quarta-feira, 5 de junho de 2019

NO MESMO TRONCO: “A BELA E O MONSTRO”


                                                                 

               Contra o silêncio chinês – marchar, marchar! Por isso, retomo o “4 de Junho”, junto-me à lágrimas das “Mães de Tiananmen” e ao clamor da consciência universal contra o branqueamento dos tanques assassinos que esmagaram centenas, milhares de cidadãos, a maioria estudantes, na Praça sacrilegamente chamada da “Paz Celestial”. Como foi possível afogar, em 30 anos, o grito desesperado das multidões esvaídas em sangue?... Quem poderá suportar a abominável afronta de um órgão de comunicação da especialidade, ao afirmar sem escrúpulos: “Desde aquele incidente de Tiananmen, a China tornou-se a segunda maior economia do mundo, com  acelerada melhoria dos padrões de vida”!?...
         Estranha condição, a do ser humano. No mesmo tronco, a bela e o monstro! O tronco é o ano de 1989. O monstro é o “4 de Junho”, o massacre, a ditadura, a desumanidade, que o regime quer disfarçar com o satânico verniz de “avanço tecnológico e economia”. Digo ‘satânico’ porque essa é  “a economia que mata” (Francisco Papa).
A Bela é  o “9 de Novembro” do mesmo ano – a Queda do Muro de Berlim. Naquele, o monstro, é a vergonha arvorada em bandeira e despudorado troféu. Nesta, é a vergonha derrubada, reduzida à ínfima espécie que merece.
         Porquê tamanha contradição nascida do mesmo tronco?
          Tudo está na interpretação da “condição humana”, o mesmo que dizer, do direito, da ética, da dignidade. O consultor economista Laurent Malvezon define em breves traços o panorama sócio-ideológico chinês: “Na China, certas élites económicas opõem abertamente a ética à eficácia”. Quer dizer: ética e progresso são incompatíveis, o mais forte tem de sobrepor-se e anular o mais fraco, o capital terá de subjugar o trabalho. O trabalhador feito “carne para canhão” da economia de um país.
         Por outro lado, é decisiva a função das lideranças de um povo, seja a nível nacional, regional ou local. Daí, a diferença fatal entre o ditador Li Peng e a personalidade democrática de Mikail Gorbachev. Num, a opacidade cega dentro do partido, prisioneiro das oligarquias dominantes, no outro a visão do futuro, abrangente e humanista.
         O grande dilema do planeta onde sobrevivemos está nos herdeiros do mesmo tronco comum de 1989. Que, afinal, são os mesmos desde que o homem pisou terra habitável. Numa das trincheiras, arregimentam-se os sequazes do monstro, fauces escancaradas famintas de lucro e sangue, a qualquer preço. Na outra trincheira, posicionam-se os paladinos da justiça e da verdade.  Por toda a parte, digladiam-se os dois campos, quase sempre com armas desiguais. A qual dos dois pertencemos nós, à “Bela” ou ao “monstro”?
         Lembrar, denunciar Tiananmen é impedir que ele se repita.

         05.Ju.19
         Martins Júnior

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