quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

O TRIÂNGULO VICIOSO

                                                           


CONDENADOS E ARGUIDOS AO PODER

          Não era minha intenção convidar um triângulo vicioso a entrar, mesmo na cave, da oficina deste Senso&Consenso, porque nos alvores de um Ano Novo entendo que só cabem as boas-novas, portadoras de optimismo e positiva construtividade do indivíduo e da sociedade. Mas ao ler na na capa da Revista Figaro o histriónico título Les Cow-Boys au Pouvoir, não resisti a pôr em público aquilo que guardava só no meu foro privado.

          Cow-Boys, no texto de Alexandre Devecchio,  são Donald Trump, à cabeça, Javier Milei, presidente da Argentina e Nayib Bukele, presidente de Salvador, os quais, na vulgar nomenclatura cinematográfica, levam o leitor ao mundo de aventuras do mítico Texas americano, para entretenimento  de sofá.

                                                               


Não assim com Os  Condenados e Arguidos ao Poder. Aqui, o caso muda de tom, de volume e de consequência. O Triângulo Vicioso comprime a civilização, abala as consciências, destrói toda a esperança de viver entre humanos. À sua passagem, tremem os alicerces do mundo,    e a própria Justiça,  o único esteio de segurança, fica esmagada sob os buldozzers do crime impune.

Enquanto não nos secam os sentimentos e não nos cegam os olhos, impõe-se-nos uma pergunta irresistível:

Quem há quem, neste mundo, capaz de suportar no poder soberano indivíduos condenados na barra dos tribunais, que usam o posto para fugirem à cadeia, pois logo que saiam do poder o seu trono será atrás das grades?! Por corrupção, abuso do poder, escândalos públicos. Outros há, cujo julgamento e condenação estavam já em processo, caso não fossem eleitos. Ainda nas malhas da Justiça estão aqueles que, alapados no alçapão da imunidade, subtraem-se como privilegiados arguidos.

Aí estão três exemplares, cada qual formatado ao tamanho do território dominado, Trump e Netanyahu, aliados na criminalidade pública e ambos resguardados nos biombos dourados do poder, a que se junta o nosso  arguido-mór que anda de terra em terra, de empresa em empresa, de beco em beco, a antecipar campanha eleitoral para garantir as ameias do castelo Quinta Vigia.

Mutatis mutandis e comparadas as diversas circunstâncias, voltámos ao reino da barbárie, à lei da selva, a razão da força em vez da força da razão. Pelo dinheiro, pelas armas, pelos media, são outros e muitos os Cow-Boys, os condenados e arguidos assaltantes da poderosa pirâmide que os protege e defende.

Não são eles, porém, os únicos comparsas desta trágica urdidura que torna inabitável o planeta. Nós também entramos em cena. Nós, o povo, os eleitores. Todos os que, pela pesadíssima leveza do voto, transportaram aos ombros  os monstros condenados e arguidos até à cátedra do reino, do município, da freguesia, todos somos colaboracionistas e co--autores desta degradante enormidade.

Ao vermos saírem da prisão os facínoras que atacaram o Capitólio em 6 de Janeiro de 2021, indultados agora por aquele que deveria estar na cadeia, pensemos que os criminosos geram outros criminosos, do tamanho do lugar onde se instalam.

Seja o Triângulo Vicioso o semáforo vermelho que devemos evitar a todo o custo!  

   

21.Jan.25

Martins Júnior

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