segunda-feira, 21 de junho de 2021

CAPITAL REGIONAL DA CULTURA

                                                                       




 

Seja qual a sua extensão, à Cultura pode bem acoplar-se o velho brocardo latino – Bonum est diffusivum sui – o Bem comunica-se e difunde-se por si próprio, com em sistema de vasos comunicantes.  Todos o sentem e raros são os que não dão pela corrente energética quando ela passa à sua beira. É assim o Bem, é assim a Cultura.

Vem esta breve introdução a propósito de um movimento circular, auto-reprodutivo e  contagiante que em terras de Tristão Vaz cresce de dia para dia. Embora sem preocupações inaugurais e, por vezes, sem a merecida atenção dos agentes da comunicação regional, o certo é que têm sido consistentes os passos dados ao nível da Cultura, nos seus mais diversificados cambiantes. Desde a música à poesia, desde o desporto  ao teatro e à estatuária, desde a inspiração genuinamente popular à construção mais elaborada por parte das entidades locais, é de uma evidência indesmentível a proliferação de iniciativas, monografias, cerâmicas e azulejarias, quer no domínio da literatura infanto-juvenil, quer no âmbito da investigação erudita, de que são paradigma os “Anais do Município da Antiga Vila de Machico” de José António de Almada,  e  "Profeta – Um lobo marinho explorador“, da professora Ana Paula Spínola, recentemente editados pela Câmara Municipal.

Dir-se-ia que o ingrato terreno da pandemia não impediu, pelo contrário, fez emergir em Machico a sua ancestral vocação cultural, na esteira do grande “Camões Pequeno” Francisco Álvares de Nóbrega que, há mais de dois séculos, mesmo algemado nas masmorras do Limoeiro, sob o ferrete da Inquisição, escreveu os melhores sonetos que chegaram aos nossos dias.

Por todo este rasto de luz, o concelho mais oriental da Madeira, com toda a justiça, exceptuando o Funchal, merece o honroso título de “Capital Regional da Cultura”.

A confirmar este roteiro valorativo da terra e do povo, perpassa na opinião púbica local que a Junta de Freguesia de Machico, para assinalar o Dia histórico do Achamento da Ilha, em 2 de Julho, prepara a reedição da obra em epígrafe, “AQUELE ESPESSO NEGRUME – MACHICO E MACHIM NA ALVORADA DA ILHA”.

Para o signatário deste ‘Senso&Consenso’ trata-se de um episódio reconfortante, um misto de juventude e de saudade, ao recordar que um punhado de jovens estudantes respondeu à minha proposta de investigarmos a obra de cronistas, historiadores, poetas e dramaturgos que se debruçaram sobre esse Dia e essa Epopeia do Desembarque de Tristão e Zargo na baía de Machico, em 2 de Julho de 1419.

Enquanto autarca da Junta de Freguesia, mesmo sem quaisquer apoios das entidades hierarquicamente superiores, conseguimos enfeixar num único volume excertos preciosos de Zurara, Francisco Alcoforado, João de Barros, Damião de Gois, Francisco Manuel de Melo, Jerónimo Dias Leite, Gaspar Frutuoso, Manuel Tomás, Henry Major, Medina de Vasconcelos, Álvares de Nóbrega, Reis Gomes.

Corria o ano de 1982. Não obstante os ventos contrários então reinantes, o barco da escrita onde navegava tão prestigiante ‘marinhagem’ (os autores citados) chegou aos herdeiros dos Descobridores.

Parabéns antecipados à Junta de Freguesia de Machico, na pessoa de Alberto Olim e seu prestimoso elenco autárquico,  pela iniciativa que esperamos ver concretizada, pelo culto de uma tradição que vem de longe e, sobretudo, pelo viço jovem de fazer reviver, 40 anos volvidos, a vitalidade criadora de um povo.

Aos jovens de ontem, hoje cidadãos adultos, obreiros de um Machico Novo, o abraço de um reencontro promissor nos horizontes sempre renovados. Transcrevo, com redobrado entusiasmo, a mensagem escrita há quatro décadas:

“Que as páginas de antanho sejam caminhos de hoje! Que as letras de ontem sejam braços de agora, transportados em nosso corpo! Também somos chamados a escrever no chão positivo da vida a História do nosso querido Machico”!

 

21.Jun.21

Martins Júnior     

   

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