terça-feira, 7 de abril de 2020

REGRESSO À VIDA NUM RAIO DE SOL


                                                       

Chamar ao 7 de Abril  “Dia Mundial da Saúde” não passa de uma rotunda redundância. Com efeito, qual é o dia e qual é a hora, qual o ano e qual o mês em que a Saúde não seja rainha e senhora?... Sobretudo, a partir deste Janeiro e Fevereiro, temos sentido à flor da pele que  da Saúde         são todos os dias e todas as noites da nossa vida.
Nesta dança – Oh, o belo e surpreendente balancear da “Dança da Morte” de August Strindberg! – há um fulgor renascido diante daqueles que, consoante testemunho dos próprios, já estiveram do “outro lado”  e, magicamente, regressaram à vida. Diga-o o “De Profundis-Valsa Lenta” do nosso José Cardoso Pires. Os valores da praxe social e o seu relativismo, as pessoas e o seu tamanho, as verdades tidas como absolutas, as ocupações fúteis e as preocupações inúteis – tudo reaparece em contornos de ‘luz oblíqua’ e faz-nos cair na real, distinguindo em alto relevo o verdadeiro do falso, o essencial do acessório, o estável  do transitório.
Não terá sido o caso, mas decerto que não será alheio ao momento presente, a entrevista que o bem conhecido filósofo e teólogo Prof. Anselmo Borges concedeu, sábado último, ao semanário SOL. Para quem, já o conhece (como nós madeirenses que vária vezes tivemo-lo na ‘UMa’ e em diversas escolas da ilha) não estranhou a profundidade e a firme coerência do seu acervo pensamental. Nesta altura, porém, em que coincidentemente o ‘Covid-19’ põe tudo do avesso – o poder, o dinheiro, a ciência, os regimes, as igrejas – aparece o pensamento do Prof. Anselmo Borges  no horizonte do século XXI como  aquele raio de sol iluminante que separa a luz das trevas ou, pelo menos,  das sombras conjecturais e conjunturais, fazendo jus, neste caso,  ao título do  semanário.
Para crentes e não crentes, o Padre e Docente jubilado da “Filosofia das Religiões” da Universidade de Coimbra entra decididamente na floresta, tantas vezes obscura, sinuosa e dúbia, de determinados conteúdos da Igreja, mesclados de dogma e tradição infundadamente aceites. Com a frontalidade do seu estilo claro e lapidar,  responde de forma directa  às questões que lhe são propostas. Devo confessar que, do muito que tenho lido e acompanhado na literatura da especialidade, nunca vi algo de tão sólido, corajoso e esclarecedor.
A comprovar o que trago dito, respigo algumas entradas deste Glossário (breve mas abrangente) da Teologia Bíblica:
Jesus ressuscitou?... O Anjo apareceu a Maria?...  Jesus andou sobre as águas?... Concelebrar ‘coronaviricamente’?... Há milagres?”...   
         Poderia acrescentar a este breve elenco muitas outras descobertas – digo-o, sem titubear, autênticas descobertas – que o Prof. Anselmo Borges tem revelado no aprofundamento do binómio  Ciência e Fé, Logos e  Amor,  Filosofia e Teologia. Além de que o Prof. Anselmo Borges,  tem sido em Portugal o mais lídimo intérprete do universo do Papa Francisco, conforme demonstra a vasta obra já publicada. Deixarei para amanhã o caudaloso filão ideo-teológico-litúrgico que decorre do pensamento borgeano acerca da Eucaristia, um dos eixos centrais desta Semana Maior.
         No turbilhão noticioso que inunda as 24 horas dos nossos dias, importa captar as “Lições de Abismo” (diria Gustavo Corção) que o actual momento nos proporciona, a vários níveis, tal como os analistas costumam sintetizar neste desiderato tão nobre quanto utópico: “De futuro, veremos o mundo com outros olhos”. Outrotanto, auguramos para  o mundo da crença, para a descoberta da ultimidade, que é o timbre de toda a mundividência do Prof. Anselmo Borges.
         Concluo (sem terminar…)  com este voto: Seria uma promissora  manhã de Páscoa para o mundo actual e para as gerações vindouras se o Prof. Anselmo Borges reunisse os seus escritos numa sua “Summa Theologica”, na esteira dos grandes pensadores como Tomás de Aquino. Ficamos de guarda!

         07.Abr.20
         Martins Júnior    

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