segunda-feira, 7 de junho de 2021

“LOUCO, DEMÓNIO… QUE NÃO CONHECE MÃE NEM IRMÃOS” – A HISTÓRIA QUE SE REPETE HÁ DOIS MIL ANOS”!

                                                                                   


        Quem queira argumento apetecível para protagonista  de um filme heróico tome os galões que compõem o título acima e logo terá trama suficiente para um sucesso (também se diz best-seller) de bilheteira. Dessa mesma substância se alimentam os episódios que avolumam a personagem ideal dos ecrãs:

Louco, porque não consegue comer nem dormir, assediado pelos que lhe batem à porta a pedir socorro. Demónio vivo, aos olhos dos carrascos todo-poderosos, porque o bem que faz ultrapassa as raias do humano normal, do política-e-socialmente correcto. Estranho, porque ao egoísmo étnico sobrepõe valores mais altos que a mediania omnívora.

Tudo isto qualquer argumentista pode encontrar no texto que no domingo passado serviu de mote  a milhões de comentários e escrituristas, cada qual à sua maneira. Vem no LIVRO e quem o narra é Marcos, capítulo 3, 20 e sgs.. É bem o retrato fidedigno do Nazareno nos melhores e nos piores entalhes do seu quotidiano.

Quem viu o extraordinário musical Jesus-Christ Superstar, de Andrew Llyd Webber , tocou-lhe  de certeza a azáfama trepidante do Mestre, afogado na multidão de homens e mulheres que o seguiam avidamente, esperando dele não só pão para a boca mas sobretudo alento de espírito para as suas sedes, lenitivo para as suas mágoas. E com tal premência que não havia tempo de comer ou de dormir. A própria família convenceu-se que Ele tinha perdido o controlo de si mesmo, enfim, que estava doido varrido. Depois, os doutores da lei, escribas, fariseus, sumos-sacerdotes orquestraram uma campanha capciosa (hoje diríamos, tipo máfia religiosa) para neutralizar o imenso sucesso do Mestre na cidade e nas aldeias circunvizinhas, injectando no povo o boato de que Ele tinha pactos satânicos com Belzebu e era, absolutamente, o demónio em traje humano. Finalmente, quando a “Mãe e os irmãos”  vieram ao local para retirá-Lo do meio  toda aquela gente que o rodeava mais que a um deus, Ele não conteve a indignação e respondeu como quem subalterniza a própria família biológica – “Afinal, quem é minha Mãe, quem são os meus irmãos?” – para recolocar em lugar cimeiro a família sociológica, a família ideológica, todos aqueles que cultivam os valores da vida e da solidariedade.

Não se esgotou no “Ano 33” a saga heroica do Nazareno. Ela repete-se, Ele está em agonia até ao fim dos tempos, bem  definiu Blaise Pascal. Muitos foram os homens e mulheres que, no seu tempo e lugar, subiram a mesma encosta pedregosa, sem comer nem dormir, atirou-lhes  o Status Quo os nomes mais insultuosos, desde estranhos, loucos e demónios. Só porque agiram como família ideo-sociológica do Líder Jesus de Nazaré.

O que acima trago escrito, faço-o como imperativo de consciência e afecto ao nosso Herói, Padre Mário Tavares Figueira. Fez ontem um ano que o seu corpo se foi. Tudo o mais ficou connosco. O seu espírito, a sua abnegação sem limites, a sua inteira doação às causas e à Casa-Comum. Também lhe atiraram os mesmos insultos – só porque fez o bem, só porque deu a mão aos que a injustiça e a exploração obrigavam a rastejar. Recordámo-lo aqui na Ribeira Seca, à mesma hora em que em Câmara de Lobos era evocada a sua memória.

Ele também ficará connosco até ao fim dos tempos !!!

 

07.Jun.21

Martins Júnior

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