domingo, 20 de outubro de 2024

UMA SEMANA DE SEIS DIAS PARA UMA POBREZA DE MILÉNIOS !!!

                                                                           


 

          Foi uma semana de seis dias para albergar uma caterva interminável de milénios, os  vencidos e os vincendos: do passado, do presente e do futuro. Trazem na fronte esquálida e no traje andrajoso a marca da sua indisfarçável  identidade: os pobres. Em cena mais restrita esteve a Rede Europeia Anti-Pobreza, mas na rede vieram todos os guetos, cantos e recantos de todo o mundo, com maior espanto os que vivem connosco, à nossa beira, dentro e fora de cada um de nós.

                     Habituados e placidamente ancorados ao cais da nossa comunicação social - dominada pela minoria governante que se ufana de representar a absoluta maioria dos governados – ficamos em sobressalto quando as estatísticas nos vêm informar (e sacudir!) que as Pérolas Atlânticas, Açores e Madeira, vão nuas, despromovidas e, em vez dos propagandeados anúncios   de prostituta fina (como lhe chamou um dia o seu autocognominado ‘dono’ quase vitalício) afinal andamos nós, madeirenses, com 20.000 pobres às costas, todos os dias. E por ficarem nas nossas costas nem damos por eles ou nem sentimos o peso que carregamos.

                     Da avalanche noticiosa quotidiana, o som e o tom que nos chegam é o de que somos a nota máxima das Região Insulares turísticas  do mundo, a melhor rede cibernética dos media, a maior cobertura eléctrica, a mais rica  em termos aquíferos, o melhor clima, a mais vasta Laurissilva, a mais avançada assistência médica, o maior porto de  cruzeiros, o mais ‘genuíno’ carnaval carioca, a mais excêntrica Festa da Flor e – cereja cruzada em cima do bolo laranja-azul cerúleo – o melhor futebolista do planeta! Em tudo e arredores, somos os maiores e os melhores. E, para acabar com qualquer ruído adverso, a banda arrasa-o, ‘com brio e independência’, rufando até à surdez: A Economia cresce!

                     É aqui que entra - e remexe o lixo do palácio publicitário ilhéu – a denúncia feita em plena capital madeirense pelo presidente nacional da Rede Europeia Anti-Pobreza, Monsenhor Agostinho Cesário Jardim Moreira: “Apregoam que o crescimento económico está em alta, mas esse crescimento não chega às pessoas”.

                     Conheço suficientemente a personalidade e o pensamento de Jardim Moreira, a sua frontalidade positiva e construtiva, desde o dia em que o vi discursar em dia emblemático, 10 de Dezembro de 2010, aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos,  no salão nobre da Assembleia da República, perante ministros e deputados, onde sinalizou em termos vigorosos a trajectória e consequente estratégia para a erradicação da pobreza: “Sabendo-se que são necessárias cinco gerações para que uma família estigmatizada pela poreza saia dessa condição, não bastam políticas assistencialistas ou intervenções cirúrgicas sazonais. O que se reclama é uma estratégia de futuro, assente no corpus legislativo que sai desta Casa e rigorosamente aplicado pelo poder executivo”.

                     E aqui na Madeira, nesta Semana Anti-Pobreza, ousou mapear o caminho para a luta dos Direitos Humanos, nesta área social, impantando como indicador primeiro e último a seguinte  predisposição: “É preciso muita humildade para ver a Verdade e agir em conformidade”. Isto dito, no salão nobre da Assembleia Legislativa Regional, face a face de Presidentes, Deputados. Secretários e as chamadas forças vivas da governação.

                     “Não é vergonha ser pobre”, cantou a nossa imortal Amália, E eu acresento: pobre, sem culpa. Mas vergonha maior não há e mais desumana que normalizar assimetrias gritantes, estrangular mil almas para fazer um rico, deixar passar a céu-aberto o fétido esgoto da corrupção, abrir as comportas ao crime organizado nas off-shores em território incógnito.      

                     Pode o Papa enviar cartas a Deus e à sua Justiça, mas os tribunais divinos não têm sucursais neste mundo. Podem as instâncias caritativas matar a fome de um dia ou de uma geração, mas com isso não tiram da pobreza uma única família. É preciso mais. É preciso que os pobres atirem borda-fora as migalhas que caem da mesa dos ricos e, em vez disso, lutar, votar contra os arvorados benfeitores de circunstância. É  preciso ouvir e agir conforme o veredicto de Vinicius de Morais, no Operário Em Construção.

                     É caso para lançar outro pregão: Pobres de Todo o Mundo, UNI-VOS”.

                     Os Impérios também caem. Como caíram o Império Romano, o Império Britânico, o Império Português. E como esperamos ver frito e condenado a pagar aos vassalos o ‘inabalável’ Império dos Salgados Santos Espíritos!

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