CONDENADOS E ARGUIDOS AO PODER
Não
era minha intenção convidar um triângulo vicioso a entrar, mesmo na cave, da
oficina deste Senso&Consenso, porque nos alvores de um Ano Novo
entendo que só cabem as boas-novas, portadoras de optimismo e positiva construtividade
do indivíduo e da sociedade. Mas ao ler na na capa da Revista Figaro o
histriónico título Les Cow-Boys au Pouvoir, não resisti a pôr em público
aquilo que guardava só no meu foro privado.
Cow-Boys,
no texto de Alexandre Devecchio, são
Donald Trump, à cabeça, Javier Milei, presidente da Argentina e Nayib Bukele,
presidente de Salvador, os quais, na vulgar nomenclatura cinematográfica, levam
o leitor ao mundo de aventuras do mítico Texas americano, para entretenimento
de sofá.
Não assim com Os Condenados e Arguidos ao Poder. Aqui, o
caso muda de tom, de volume e de consequência. O Triângulo Vicioso comprime
a civilização, abala as consciências, destrói toda a esperança de viver entre humanos.
À sua passagem, tremem os alicerces do mundo, e a própria Justiça, o único esteio de segurança, fica esmagada sob
os buldozzers do crime impune.
Enquanto não nos secam os
sentimentos e não nos cegam os olhos, impõe-se-nos uma pergunta irresistível:
Quem há quem, neste
mundo, capaz de suportar no poder soberano indivíduos condenados na barra dos
tribunais, que usam o posto para fugirem à cadeia, pois logo que saiam do poder
o seu trono será atrás das grades?! Por corrupção, abuso do poder, escândalos
públicos. Outros há, cujo julgamento e condenação estavam já em processo, caso
não fossem eleitos. Ainda nas malhas da Justiça estão aqueles que, alapados no
alçapão da imunidade, subtraem-se como privilegiados arguidos.
Aí estão três exemplares,
cada qual formatado ao tamanho do território dominado, Trump e Netanyahu, aliados
na criminalidade pública e ambos resguardados nos biombos dourados do poder, a
que se junta o nosso arguido-mór que
anda de terra em terra, de empresa em empresa, de beco em beco, a antecipar
campanha eleitoral para garantir as ameias do castelo Quinta Vigia.
Mutatis mutandis e comparadas as diversas
circunstâncias, voltámos ao reino da barbárie, à lei da selva, a razão da força
em vez da força da razão. Pelo dinheiro, pelas armas, pelos media, são outros
e muitos os Cow-Boys, os condenados e arguidos assaltantes da poderosa pirâmide
que os protege e defende.
Não são eles, porém, os
únicos comparsas desta trágica urdidura que torna inabitável o planeta. Nós também
entramos em cena. Nós, o povo, os eleitores. Todos os que, pela pesadíssima leveza
do voto, transportaram aos ombros os
monstros condenados e arguidos até à cátedra do reino, do município, da
freguesia, todos somos colaboracionistas e co--autores desta degradante enormidade.
Ao vermos saírem da
prisão os facínoras que atacaram o Capitólio em 6 de Janeiro de 2021,
indultados agora por aquele que deveria estar na cadeia, pensemos que os
criminosos geram outros criminosos, do tamanho do lugar onde se instalam.
Seja o Triângulo
Vicioso o semáforo vermelho que devemos evitar a todo o custo!
21.Jan.25
Martins Júnior
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