terça-feira, 12 de setembro de 2023

NA PONTE DOS ADEUSES SOBRE UM MAR DE ESPERANÇAS

                                                                                  


    Mestre Tempo escolheu entre Agosto e Setembro os pilares de uma ponte larga e longa, por onde viaja o verão a caminho do outono e em cujo piso navegam fenómenos estranhos, terramotos, vulcões e aluviões, a que se adicionam trágicas efemérides que mudaram o rumo de nações e gerações, as Torres Gémeas e a ditadura chilena de Pinochet.

          Mas é também a ponte dos adeuses: às praias e aos trilhos das montanhas, às férias de quem trabalha e ao lazer de quem estuda. São os milhares de jovens que abandonam o aconchego familiar e atiram-se ao espaço longínquo das Faculdades a que se candidataram. Muitos deles ‘sem paraquedas’.

          Refiro-me particularmente aos jovens da nossa Tuna (TCM) que, após anos de aprendizagem e companheirismo diário, vemo-los partir sob os olhares magoados de familiares e colegas, mas também esperançosos por sobre o oceano de expectativas no futuro promissor.

A par dos encargos inerentes a uma ‘nova forma de vida’, em Portugal Continental, nos Açores ou no estrangeiro, avulta o grande obstáculo no acesso ao alojamento. São quase intransponíveis as grades para além das quais existem (e o seu contrário, inexistem) hipotéticos quartos para estudantes universitários. Os preços escandalosamente proibitivos reproduzem, em contra-luz, a evolução positiva do ensino em Portugal que abriu pistas, antes inalcançáveis porque elitistas, permitindo que os filhos dos trabalhadores proletários frequentem as mesmas tribunas académico-profissionais que os filhos dos patrões e senhorios. Uma vitória de Abril cinquentenário!

“Quem quiser passar o Bojador tem de passar além da dor”. O veredicto de Fernando Pessoa está escrito não só no Mar Português, Prolonga-se por nações e continentes com maior potencial sócio-económico. Leio, por exemplo, em recente edição  do jornal Ie Monde, um título revelador: “Os estudantes confrontados com uma grave penúria de alojamentos” O desequilíbrio entre a oferta e a procura coloca os proprietários numa desproporcional posição de força  aos frágeis  jovens estudantes. E apresenta casos: uma rapariga no início do mestrado e  em situação de recurso, teve de pagar 1500 euros por uma semana num quarto de aparthotel. Na maior parte das cidades, uma simples dependência chega aos 700 euros/mês. Faz dó este pré-aviso da parte de muitos pais: “Já proibimos os nossos filhos de concorrer à Faculdade em certas cidades como Paris e Marselha”.

E mais duro ainda este desabafo incontido, mas contrafeito, de outros familiares: “Somos obrigados a refrear os sonhos dos nossos filhos, porque irrealizáveis financeiramente face ao contexto da habitação, ainda que o seu percurso escolar lhes dava acesso directo ao ensino superior”.

Na ponte dos adeuses, o nosso abraço a todos os que partem sobre um mar de dificuldades e esperanças! E um voto: ao acabar o curso, nunca se esqueçam do Povo que lhes proporcionou Universidade, Professores, Bolsa e, nalguns casos, residência.

 

31Ago-11Set.23

Martins Júnior

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