Mestre
Tempo escolheu entre Agosto e Setembro os pilares de uma ponte larga e longa, por
onde viaja o verão a caminho do outono e em cujo piso navegam fenómenos estranhos,
terramotos, vulcões e aluviões, a que se adicionam trágicas efemérides que
mudaram o rumo de nações e gerações, as Torres Gémeas e a ditadura chilena de
Pinochet.
Mas é também a ponte dos adeuses: às praias
e aos trilhos das montanhas, às férias de quem trabalha e ao lazer de quem
estuda. São os milhares de jovens que abandonam o aconchego familiar e atiram-se
ao espaço longínquo das Faculdades a que se candidataram. Muitos deles ‘sem
paraquedas’.
Refiro-me particularmente aos jovens da
nossa Tuna (TCM) que, após anos de aprendizagem e companheirismo diário, vemo-los
partir sob os olhares magoados de familiares e colegas, mas também esperançosos
por sobre o oceano de expectativas no futuro promissor.
A
par dos encargos inerentes a uma ‘nova forma de vida’, em Portugal Continental,
nos Açores ou no estrangeiro, avulta o grande obstáculo no acesso ao alojamento.
São quase intransponíveis as grades para além das quais existem (e o seu
contrário, inexistem) hipotéticos quartos para estudantes universitários. Os
preços escandalosamente proibitivos reproduzem, em contra-luz, a evolução
positiva do ensino em Portugal que abriu pistas, antes inalcançáveis porque
elitistas, permitindo que os filhos dos trabalhadores proletários frequentem as
mesmas tribunas académico-profissionais que os filhos dos patrões e senhorios. Uma
vitória de Abril cinquentenário!
“Quem
quiser passar o Bojador tem de passar além da dor”. O veredicto de Fernando
Pessoa está escrito não só no Mar Português, Prolonga-se por nações e
continentes com maior potencial sócio-económico. Leio, por exemplo, em recente
edição do jornal Ie Monde, um
título revelador: “Os estudantes confrontados com uma grave penúria de
alojamentos” O desequilíbrio entre a oferta e a procura coloca os proprietários
numa desproporcional posição de força aos frágeis jovens estudantes. E apresenta casos: uma rapariga
no início do mestrado e em situação de
recurso, teve de pagar 1500 euros por uma semana num quarto de aparthotel. Na
maior parte das cidades, uma simples dependência chega aos 700 euros/mês. Faz
dó este pré-aviso da parte de muitos pais: “Já proibimos os nossos filhos de concorrer
à Faculdade em certas cidades como Paris e Marselha”.
E
mais duro ainda este desabafo incontido, mas contrafeito, de outros familiares:
“Somos obrigados a refrear os sonhos dos nossos filhos, porque irrealizáveis
financeiramente face ao contexto da habitação, ainda que o seu percurso escolar
lhes dava acesso directo ao ensino superior”.
Na
ponte dos adeuses, o nosso abraço a todos os que partem sobre um mar de
dificuldades e esperanças! E um voto: ao acabar o curso, nunca se esqueçam do
Povo que lhes proporcionou Universidade, Professores, Bolsa e, nalguns casos, residência.
31Ago-11Set.23
Martins Júnior
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