sábado, 18 de janeiro de 2025

ENQUANTO NOS PALÁCIOS ASSINAM O CESSAR FOGO A FALA DE QUEM AGONIZA SOB OS ESCOMBROS DE GAZA

 


Caíu-me em cima o betão armado

De todas as lajes de todos os tempos

Do Egipto à Babilónia

Do Pretório ao Gólgota

Das fogueiras do Santo Ofício

Aos fornos de Auschwitz

 

Por cada manhã de páscoa

Noites de gerações em choro e luto

Por um só dia no éden de um pai hebreu

O deus dos exércitos abateu

Em cima de mim

Milénios de exílios em campa rasa

 

Sob os escombros de Gaza

Ainda estou aqui refém

Gemendo toda a dor que a minha pátria tem

 

Será desta a hora

De me afastarem a laje que me sufoca e devora?

 

Creio mas não espero


Eu sei

Que há sempre um Ramsés, Nabucodonosor ou Nero

Para abater-me nu

Ao atravessar a primeira rua

 

Porque Tu

Meu irmão nazareno ainda não ressuscitaste

Nesta nossa terra que foi tua  

 

17.Jan.25

Martins Júnior

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