quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

TRUMP E MARIANN – OU – A DITADURA E AS RELIGIÕES: A PRAGA DE TODOS OS TEMPOS !!!

                                                                                  


A intermitência voraz dos acontecimentos e a amplificação ensurdecedora que lhe dão os media – guerras militares, guerras territoriais, guerras comerciais – retiram-nos a capacidade de nos fixarmos no essencial e acabamos por deixar fugir  entre a corrente o que de mais precioso tem o ser humano: o poder de análise, a visibilidade crítica, a direcção certa na acção.

          Não assim o estatuto deste Senso&Consenso. Por isso, não largamos ao vento a cerimónia da tomada de posse de Donald Trump, mais concretamente o discurso de Mariann Budde, a hierarca da Igreja Episcopal de St. John, de que fizemos eco no anterior blog.

          Que eloquência de pensamento e que coragem evangélica de Mulher!  Deixa a léguas a cobardia híbrida de certos homens hierarcas da Igreja Católica, ao contrariar, ali mesmo e face a face, o omnipotente Trump e o seu programa político, pomposamente anunciado na véspera!

          Falta analisar a atitude comportamental do novo-velho eleito presidente. Após a aparente displicência e o  mal disfarçado azedume durante toda a cerimónia religiosa, Trump traduz toda a acrimónia interior em três rounds, cá fora diante da sua corte: 1º - Aquele discurso não foi nada emocionante, pois não. 2º - Ela devia ter feito coisa melhor, ela é pouco inteligente e foi muito desagradável.  3º - A pseudo-bispa  e a sua Igreja Episcopal devem um pedido público  de desculpa aos americanos por aquilo que disse !

          É a reacção directa dos ditadores, auto-considerados intocáveis, habituados a que as igrejas e as religiões lhes estendam passadeiras vermelhas e fumeguem nuvens de incenso à sua passagem. E os eclesiásticos, a começar pelas eminências patriarcais, castrados física e mentalmente, rendem-se-lhes como tapetes de cozinha, parceiros do mesmo poder incestuoso – repugnante e nauseabunda opção que deu razão ao grande luminar, génio do Cristianismo, Santo Agostinho de Hipona, ao definir a Igreja, já  no longínquo século V, com esta degradante nomenclatura: Ecclesia Casta Meretrix.

Desconheço o sistema de vasos comunicantes entre política e religião nos EUA, mas as recentes retaliações de Trump no seio do aparelho administrativo e judiciário levam-nos a temer o clima de repressão que o regime trumpista  é capaz de desencadear contra Mariann Budde e a sua Igreja. É o que tentarei acompanhar.

Para nós, portugueses da Madeira e do Continente, não é matéria nova. Quer no tempo da ditadura salazarista, que vitimou, entre outros,  o bispo do Porto, António ferreira Gomes, o de Nampula, Manuel Vieira Pinto, o pároco dos Jerónimos, padre José Felicidade Alves – quer na musculatura da chamada Autonomia madeirense que fez da Igreja, padres e bispos, autênticas marionetes a baixo-custo e perseguiu, humilhou, diabolizou quem, dentro do clero, esboçasse o mínimo gesto ante a pró-ditadura vigente. Pena faz e mais que pena, vergonha, quando uma entidade dotada de superioridade ética e espiritual, na linha  da sua  matriz original, se deixa manipular e desventrar às mãos de poderes encharcados de peçonha e insaciável sofreguidão.

Onde pretendo chegar com este olhar sobre o primeiro dia do novo--velho regime americano?

Só a isto:

Se em todas as escolas, universidades, assembleias locais ou regionais e se em todas as igrejas houvesse uma Mariann Budde e aí se  proclamasse a sua mensagem, nunca teria  ousado Donald Trump vazar tamanhas enormidades e tão ferozes ameaças na bandeira de um país maior da democracia mundial! Na bandeira, no povo e em todo o mundo civilizado.

Porque mais forte que as armas e o dinheiro é o pensamento. O discurso do líder, seja ele político, pregador ou comediante, reflecte a mentalidade do seu público. Daí, o axioma: Cada povo tem o governo que merece. Por isso, são os pedagogos, os honestos e esclarecidos formadores das mentalidades – numa cátedra ou no mais humilde lugarejo, pela voz ou pela escrita ou pela net – são eles, os que ensinam o povo a pensar, os verdadeiros construtores e  vencedores da história.

Stop, Louk and Listen – o melhor antídoto contra o vírus estonteante dos malabaristas ditadores. Parar para pensat,  ouvir para entender, olhar para decidir e marcar o rumo!  

  

 03-05.Jan.25

Martins Júnior

         

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