Conforme
o decidido nesta página de convívio total, trago hoje mais um lampejo de
positividade e optimismo, que a Academia de Oslo deu a conhecer ao mundo, ontem
e hoje: a atribuição do Nobel de Literatura à escritora sul-coreana Han Kang e
o Nobel da Paz à colectividade japonesa Nohan Idankyo.
“Do
fim do mundo” – foi a expressão timbrada pelo pacifista Jorge Bergoglio, hoje
Papa Francisco, quando este, em 2013, foi
votado para Supremo Pontífice da Igreja
Católica e Chefe do Estado do Vaticano: “Foram buscar-me ao fim do mundo”.
Pois, de mais longe, a extremo-nórdica europeia, a Suécia, foi buscar o sol ao
extremo oriente asiático: Japão e Coreia do Sul.
Não
é de um olhar superficial, anual e rotineiro, a outorga destes dois Prémio Nobel/2024.
Na
Literatura exalta-se a Mulher criativa e assertiva, ela é a 18ª Mulher, entre
os 117 laureados, todos homens, desde a atribuição deste troféu. Acresce o
espírito universalista do júri que ultrapassou as ‘vitalícias’ fronteiras dos
hegemónicos monopólios autocognominados de culturais e navegou até aos mares do Pacífico
para daí extrair e fazer brilhar as pérolas escondidas nas recônditas pregas do
tempo e do lugar. Por fim, ressalta com redobrado vigor a activista e
denunciante da ditadura sul-coreana que, em 1980, mandou carregar barbaramente
sobre os estudantes contestatários do regime. Os livros de Han Kang, traduzidos
nas edições ‘D. Quixote’ – Atos Humanos, Vegetariana, entre outros – revelam
o talento de quem sabe transmitir uma mensagem libertadora numa linguagem
poética, contagiante e persuasiva.
A
Paz – o pão que a humanidade mais anseia porque
o não tem – onde foi buscá-la o júri do norte europeu? Não aos
parlamentos ditos pacifistas, não aos areópagos das organizações mundiais nem
aos arcanos dos templos de votos pios. Foi mais longe e mais fundo: aos
cemitérios longínquos dos territórios nipónicos, onde estão sepultados,
mirrados, pulverizados os cadáveres de milhares de seres humanos, vítimas da
bomba atómica que os americanos fizeram explodir em 1945. Precisamente à ‘Nahon
Hidankyo’ - uma organização constituída em 1956 pelas vítimas sobreviventes da
criminosa tragédia de Nagazaky e Hiroshima.
Mais
que qualquer discurso, tratado político ou proclamação ou oração pontifícia,
falará mais alto este pregão silencioso, mas
omnissonante, do Prémio Nobel, qual glorioso Grito do Ipiranga global, a
avisar esses fantasmas russo-norcoreano, iraniano e hipotéticos conspiradores
do nuclear que, perante a barbárie de Nagazaky e Hiroshima (some-se-lhes
Chernobil) não passam de loucos à solta num mundo que não é deles.
Parabéns
à Academia Sueca pelo testemunho de coragem, de humanismo, dado aos inquilinos
efémeros do Planeta.
Apraz-me,
com sentida emoção, reproduzir agora em 2024 a canção que em 1986 os jovens da
Ribeira Seca cantaram e coreografaram e, mais tarde, gravaram no CD: Machico,
Terra de Abril”:
No
chão onde houver baionetas,
Sombra
ou sinal de canhão
Vamos
plantar violetas
Cravos
rosas em botão
Nagazaky,
Hiroshima,
Chernobil
e nuclear
Sempre
a rebate e acima
Vamos
os sinos tocar
11.Out.24
Martins Júnior
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