quarta-feira, 11 de agosto de 2021

OURO, PRATA E BRONZE DE PORTUGAL NA CHAMA OLÍMPICA UNIVERSAL

                                                                         


Na moleza da estação dormente deste ano de 2021 coube-nos a dádiva de um acontecimento ímpar, cuja materialidade objectiva – o desporto atlético nas suas múltiplas dimensões – remete-nos para um estádio supra-humano, estruturalmente universal no tempo e no espaço. Falta ainda fazer a merecida apologia do esforço épico da civilização nipónica na organização dos Jogos Olímpicos 2020/2021. Sublinho os qualificativos “épico” e “civilização nipónica”, precisamente expressos na abertura de um país que empenhou o melhor dos seus recursos numa iniciativa que, em virtude da ausência de público e das restrições da ‘covid’, não viu o habitual retorno financeiro no seu tecido económico.

         A festa multicolor de todos os povos e etnias ali representados faz das Olimpíadas o abraço planetário da Fraternidade Global, a proclamação universal dos Direitos Humanos, maior e mais eloquente que todos os discursos de todos os areópagos internacionais. Na mão e na alma de todos e cada um dos onze mil participantes que responderam à chamada – mesmo os que não conseguiram subir o pódio vitorioso – brilhava o facho incandescente da harmonia entre os povos. E isso, para além dos resultados obtidos, constitui a medalha maior da sua participação.

         Neste enquadramento interpretativo, sobreleva-se o nome de Portugal. Não pelo somatório dos galardões (outros países conseguiram muitos mais) mas pela tonalidade dos troféus, reveladores do espírito civilizador da identidade lusa, agregador de culturas e valores autónomos, venham de onde vierem e seja qual ou tal a sua proveniência étnica. Suponho que a nenhum português passou desapercebido (ou “impune”)  o fenómeno singular da miscigenação dos mesmos troféus, patente nos três títulos maiores, o de Pichardo ouro,  Mamona prata e Fonseca bronze, a que se juntou, entre outros, o de Pimenta bronze.

As suas raízes não são portuguesas nem sequer europeias. O quanto de riqueza sociológica, política e humanista tudo isto encerra! O quanto de investimento altamente retributivo resulta do acolhimento dado ao ‘problema’ migratório! No Japão, Portugal consolidou a epopeia camoniana de um Povo, ‘valente e imortal’,  que deu novos mundos ao Mundo e, em contrapartida, o Mundo deu novos mundos a Portugal!

         A todas as tentativas ‘rascas’ (é o termo certo) de acirrar hostilidades e azedumes rácicos com que o radicalismo populista de certos grupos tenta manchar o universalismo da nossa bandeira, opõe-se a tríplice coroa do louro vencedor por sobre a paisagem lusa, que tanto enobrece o seu Povo.

         Perdoem-me a emoção, mas isto toca-me. Sobretudo, depois de ter conhecido em terras Moçambicanas a cabana-catedral da arte de Malangatana Valente e o olhar-verbo poético de José Craveirinha.

         Assim como António Gedeão, após análise química,  descobriu que a lágrima da mulher negra era em tudo igual às lágrimas de todo o mundo (e que tão bem sabe ouvir essa canção  na voz do saudoso Adriano Correia de Oliveira) assim  também os troféus portugueses alcançados nos Jogos Olímpicos 20/21, analisados no cadinho  da Razão, revelam a amplitude da mais lídima portugalidade em todo o planeta!

 

         11.Ago.21

         Martins Júnior

1 comentário:

  1. Quando somos tocados por momentos que tanto nos emocionam, a arte do luar da poesia encarrega-se de fazer o resto... Excelente.

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