sábado, 1 de fevereiro de 2025

TRUMP NO TRONO E MARIANN NO ALTAR. MAS A MULHER FOI A MAIOR !!!

                                                                    


Ver por dentro e não contentar-se ou entreter-se apenas com as aparências. Prometido ontem, cumprido hoje. Na tomada de posse do 47º presidente dos EUA. Na catedral episcopal de St. John. Mais precisamente, no discurso que, do púlpito do histórico templo, dirigiu a Trump  a presidente da diocese de Washington, D.C., Mariann Budde.

          O que o mundo viu em grande plano?  A sacralização da emproada entronização do não menos emproado Donald Trump, num espectáculo psico-pirotécnico de opulência e dominação, que começou na catedral e espojou-se até ao Capitólio.

          O que poucos viram e ouviram? O discurso da celebrante Mariann.

          Na fila primeira, o volumoso descendente de emigrantes  alemães, pesado, amuralhado, ameaçador. No altar, uma figura franzina de mulher, 65 anos, semblante afável e voz suave.

          Oiçamos, em síntese, as palavras que, do púlpito de St. John, dirigiu a Trump e a toda a assembleia presidencial:

          Só com Unidade - não a unidade de alguns, mas de todos – é que será verdadeiramente grande a nossa América… Quais são os alicerces  da Unidade?... Três os alicerces, sem os quais a Unidade ficará assente na areia e não na rocha firme, como falava Jesus.

 1º - : Dignidade Humana, conforme a Nossa Declaração da Independência, em que a Igualdade e a Dignidade são direitos inatos a toda a pessoa que nasce. E por nascermos, somos todos filhos do mesmo Deus…

2º - Honestidade, tanto na vida pública como na vida privada. Sem Honestidade não há Unidade. Pedir a Deus a Unidade numa cerimónia solene, como esta, é fácil. Mas praticá-la no dia-a-dia é que é  difícil, porque aí as nossas acções vão contra as nossas orações.

3º - Humildade, porque todos erramos. Evitarmos o culto do desprezo que está a tornar-se normalizado no nosso país. Ninguém tem a verdade inteira. É preciso  olharmos a verdade dos outros sem  escarnecermos, desconsiderarmos ou diabolizarmos… Porque os primeiros prejudicados e perigosos para nós mesmos, somos nós quando nos convencemos que temos a verdade toda.

          (Trump, na primeira fila, o trono dos fariseus no tempo de Jesus, ora fazia-se distraído, ora displicente, ora constrangido, sobretudo quando a celebrante se lhe dirigiu directamente.)

Senhor Presidente:

O Senhor disse ontem que a mão providencial de um  Deus amoroso livrou-o da morte, de uma bala assassina. Pois, em nome desse nosso Deus, tenha misericórdia de milhões de americanos que o escolheram e que vivem agora debaixo do medo… Tenha misericórdia de tantos filhos que agora estão assustados se os seus pais forem expulsos deste território, que eles procuraram fugindo à fome e às perseguições nos seus países de origem…

São imigrantes, mas também todos nós fomos emigrantes nesta terra… São eles que limpam e preparam os nossos escritórios, que cuidam dos campos agrícolas, dos aviários e dos matadouros, que lavam a loiça depois de jantarmos nos restaurantes, que passam as noites trabalhando nos hospitais: podem não ser todos cidadãos, podem não ter documentos, mas na maior parte não são criminosos… Eles são trabalhadores, são bons vizinhos e estão presentes nas nossas igrejas, nas mesquitas, nas sinagogas.

Crianças, gays, lésbicas, transgénero, Sr. Presidente, há-os entre famílias de  democratas, republicanos ou independentes. E alguns agora vivem debaixo do medo. ..

Que grandeza de espírito! Que coragem evangélica! Que fidelidade intrépida a Jesus de Nazaré, diante de um todo-poderoso, ali à sua frente, cujo programa aponta em sentido visceralmente oposto!

Naquele corpo frágil de mulher, vi a estatura, a eloquência e o realismo frontal do nosso Imperador da Língua Portuguesa, o monumental Padre António Vieira, do século XVII. E dentro de mim, soltou-se uma pergunta: "Actualmente, neste nosso país e nesta região, onde encontrar um padre católico, um bispo, um cardeal, dotado da coragem e da transparência humana e teológica desta Mariann Budde, Bispa de Washington C.D.?!". Comparável, talvez, o Papa Francisco, nas suas homilias.

Deveria a comunicação social portuguesa, (como fez a imprensa internacional)  sobretudo a Igreja com os meios que tem ao seu dispor, dar em grande plano e repetir a mensagem proferida em solo americano e numa hora decisiva para o futuro da humanidade. Saúdo, pois, calorosamente a crónica do Padre Prof. Dr. Anselmo Borges na sua coluna do ‘Diário de Notícias’ de Lisboa. O teólogo e filósofo português de maior talento e clarividência na actualidade provou que “o Espírito sopra em toda a parte”. Ele que tem pautado a vida, a cátedra e a escrita pela descoberta da Verdade. Bem haja!

 

29.Jan-01.Fev.25

Martins Júnior

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