Presépios há muitos. Conforme o gosto, a época, o lugar.
Há-os rudes e puros como as montanhas, há-os especiosos, de cristal e porcelana no requinte dos salões aristocráticos, há-os folclóricos e divertidos, com figurantes a repetir maquinalmente as mesmas piruetas, há-os, ainda, do tipo antiquário ferro-velho, com bonecos e quinquilharias arrancadas ao bolor das dispensas domésticas, há-os negros da cor da Senhora da Aparecida, há-os amarelos, vermelhos, enfim, há presépios para todos os gostos. E todos eles estimáveis e respeitáveis na sua intencionalidade.
Aproveito, pois, este espaço para apresentar o nosso:
Como em todos os anos, optámos por um presépio temático, no palco aberto da Ribeira Seca. O cenário é sempre inspirado no tema, quase mini-curso intensivo tratado ao longo das nove Missas do Parto. Neste ano de 2014, os participantes leram e eu comentei sucintamente as fagulhas de luz penetrante da Exortação de Francisco Papa intitulada “A Alegria do Evangelho” ((Evangelii Gaudium) e, no clarão dessas ideias-programa elaborámos o presépio. Para nos identificarmos com a mensagem realista, por vezes dura e agreste da mensagem, fomos buscar à terra os elementos construtivos de um grande globo terrestre --- precisamente o que restou dos incêndios e do vírus devastador dos pinheiros cá na ilha. E lá foram homens e mulheres por essas serras fora juntar do chão centenas, milhares de pinhas, à mistura com a chuva e geada fria que fustigavam os ossos e as mãos enregeladas.
Depois, semelhando a bordadeira que tece de “garanitos e ilhós” a toalha encomendada, assim homens e mulheres foram colocando, carinhosa e pacientemente, cada pinha nos alvéolos de que se formava o globo terrestre., emoldurado por seis raios de uma estrela, simbolizando os seis “sítios” desta comunidade da Ribeira Seca, segurados pelo romântico e macio tapete de musgo, cor da esperança. Dentro da grande gruta extraída dos pinheiros, as imagens típicas do presépio., tendo por cortina de cena dois repuxos de água cristalina. Tudo muito simples, tudo “puro com as flores e doce como as donzelas”, teria dito o fino poeta Ruy Belo.
Mas faltava a coroa, ”a cereja em cima do bolo”, ou melhor, o íctus inspirador deste rústico poema, faltava o Autor da “Alegria do Evangelho”, que ditou o tema de fundo: Francisco Papa. E lá ficou a sua efígie em tamanho natural, encimando o planeta, bafejando-o com o seu sorriso libertador.
Em vez de esculturas artificiais ou de outros motivos folclóricos de diversão, implantámos o pensamento do líder Francisco, (Não à globalização da indiferença, Não à economia que mata, Sim a uma Igreja, Porta aberta da casa do Pai, etc.) através de placas dispersas em todo o perímetro do presépio para trazer mais perto de nós o autêntico renascimento de J:Cristo e a razão de ser de toda a sua vida.
Por fim, .no alto mais alto da elipse iluminada, o Menino no centro do mundo simboliza gestualmente a sua bênção, essa verdadeiramente “urbi et orbi”, também para a Ribeira Seca e para quem nos visita.
O nosso presépio, mais que distracção, é um convite à reflexão, tendo em linha de conta que as alegrias não podem ser gratuitas, antes pelo contrário, devem ser conquistadas pelo talento e pela força braçal de todos nós, tal como o prazer de olhar para ele torna-se maior para quem nele se empenhou. Significa ainda uma homenagem à natureza e a todos quantos trabalham a terra. É o presépio da identidade rural, produtiva, construtiva.
Um abraço de festa especial para as delicadas mãos que conceberam e deram corpo ao presépio no interior do templo da Ribeira Seca. Bem hajam. Moldado num estilo diverso do presépio exterior, ele revela a criatividade e o requinte estético dos seus autores e autoras.
Tudo somado: À luz dos presépios, construamos a Alegria nos votos de Boas Festas e Feliz Ano que nestes dias mutuamente trocamos.
27.Dez.2014
Martins Júnior
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