Estranha
contradição: “7” na numerologia bíblica
é símbolo de perfeição, acabamento, cúpula do ser – os Sete dias da Criação do
mundo, os Sete candelabros do Templo de Jerusalém. Nos tempos que correm, o
SETE entre SETEmbro e Outubro fala-nos de destruição, cheira a sangue e prenuncia
morte.
Nem me demoro na evidência bárbara que
nos entra em casa a toda a hora: o massacre de 1.200 vítimas do terrorismo do
‘Hamas’ e os 42.000 assassinatos perpetrados pelo bombismo de ‘Israel’. Um
avatar sangrento, cujos autores terão fim sem verem o fim do monstro que fabricaram!
Em dia oportuno, prefiro recordar o 7
de Setembro de 1972, quando senti ‘ao vivo’ o patriotismo genuíno do povo
brasileiro na comemoração da sua independência em 1822. Estando eu em Olinda e
Recife, assisti a um espectáculo estruturalmente popular nas instalações e jardins do Paço Episcopal, entregue à população
pelo Arcebispo Helder da Câmara, o tal,
apelidado de “bispo vermelho, comunista”, defensor acérrimo da dignidade do ser
humano em todas as latitudes e de quem ouvi este corajoso pregão, em tempo da
ditadura militar e perante a grande multidão que ali estava: “Dizem os
ditadores que eu não quero o progresso do Brasil. Falso! Eu quero o progresso
do meu país, mas com os brasileiros, pelos brasileiros e para os brasileiros”. Uma
Igreja, uma Religião pelo Povo e contra a ditadura.
E, ainda no Brasil, trago à página o
ocorrido em São Paulo, mais precisamente no triângulo ABC (Santo André, São Bernardo e
São Caetano), com maior incidência em São Bernardo do Campo, onde as eleições
para a prefeitura dominam ontem e hoje os seus 810.000 habitantes. Cidade
metalúrgica por excelência, “terra sagrada da classe operária”, como lhe chamou
o presidente da maior central sindical do Brasil, Moisés Selerges, reconhecendo
ele próprio o declínio da esquerda, uma bizarra conjuntura que o jornalista Meyerfeld,
na edição de Le Monde de anteontem, resume nestes termos: “Durante cinco
décadas consecutivas Lula e São Bernardo do Campo formavam um só. E na segunda
volta das eleições presidenciais de 2018, foram 59,57% os sãobernardenses que
votaram Jair Bolsonaro”.
Perante
tão anómala situação, uma outra lhe dá o tom: o candidato indicado por
Lula não é um cidadão afecto à esquerda e ao lulismo, mas um pastor evangélico,
Luiz Fernando Teixeira, empresário de sucesso, fotografado entre fiéis da sua
igreja e outros pastores ultraconservadores. Seu lema é “pela vida e pela
família”. E proclama o seu ideário: “Leio a Bíblia todos os dias. A prioridade
da minha vida é Cristo e depois o meu próximo”. Está à vista de todo o mundo uma inquietante
inversão de metodologias sociológicas
que se disfarçam numa tal mistela de opções, que o próprio Moisés Selerges
comenta, não sem uma nesga de desilusão: “Os pobres acreditam e recorrem mais
ao pastor do que ao delegado sindical”.
Por seu lado, nos Estados Unidos da
América, Luís Cabrera, pastor evangélico de uma considerável comunidade latina
( de antigos imigrantes) e fanático apoiante de Ronald Trump, declara
abertamente que é dever da Igreja fazer campanha pelo ex-presidente. E fá-lo
sem apelo nem agravo – e sem um pingo de pudor – nas homilias do ritual
litúrgico a que preside: “Deus está a espera do voto dos eleitores. E não pode
ser outro”.
Enigmática, invertebrada e camaleónica
religião que tanto dá para canonizar a vítima e o assassino, erguendo
altar-cadafalso onde ao mesmo tempo se adora Deus e o Diabo! Insuportável deturpação dos valores religiosos
e deplorável inversão da estratégia libertadora da acção que ao homem – e só a
ele – é devida e exigida.
Dia “7”, da Senhora do Rosário. Em
Roma, o Papa Francisco bem se esforça por chamar a Senhora para acabar a guerra
na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Podem esperar sentados, porque a casa de Maria,
segundo a lenda feita história, já não está lá. Foi transportada pelos anjos
para o Loreto de Itália.
Faz
agora um mês, também no dia “7”, que outros “cinco maléficos magníficos”, os do
crime organizado, evadiram-se da cadeia de … Vale dos Judeus. Os judeus de
Israel, os palestinianos do Hamas, os Lulas e Bolsonaros, os evangélicos da
América invocam o seu deus, será o mesmo? O Papa Francisco apela à Senhora do
Rosário. E a que deus ou a que deusa
terão prometido vela os celerados para saltar os muros de Vale de Judeus?...
Até quando viveremos numa cegueira de
fabrico próprio e, por isso, incurável ?!
Quando aprenderemos a lição de um
Profeta do século XX, Hélder da Câmara ?!
07.Out.24
Martins Júnior
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