segunda-feira, 17 de novembro de 2014

E DEPOIS DOS 500 ANOS??


Dando cumprimento ao mandato que me impus a mim próprio de estar presente em cada dia ímpar, reservei este dia 17 para evocar aquele que foi propagandeado como o magno monumento histórico da Madeira: os “500 anos da Diocese” . Precisamente porque passam hoje dois meses sobre o 17 de Setembro,  a cúpula que coroou tamanha e narcisista efeméride.
       Arrastado durante três anos pelas ruelas do devocionismo primário caracterizador da condução católica deste arquipélago, a sua eficácia veio preventivamente retratada nas barbas brancas daquele enorme poster exibido no alçado principal de todas as igrejas e capelas da ilha. A figura de “Pai Eterno” encalhado no estreito charco dos despojos de outrora, cheirando a naftalina colorida.
       Se houve interessados que ardorosamente esperaram por este congresso, fui eu um dos primeiros, sobretudo desde aquele domingo de Março em que, na reitoria da Uma, o Prof.Dr. José Pedro Paiva, Director da Faculdade Letras da Universidade de Coimbra e, no caso, membro da Comissão Científica do dito congresso,  definiu, entre outros, três critérios para a elaboração de um estudo sério e credível: o congresso tem de ser transparente, não clerical e não apologético.
       Entretanto, no decurso das sessões, segui avidamente a exposição do mesmo catedrático focalizado no regime de nomeação dos bispos portugueses entre 1514 e 1828, ficando bem claro que quem tinha a jurisdição material, o poder, de nomear os prelados das dioceses era o monarca, cabendo ao Vaticano tão-só a nomeação formal. No período de formulação de perguntas ouviu-se uma jovem interpelar o orador para que informasse o auditório sobre o dito regime no pós-1828 até ao século XX. A resposta, sem resposta, limitou-se à afirmação de que a sua tese naquele congresso estacionava no primeiro quartel do século XVIII. Idêntico procedimento veio a verificar-se com outros oradores, destacando-se a acurada prestação do Prof. Dr. Nélson Veríssimo.
       Voltarei a este tema em posteriores diálogos com quem tiver gosto em confraternizar comigo. Apenas detenho-me hoje em questionar o sublinhado do anúncio do congresso que repetia exaustivamente o olhar para o passado, ponderar o presente e perspectivar linhas de pastoral para o futuro. Mas o que se viu foi o tirar dos armários figurinos mumificados,  pergaminhos de fino papiro e longínquos ouropéis com que se adorna a diocese, evitando sempre aproximar-se dos nossos dias, excepto naquilo que porventura envolvesse o panegírico, o apologético. Em muitas intervenções quis-me parecer que estávamos a comemorar os 400 anos da diocese.
       Nesta primeira abordagem, faço minhas as preocupações que o Pe. Dr. Rui Osório resumiu, já faz tempo, no Jornal de Notícias do Porto, a propósito do Congresso  da Juventude em Barcelona, no qual pomposamente se anunciou a participação de 300 jovens portugueses: “E o que ficou de tão propalada participação?”
Suponho que, passando hoje dois meses, na mente de muitos madeirenses perpassa a mesma incógnita: ”O que ficará além do congresso?”.

17.Nov.14
Martins Júnior

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