segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

VOTOS REDOOONDOOOS !!!

                                                                              


         Se alguém gravou a euforia do Fim-de-Ano 2000/2001, pode ‘puxar para trás’ e achar-se-á na palavrosa rotunda onde se espadanam os votos de Feliz Ano 2021, Ano Novo Vida Nova, Virar de Página e Mudar de Menu, enfim, um dicionário de sinónimos derivados da 18ª letra do alfabeto: renascer, recriar, reinventar, reformular – tudo, menos repetir. E o mais sintomático é que, se puxar ainda mais atrás, 2019/2020, a surpresa atinge um clímax de paranóia colectiva accionada pelos estalos e pela embriaguez das lantejoulas pirotécnicas, porque o arraial do Fim-de-Ano era então para uma década: Viva a Nova Década, Um Novo País para Uma Nova Década, Alvíssaras Vamos Virar a Década.

            E agora, Ano da Graça de 2022, cá andamos nós, robots autómatos, repetindo de olhos fechados a mesma litania, como que subjugados ao medo supersticioso de que alguma desgraça nos caia em cima da cabeça, se não balbuciarmos o assintomático FELIZ ANO NOVO !!!... Nem nos damos conta da ponta de ‘Alzheimer’ que nos acomete nesta transição e que nos varre da memória a real sucessão dos então, futuros (hoje, passados) 730 felizardos dias que tanto almejámos.

         Ora, socorrendo-me de Fernando Tordo, o Futuro foi aquilo que se viu… esse futuro que nos deu de presente o presente que se tem:  primeiro e sem sair da pele que nos veste, o riso mefistofélico desse invisível rosto redondo, camaleónico que, derrotado como delta, reaparece vitorioso como ómicron,  deixando sentados no banco os investigadores, os analistas, os médicos, os políticos, os programadores, os turistas, os chef’s e as cartomantes. De que serviu o voto de Março/20: no Natal, vai ficar tudo bem  ou, frustado o 20, Em 21, o Natal será outro e melhor o  Janeiro/22 ???...

         Tudo votos redondos, RED000ND000S. atribuindo à definição a exacta grafia algébrica: zero!

         E se formos à barra do planeta, onde é que param as Felicidades Futuras de 2020 e 2021?… Alguém, decerto, dirá que hoje não me recomendo, mas não sou eu que procuro as dissonâncias ou as falências dos votos, porque são elas que todos os dias batem ao écran dos nossos televisores: as mesmas ameaças/atentados do mais forte sobre o mais fraco, Israel destruindo os palestinianos; a China expandindo ao mundo a supremacia económica e o férreo poder de matar jornais em Hong-Kong com a mesma indiferença com que esmagou mortalmente centenas de jovens em Tiananmen; o cancro provocatório, aninhado entre a Rússia e a Ucrânia, eventual epicentro de um vulcão de ebulição europeia e americana. Fiquemo-nos por aqui.

         E ao ficar por aqui, no nosso país, chegamos ao (in)sucesso das venturas desejadas (só nos restou um(a), de trambolhado palavreado) ao ponto de assistirmos à morte antecipada, por traição, de um projecto governamental feito para durar o dobro do tempo. ‘Juntaram-se os dois à esquina’ (a extrema esquerda e a extrema direita)  para acrescentar ao vírus pandémico outra virose política, um absurdo somado a outro absurdo, tão desadequados à época. Até no futebol, os votos de um Benfica “de arrasar” acabaram num Benfica arrasado e, enquanto um Jesus nascia em Belém, outro Jesus ‘morria’ em Portugal.

         Ironia das ironias, se não fora o trágico do caso, vem do Colorado longínquo: aquele fogo devastador que superou todas as previsões meteorológicas, afinal, bastou uma nuvem transformada em nevão para resolver aquilo que todas as corporações de bombeiros não conseguiram. Oh, as fragilidades da nossa ‘omnipotência’, onde quebram inanes os nossos mais deslumbrantes votos gratuitos!

Votos REDOOONDOOOS com que nos iludimos alegremente… Não menos flácidos e rotundos os do nosso Presidente da República, tão elásticos e úberes que todos os partidos, de um a outro extremo, vão lá tirar a sua gota de leite político-partidário.

         Resta-nos apenas – e isso é mais que toda a esquizofrenia dos Votos Redondos – resta-nos a força de vontade, o esforço porfiado de cada um de nós para cumprir o que de há muito venho repetindo: “Não peças nem perguntes ao Ano Novo o que tem reservado para ti. Antes, pergunta-te a ti próprio o que tens para fazer de 2022 um Ano estruturalmente Novo, Venturoso e Feliz para ti e para o Mundo”!

         Os que se estonteiam com as passas da Meia-Noite bastam-lhes os oito minutos de arraial ‘à americana de Trump’, um milhão de euros  pagos por um povo que carrega aos ombros a condição do “mais elevado risco de pobreza deste país”…       

 

         03.Jan.22

         Martins Júnior

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