domingo, 23 de fevereiro de 2025

TRUMP FALOU - PAPA CALOU !

                                                              


Aconteceu.

Em termos fácticos, é essa a leitura directa do anátema do imperador do Capitólio de Washington D.C. contra o inquilino do Capitólio do Vaticano: “Meta-se nas coisas da Igreja e deixe de falar nos imigrantes, que isso é comigo”.  Por fatalidade de momento - a pneumonia bilateral - calou-se o Papa Francisco.

Mas há outra leitura, mais funda e dramática,  do mesmo facto.

Para entendê-la, é preciso recorrer a um evento recente num dos palácios de Sintra, Portugal, acontecimento tão marcante na essência quanto silenciado, quase clandestino no fórum dos media. Conta-se em meia dúzia de vocábulos comuns a tantos outros episódios do quotidiano: Num dos palacetes de Sintra reuniram-se bispos e cardeais da Igreja Católica, em número de 80 (oitenta). Entrevistado o Cardeal Patriarca de Lisboa, respondeu não ter sido consultado nem convidado para este ‘mini-conclave’.

Pelos corredores dos arciprestados e da CEF (Conferência Episcopal Portuguesa), vagueia um murmúrio sibilino, equivalente a um comentário  enigmático: Esses 80 dignitários eclesiásticos pertencem à ala mais conservadora da Igreja, portanto, opositora da pastoral renovadora de Francisco Papa. O seu antecessor, Bento XVI, não conseguiu aguentar o vendaval cardinalício da velha trupe romana, à qual atribuiu o contundente qualificativo de “abutres do Vaticano”. Mais resiliente e audaz tem sido Jorge Bergoglio, numa guerra surda, armadilhada pela ala conservadora, de que fazem parte os Oitenta, reunidos em Sintra.

Outro facto, também recente:

Nesta luta acirrada anti-Francisco arrogou-se, como cerra-fila do batalhão, o ‘pontífice’ da máfia pseudo-cristã que, lá no paiol dourado de Washington, vocifera e atira  à cara do defensor dos pobres refugiados a bomba-rolha mais obscena, atentatória da missão de um verdadeiro mensageiro evangélico: Meta-se o Papa nas coisas da Igreja e deixe da mão os imigrantes, esse assunto é comigo.

Para quem navega na dúvida persistente, aí tem de contornos bem definidos a dialéctica em que se debate, desde há dezassete séculos, a instituição Igreja: Para uns, Ela é mais um reino deste mundo, erguendo--se o Papa como Monarca Imperador. Para outros, a Igreja não é “um reino deste mundo”, como respondeu Jesus no tribunal de Pôncio Pilatos. E, por coerência necessária, o Papa é o Servus servorum Dei, o Servo dos servos de Deus. Para aqueles, o assento do Papa é um trono, ao lado de Trump, Putin, Netanyahou.  Para estes, o lugar do Papa é a cruz, onde estão os marginalizados, os excluídos, os migrantes, os oprimidos, os quais o Papa quer tirá-los dessa cruz onde estão crucificados.

   A que Igreja e a que Papa (ou a que cardeais, bispos, padres) pertencem os crentes, os cristãos?... E fiquem com este pré-aviso: o rei—-sombra dos EUA, Elon Musk, anda a rondar, a serpentear, os cardeais eleitores para entronizarem no Capitólio Romano um Papa à medida do Capitólio de Washington D.C..

Mais que a pré-agonia física é essa a agonia mais profunda de Francisco, o Incompreendido Sósia do Nazareno, intérprete fidedigno da vida e da palavra de Jesus, o crucificado pelos sumos-sacerdotes do Templo de Jerusalém. Quem lhe há-de suceder?

Respondam os crentes. São estes, os súbditos, os “servos”, os cristãos de base a única força espiritual que pode fazer a Igreja regressar às fontes originárias do Evangelho. Sendo o mais forte, o Papa será sempre o elo mais fraco. A palavra de ordem, pois,  é uma evidência: a militância e a coerência, não de Oitenta, mas de muitos, de todos os Milhões  de autênticos católicos cristãos!

Assunto sério - de ontem, de hoje e de sempre.

21-23.Fev.25

Martins Júnior

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