Não
passando de um episódico apontamento de crónica quotidiana, ultrapassa-a, porém,
a muitas léguas e ascende à tribuna áurea dos valorosos da história o momento
que pretendo transplantar para este parque público dos bloguistas senso-consensuais.
O
‘caso’ passou-se anteontem na Assembleia da República, auditório Doutor Almeida
Santos. Por iniciativa original do Município da Sertã, foi apresentada a nova
edição do livro “REPENSAR PORTUGAL”, da autoria do pensador e mestre de várias
gerações, Padre Manuel Antunes, com vasta obra publicada, antes e após “25 de Abril de 1974”.
A
mesma clarividência, o mesmo vigor crítico de antes e depois da Revolução dos Cravos,
a mesma audácia interpretativa dos fenómenos-sinais dos tempos em Portugal e no
mundo – todo esse invulgar acervo de
cultura, pensamento e acção foi brilhante e calorosamente evocado pelo distinto
elenco de oradores, todos estreitamente relacionados com o Padre Manuel
Antunes. Foi um prazer de eleição ouvir a mensagem de Guilherme d’Oliveira Martins
e a alocução do nosso conterrâneo José Eduardo Franco, autores do Estudo Introdutório.
A título exemplar, deixo aqui um breve
excerto da obra publicada em 1979, página eloquente de análise e, ao mesmo
tempo, de exigência patriótica:
Dentro
da vocação geral de todos os povos à universalidade, o Povo português constitui
uma grande, uma clamorosa excepção. Basta
ouvir homens oriundos de países por onde o Povo português escassamente passou:
o Japão, a Indónesia, a Malásia, para só falar dos mais longínquos.
É
esse sentido da universalidade que o Povo português necessita alargar e
aprofundar, transpondo-o parcialmente a outro registo, agora que “o império”
acabou, agora que, territorialmente, ficámos muito mais reduzidos, agora que,
culturalmente, podemos reflectir melhor naquilo que fomos e naquilo que somos.
Um
país, na verdade, culto poderá ser nobre mas nunca miserável. Um país, na verdade,
culto e com cerca de um milénio de história vivida atrás de si – e que história!
– só demitindo-se por completo e por completo desistindo de existir como um
animal esgotado que se deita para morrer é que deixará de contar no concerto
dos povos. Antes, não.
Mais
do que uma reforma – mais uma! – mais do que uma revolução – mais uma! – aquilo
de que o País tem maior carência e maior necessidade é de uma renascença!
………………………………………………….
Uma
palavra de apreço ao Município da Sertã. Além do inesperado e amistoso encontro
com um antigo autarca-presidente (fôramos colegas nas lides dos congressos da
Associação Nacional dos Municípios Portugueses) notabilizou-se o actual responsável,
Carlos Miranda, com um discurso proclamatório, a que adicionou a recente
deliberação da Câmara Municipal: Enviar um exemplar do REPENSAR PORTUGAL
a todos os presidentes de Câmara de
Portugal e a todos os nossos governantes!
A
decisão – original e corajosa – brilha como dois potentes luminares. Primeiro,
porque presta homenagem a um dos filhos ilustres da terra natal, já falecido, gesto
cívico-cultural que nem sempre abunda em meios pequenos e quase sempre com
indisfarçáveis interesses partidários. Segundo, porque cumpre integralmente o
desiderato do subtítulo da obra: Um manual de mesa de cabeceira para
políticos.
Oxalá
o REPENSAR PORTUGAL volte, aqui e agora, a realizar o sonho do poeta, o
de CUMPRIR PORTUGAL!!! – a almejada “Renascença” de Manuel Antunes.
05.Nov,23
Martins
Júnior
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