É do que menos se fala e
do que mais o mundo precisa: perdão nas famílias, perdões nas traições, perdões
de dívidas entre devedores e credores da
praça, entre Estados, entre governantes e governados, perdões entre gigantes e
pigmeus, perdões nas igrejas, perdões místicos, emocionais, de longa ou curta
duração.
Numa
época de contrastes – a Lei de Talião, da retaliação primária olho por olho,
dente por dente, contra a Economia que mata e a Lei das Amnistias – o
elixir de uma Era de Felicidade, o Perdão, merece um aprofundamento analítico tão
isento e, ao mesmo tempo, tão seguro que nos faça distinguir os verdadeiros dos
falsos perdões. E, sobretudo, não nos iludirmos com os doentios perdões pios
dos confessionários ou dos mecânicos confiteor das missas dominicais.
Como
nos restantes processos contratuais, o Perdão é um contrato bilateral: de um
lado, o agressor que pede e, do outro, o agredido que concede. O Perdão unilateral
e gratuito não cumpre o seu fim essencial nem produz o fruto a que está
predestinado. Pode alguém perdoar a outrem sem que este lho peça nem disso se
lembre. Pode perdoar por insensibilidade, por orgulho e até desprezo pelo
agressor, segundo o velho aforismo: A mim
não ofende quem quer. É frustre
esse perdão porque simplesmente não envolveu o mínimo contributo do agressor.
Dar-lhe-á até mais ganas de repetir as agressões.
O Perdão autêntico tem um preço!
Tudo quanto trago escrito serve de
introdução ao texto que o LIVRO nos oferece neste domingo e que ilumina não só
a semana inteira mas toda a vida, toda a história. Convém consultar a narrativa
de Mateus, capítulo 18, 21-35 e logo veremos o preço do Perdão.
Um
assalariado contraiu um volumoso empréstimo com o patrão e, não tendo com que
pagar, apresentou-se com mulher e filhos aos pés do credor, impetrando-lhe amargurado
o perdão da dívida ou o pagamento faseado. Comovido, o patrão perdoou-lhe na
totalidade. No dia seguinte soube que o mesmo servo, ao sair do solar do
generoso amo, encontrou um colega de trabalho que lhe devia uma irrisória quantia,
nada comparável com a que lhe tinha sido perdoada. Agarrou-o, quase o sufocava,
e exigiu-lhe o pagamento imediato. Ao tomar conhecimento do caso, o
patrão-credor chamou-o e publicamente revogou o perdão anterior, mandou-o para
a cadeia, mulher e filhos, até que saldasse toda a dívida.
A medida que usares para medir os outros será com essa mesma medida que tu serás medido também – disse um dia o Mestre do Perdão. Não façamos do nosso Mestre um derrotado, inerte numa cruz ou um buda bonacheirão que se diverte a emitír borlas semanais a burlões profissionais ou a meliantes sacristas de mãos para o céu. Ele perdoa, mas exige. Tal como no Direito dos humanos, a pena para ser ressocializadora integra na sua génese uma exigência factual que lhe corresponda.
O
verdadeiro Perdão tem um preço! A introspecção da culpa, o pedido do infractor
e o ressarcimento do erro. O resto é ficção Com que o povo néscio
se engana!... Perdoe-me Luis Vaz de Camões o plagiato – casual mas
coincidente.
17-18.Set.23
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário