sábado, 16 de setembro de 2023

TRIGO POR BOMBAS, PÃO POR ARMAS !!!

                                                                        




Não foi sem um reiterado esforço  contra uma espécie de relutância interior que me decidi lançar a mão à pena para transcrever do íntimo de mim mesmo este rastreio de morbidez e de vergonha que acontecimentos recentes diagnosticaram sobre a condição humana. Faço-o agora, não para cavar o poço da deprimência em quem me lê, mas para acentuar o repúdio mais enérgico contra os subterrâneos da morte onde proliferam como répteis os crâneos - certos crâneos humanos – detentores de poder e desumanidade.

Dois são os factos:

Em primeiro plano, o paralelismo enre a voragem da Natura e a fria hediondez de que é capaz o seu mais nobre inquilino, o Ser Humano.

Todos assistimos, contristados, impotentes, à bravia ebulição de certas regiões do planeta, os milhares de mortos, os desaparecidos sob os escombros  em Marrocos, os náufragos narrastados pelas barragens gigantescas que a fúria dos aluviões rompeu na Líbia e, depois de tudo, um cenário de destruição total que não deixa nenhum coração enxuto, só de ver e ouvir

Paralelamente, somos presenteados – agredidos! – todos os dias dentro de casa, à nossa mesa, com igual paisagem  de terra queimada, habitações, escolas, hospitais e até lugares de culto desfeitos aos bocados, gente afogada nas águas que os russos soltaram à bomba nas barragens da Ucrânia, corpos levados à vala comum no luto de sacos pretos, enfim, milhões de expatriados do seu lar, da própria família.

Dois cenários de efeitos idênticos, mas de uma diferença abissal nas suas causas: um, motivado pela geodinâmica dos elementos naturais. O outro, fabricado premeditadamente nos laboratórios do câneo humano. Sem mais considerandos que nos deixam deprimidos, impõe-se uma incógnita sem resposta: Quererá o homem rivalizar com a força bruta da Natureza?... Esconda-se de vergonha essa raça de genocidas!

Em segundo plano, o cúmulo da desvergonha: essa raça genocida não se esconde. Pelo contrário, orgulha-se e entroniza-se diante do mundo, aos nossos olhos, entra nas nossas casas. Protagonistas deste trágico filme – antes fosse-o, só filme, mas é fatídica realidades – aí estão, entre outros, Kim Jong Un e Vladimir Putin. Uma visita de imperadores, troca de galhardetes entre dois gladiadores assassinos!... E assistimos nós, passivos e talvez insensíveis, a este desfile de “wagner’s” mercenários dos seus mais ignóbeis instintos, criminosos de guerra que não nos deixam viver descansados!

                                                            


Mais humilhante para a nossa condição humana foi a permuta de brindes nesse encontro de verdugos asiáticos: trigo por bombas, pão por armas, alimentos por drones e tanques de guerra. Imperdoável no século XXI: trocar a vida pela morte, o amor pelo ódio, a civilização pela barbárie! Em nenhum deles mora a vida, nem o amor, nem a civilização. Quem os domina e reveste é o estupaciente da morte, do ódio, do regresso à barbárie.

Que se danem eles próprios às garras que fabricam, mas não envolvam milhões de seres humanos no mesmo antro de feras suicidas. Triste pátria que em vez de produzir pão para a boca, só extrai da terra bombas fratricidas!

Eis por que me acho deprimido - mas não vencido! – e sem a vontade inicial de trazer a este ecrã episódios funestos que destroem a alegria de viver!

 

13-15.Set.23

Martins Júnior

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