terça-feira, 5 de maio de 2020

PALAVRAS QUE SÃO RIOS E SÃO ASAS


Na minha boca nascem rios gorgolejantes
Babélica harmonia
Da fonte de Hipocrene
Da velha Lácio e do seu seio solene
Que Eneias dócil e o fogoso Ulisses
Arrastaram às  praias lusitanas
Das Tágides camonianas

Zargo e Tristão
Encheram gávea e porão
E as vestais romanas e as musas de Atenas
Chegaram à Baía dos Amores
Puseram na minha boca cânticos de mil cores
Estrelas sonoras de novos mundos e outras eras

Partiram de novo as caravelas
E todos os rios foram com elas

Hoje
Onde houver terra ou mar
Aí alguém há-de cantar
Em cadências de Homero e acordes aos milhões
As rimas de Camões
E os ritmos de Pessoa

E há-de saber o Quinto Império
Que as asas de fogo
Que  inundaram o sul-hemisfério
Antes que voassem ao corpo de Vieira
Ancoraram primeiro em Machico da Madeira

Por aqui passaram as falas migrantes
Dos rios gorgolejantes
De aquém e além

Hoje
A minha língua navega
Como vela desgarrada
Sem porto nem amurada
E sem temer uma só vez
Porque
Nos oceanos do verbo
Todo o Mar é Português

  05.Mai.20 -  Dia Mundial da Língua Portuguesa
 Martins Júnior

1 comentário:

  1. «Nos oceanos do verbo
    Todo o Mar é Português».
    E, agora, cabe a minha vez
    De dizer que Machico é mais que luso,
    Porque daí vieram homens ilustres ou afins
    E ninguém me pense e tome como abuso,
    Mas, bem no alto, vejo a assomar o P. Martins.
    Um abraço amigo.

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