quarta-feira, 29 de maio de 2019

A PALAVRA – RAINHA E SERVA!


                                                              

         A Palavra anda no ar, mergulha a terra, brilha no verniz genuíno da calçada. É o verbo feito carne e vida, papel e tinta, corpo e alma da cidade!
É assim que vejo e sinto o arfar sedoso das, impropriamente,  chamadas “Feiras do Livro”. Digo “impropriamente”, ou “inapropriada” a designação “feira” para aquilo que interpreto como um recanto de introspecção, alameda dos afectos e rio branco da liberdade criativa. Recuso-me a ver nos livreiros simulacros de feirantes de remessas vendidas ao metro ou pesadas ao kilo.
Passar pelos diversos escaparates expositores, mesmo que se não compre nenhum exemplar impresso, é como pisar um “chão sagrado” onde fumega e canta a sarça ardente do talento e da poesia. Quem ali navega deveria curvar-se, agradecido, como diante de um trono ou de um altar, onde crescem cravos de abril e  açucenas de maio orvalhadas, umas vezes de cânticos, outras vezes de lágrimas, aqui cheirando ao suor da pesquisa e persistente investigação, acolá reflectindo as clareiras do Pensamento na densa floresta da Dúvida.
Dos livros expostos, bem se lhes pode adaptar com todo o rigor a definição com que se descrevem os humanos – “Todos Iguais e Todos Diferentes” . Iguais no rosto, na cor, na espessura da matéria. Diferentes na inspiração, no voo rasante dos seus conteúdos. Pegar num bom livro é imprimi-lo no cérebro e aconchegá-lo ao coração.
Por isso, são sempre de louvar e prestigiar todos quantos promovem estes eventos, sublinhando desde logo que a sua preocupação não é a de bibliotecários de élites ou de estranhas eminências académicas, mas, sem prejuízo da qualidade, proporcionar a quem lê e a quem escreve uma experiência de cumplicidade anímica, para concordar, questionar ou até mesmo divergir. Neste entendimento e não obstante a inflação da palavra pelas “ruas da amargura” em diários, pasquins e demais literatura de cordel, mantenho  o apelo de que quem sente a flor da escrita “de um amor perfeito, ponha a rosa ao peito”, isto é, escreva, transmita, porque há sempre imperceptíveis ondas gravitacionais que levarão, cedo ou tarde, a mensagem a alguém, longe ou perto, de mente e coração expectantes. Sintamo-nos dentro daquele círculo de destinatários anónimos a quem se dirigia Manuel Alegre quando escreveu: “Há sempre alguém que semeia/ Canções ao vento que passa”.
                                                              

Nesta estação do ano e desta onda de “Feiras do Livro”, onde quer que se realizem, em Machico, no Funchal ou em Lisboa, lavro aqui o meu Voto de Congratulação, agradecendo pessoalmente à Organização da Feira do Livro do Funchal o ter incluído no seu programa a minha colectânea, intitulada “LEGADO”, fruto da investigação de Paula Gois, com a prestimosa apresentação de Bernardo Martins e Irene Catanho.
A Palavra, sobretudo na versão escrita, será sempre  a Rainha do Pensamento e, ao mesmo tempo, a sua Serva fiel para semear ao vento que passa as Canções de um Mundo Novo e Nosso!

29.Mai.19
Martins Júnior      

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