sexta-feira, 29 de outubro de 2021

“INQUIETAÇÃO, INQUIETAÇÃO“ !!! MELHOR QUE ‘XANAX’…RESPIRAÇÃO!

 

                                                                 


         Está na moda chamar poetas e trovadores à língua dos políticos para emoldurarem em arco-bandeira a prosa repetida do seu verbo mobilizador. Jorge Palma tem sido o preferido da nossa praça, desfraldando aos quatro ventos em fúria: “Enquanto houver estrada pra andar, a gente vai continuar, Enquanto houver vento e mar”.

         Não fujo ao ritmo e, ao acordar com os tímpanos martelados com tantas e quantas rajadas de prego – a mais notória, aqui perto, a chumbada canhota do Orçamento de Estado em abraço contra-natura com a dextra inconciliável do Parlamento – a que se juntam as guerras fratricidas das mesmas famílias, do PSD,  na São Caetano, e do CDS, no Largo do Caldas, enfim, um caldo escaldante que nos deixa em torno de parafuso imparável.

         Como quem entra no forno das ressonâncias hospitalares, parece que um camião furibunda passa a toda a hora em cima das nossas cabeças: é a Espanha na demanda das nascentes fluviais, á Polónia em refrega forense contra a União Europeia, é a França em batalha naval com as traineiras do Reino Unido, é a China comprimida com a problemática dos combustíveis, as alterações climatéricas, os piratas elevados aos altares dos paraísos fiscais,as pandemias galgando invernos e vidas, já sem falar na obesa Coreia do Norte e os mísseis de longo alcance.  Quem é que atura viver um instante mais neste crematório global a que fomos atirados desde que nascemos?

         “Inquietação, Inquietação! – é o que mais (ou menos…) define este tempo. Razão tinha  karen horney   quando observou e escreveu “APersonalidade neurótica do nosso tempo”. E mais lógica e sensibilidade reclamava o saudoso  e persuasivo  cantautor José Mário Branco, ao compor tão expressiva balada de protesto.

         Que fazer?... Há quem se alheie por completo de todos os noticiários, há quem fuja para o deserto do seu quarto, curtindo dores e moendo fantasmas, há quem adormeça nos estupefacientes de leituras místicas à mistura com devocionismos de cordel. E há quem vá à farmácia buscar a droga inútil, porque já  a traz de si. Há ainda quem se afogue nas ‘salsas ondas’ do desespero ou no voo sem retorno de uma ponte sobre o rio, seco de água e vazio de esperança.

         Por mim, prefiro recorrer ao laboratório inesgotável dos pulmões  (falo do mecanismo mais íntimo da fisiologia humana) lá onde se opera a maravilhosa fotossíntese do ar que nos envolve: Respirar!

Aconselham os psicólogos e nutricionistas que a respiração pentagonal – cinco vezes ininterruptas, mas serenas – restitui-nos a calma interior e segura o nosso olhar perante a babilónia tresloucada do mundo em que vivemos.

Respira! E depois, se mais não puderes fazer, ‘limpa o teu rosto, perfuma a tua cabeça’ e põe na tua rua, na tua aldeia, na tua cidade – põe mesmo ao rubro e de verdade – aquela canção, amarela de girassol arábico e azul da abóbada que nos cobre: “No meio da escuridão, em vez de amaldiçoares as trevas, acende ao menos uma candeia”!

E respira, respira sempre o ar da liberdade possível – a tua quota de ar livre que nenhum poder te pode tirar!

 

29.Out.21

Martins Júnior    

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