multidão,  resulta  que o autor originário desta surpreendente terapia foi o seu próprio beneficiário. ‘Não fui eu que fiz o milagre, foste tu que o fizeste’. “Foi a tua fé”. ‘Se não fosses tu, nada disto aconteceria! – é o que se depreende do texto.

E a incógnita aí está: Que é isso de Fé – que força é essa, capaz  de dar vista a um cego,  reanimar um paralítico, transportar montanhas?

Mas a dinâmica do debate, pergunta/resposta do texto citado, não se esgota neste episódio único. Percorre toda a actividade taumatúrgica do Mestre. É algo de perturbador e, ao mesmo tempo, fascinante verificar que no epílogo dos “milagres”, o Mestre remata sempre com o mesmo código interpretativo: Foi a tua Fé que te salvou. Por outras palavras: “O milagre foste tu que o fizeste”.

Fico-me por aqui. Chamem os biblistas, os psicanalistas, os hermeneutas e todos quantos interpretam os livros e decifram os enigmas. Peçam-lhes explicação científica e psicológica, suficiente ou mesmo aproximada, para tão ‘enviezada’ definição que o Mestre dá dos seus feitos extraordinários em favor dos mais carenciados de corpo e de espírito. Até no perdão à Madalena pecadora, disse-o claramente: “Foi a tua Fé”.

Que Fé é esta?

Para quem ler atentamente o texto de Marcos, 10 talvez descubra um postigo de  visibilidade que o cego hoje nos traz.

 

23.Out.21

Martins Júnior

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