sábado, 7 de agosto de 2021

DISSONÂNCIAS DE UM CONCERTO INTEMPORAL

                                                                              


Elias, em desespero, pediu a morte… deitou-se no deserto, à sombra de um zimbro. Uma voz despertou-o: “Levanta-te e come, porque é longo o teu percurso”. Então, viu a seu lado um pão cozido nas brasas e uma bilha de água fresca. E andou  quarenta dias e quarenta noites pelo deserto até chegar ao monte Horeb.

                                                    (Do PRIMEIRO LIVRO DOS REIS, cap.19)           

 

Quantos desertos além do teu

além do meu

à míngua da ignota gota de água trazida pelo vento

 

E quantos rios glaciares sem freio

aquém do meu e do teu

gritando um grão de areia que os devore e aqueça

 

Ai, os estilhaços em brasa-lava tresloucada

com ânsias de um vazio mudo que os entenda

 

Ai, os  escombros de silêncios-solidões

à escuta de uma breve almofada palavra

palavra pão

palavra pedra

palavra água

palavra luz

palavra sombra

palavra ela e o seu contrário

conforme a fome a sede a noite o gelo  e a chama

que somos

 

Entre a nascente e a foz

estou eu, estás tu  estamos nós

na repetida opereta dos dias contraditórios

 

O7.Ago.21

Martins Júnior

 

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