Dando cumprimento ao mandato que me impus a mim
próprio de estar presente em cada dia ímpar, reservei este dia 17 para evocar
aquele que foi propagandeado como o magno monumento histórico da Madeira: os
“500 anos da Diocese” . Precisamente porque passam hoje dois meses sobre o 17
de Setembro, a cúpula que coroou tamanha
e narcisista efeméride.
Arrastado durante três anos pelas ruelas
do devocionismo primário caracterizador da condução católica deste arquipélago,
a sua eficácia veio preventivamente retratada nas barbas brancas daquele enorme
poster exibido no alçado principal de todas as igrejas e capelas da ilha. A
figura de “Pai Eterno” encalhado no estreito charco dos despojos de outrora,
cheirando a naftalina colorida.
Se houve interessados que ardorosamente
esperaram por este congresso, fui eu um dos primeiros, sobretudo desde aquele
domingo de Março em que, na reitoria da Uma, o Prof.Dr. José Pedro Paiva,
Director da Faculdade Letras da Universidade de Coimbra e, no caso, membro da
Comissão Científica do dito congresso, definiu, entre outros, três critérios para a
elaboração de um estudo sério e credível: o congresso tem de ser transparente,
não clerical e não apologético.
Entretanto, no decurso das sessões, segui
avidamente a exposição do mesmo catedrático focalizado no regime de nomeação
dos bispos portugueses entre 1514 e 1828, ficando bem claro que quem tinha a
jurisdição material, o poder, de nomear os prelados das dioceses era o monarca,
cabendo ao Vaticano tão-só a nomeação formal. No período de formulação de
perguntas ouviu-se uma jovem interpelar o orador para que informasse o
auditório sobre o dito regime no pós-1828 até ao século XX. A resposta, sem
resposta, limitou-se à afirmação de que a sua tese naquele congresso estacionava
no primeiro quartel do século XVIII. Idêntico procedimento veio a verificar-se
com outros oradores, destacando-se a acurada prestação do Prof. Dr. Nélson
Veríssimo.
Voltarei a este tema em posteriores
diálogos com quem tiver gosto em confraternizar comigo. Apenas detenho-me hoje
em questionar o sublinhado do anúncio do congresso que repetia exaustivamente o
olhar para o passado, ponderar o presente e perspectivar linhas de pastoral
para o futuro. Mas o que se viu foi o tirar dos armários figurinos mumificados,
pergaminhos de fino papiro e longínquos ouropéis
com que se adorna a diocese, evitando sempre aproximar-se dos nossos dias,
excepto naquilo que porventura envolvesse o panegírico, o apologético. Em
muitas intervenções quis-me parecer que estávamos a comemorar os 400 anos da
diocese.
Nesta primeira abordagem, faço minhas as
preocupações que o Pe. Dr. Rui Osório resumiu, já faz tempo, no Jornal de
Notícias do Porto, a propósito do Congresso da Juventude em Barcelona, no qual
pomposamente se anunciou a participação de 300 jovens portugueses: “E o que
ficou de tão propalada participação?”
Suponho
que, passando hoje dois meses, na mente de muitos madeirenses perpassa a mesma
incógnita: ”O que ficará além do congresso?”.
17.Nov.14
Martins Júnior
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