sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

NA APRESENTAÇÃO PÚBLICA DO LIVRO DO PROFESSOR ANDRÉ ESCÓRCIO

                                                                              


A minha primeira saudação para o Prof. André Escórcio tem aquela mesma dimensão com que termina o seu livro: “Um desabafo”.

Pego nesta sua deixa e aqui vai o meu  desabafo:

Prof. André Escórcio, o seu livro deixou-me atordoado, como se uma buldózer esmagasse todo o percurso escolar de um octogenário formatado nos velhos manuais. Mas o que para mim foi uma buldózer, depressa interiorizei que para o universo da propedêutica dita académica o seu livro toma a magnitude de um tsunami que varre inexoravelmente entulhos arvorados em monumentos intocáveis, revolve os subterrâneos da inércia institucional e proclama o advento de uma Nova Era, ou, na expressão dessoutro visionário, Antero de Quental quando desde as inacabadas “Conferências do Casino” proclamou a imperiosa necessidade de “Lançar o arco de uma nova ponte”.

Em que se foi meter o nosso Autor!...

Recorrendo aos sofisticados monstros da mitologia, o seu livro tem a envergadura de um Édipo Rei desafiando o enigma da fatal esfinge. Tem a coragem dos valorosos argonautas lusos derrubando os medos avassaladores dos Adamastores gratuitos que a sociedade foi alimentando.

Em que se foi meter, sublinho!...

Quem ler André Escórcio, ao dobrar a última página, não pode ficar sossegado, a não ser que tenha deixado embotar até ao último pingo o filão da sua sensibilidade. Por isso, esta obra poderia ter por subtítulo o Novo Livro do Desassossego. Porque ele obriga a pensar, a repensar, a interpelar até ao tutano o “porquê” e o “para quê” do paradigma “sempre foi assim”. Ele aguça os neurónios da nossa curiosidade, o motor primeiro do conhecimento científico, estribado não apenas nos abalizados pensadores, filósofos e pedagogos, mas no contacto directo, quase epidérmico, com o real quotidiano dos seus alunos, dos seus netos, dos seus colegas. É o saber erudito em articulação perfeita com o saber telúrico, princípio e fim de todo o método experimental.

Por isso, esta obra tem a marca do verdadeiro espírito renascentista, justaposto ao lado de um dos seus lídimos sequazes Luis António Verney no seu “Verdadeiro Método de Estudar”, precursor das muitas reformas do ensino em Portugal.

Que mais direi desta sua ousadia, Prof. André Escórcio?...

Mutatis mutandis – e só o contradiz quem não descer à profundeza do seu pensamento – o contributo deste livro, nos tempos que correm marcados ainda por réstias de uma mentalidade medievalista – o seu contributo assemelha-se ao de um Galileu Galilei que pôs em causa o dogma sacro-profano da interacção entre o Sol e a Terra. Parafraseando uma canção muito em voga, direi que o Professor demonstra que a “Escola anda ao contrário… e os rios nascem no mar”.  Se o queimarem por isso, renascerá das próprias cinzas…

Posto isto, deveria calar-me e dar oportunidade a “quem vier por bem” para mergulhar no vasto oceano destas páginas onde descobrirá a  almejada “Ilha do Outro Mundo”, de que nos fala Fernando Pessoa, a qual eu denomino de “Educação-Escola”. Atónitos, descobriremos que a Escola-Educação – mais do que a propalada Economia – ocupa o Primado da Vida. “Dela advêm todos os bens”, diz o milenar Livro da Sabedoria. E, acrescento, provêm todos os males, se dela nos afastarmos.

Benvindos, pois, àquela Ilha que ostenta por título “A ESCOLA É UMA SECA”.

 

21.Jan.22

Martins Júnior

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