sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

UMA BOA NOVA


Nesta encosta fria e chuvosa em que nos é dado viver aquecem-nos as notícias, quase todas contrastantes e concorrentes, aquecem-nos as passadas agitadas na lufa-lufa de encher a arca e o presépio. Por isso, escasseia o tempo de ler e comunicar. No entanto é de notícias, fruta da época, que trago a ementa da noite.. Refiro-me aos rituais, todos vestidos à moda de cada  terra --- as missas do parto --- todas respeitáveis, se coerentes com o meio em que nascem. Felizmente, aqui em Machico-cidade deixámos de ouvir, á nossa  beira,   os estouros dos foguetes às 5,30 da madrugada, um costume, embora atávico na Madeira, mas absolutamente contra-natura natalícia.
Pela minha parte, partilho convosco o estilo que optámos seguir neste modesto, mas verdadeiro, templo da Ribeira-Seca, Lapinha-Mãe de um povo suburbano. Desde há algumas décadas, procurámos unir a tradição à inovação: a tradição, nas canções históricas que desde criança ouvira eu próprio de pais, avós e bisavós, sem alterar  as variantes locais, nem na letra nem na música:  tem sempre um sabor a frescura e a saudade encher as paredes do templo e as pregas da alma com sonoridades que vêm das colinas do passado. A inovação está nas temáticas escolhidas para as nove manhãs, entre 16 e 24 de Dezembro de cada ano. Cedo me apercebi que as pessoas trazem no seu íntimo um projecto ou promessa ou pendor: não faltar a nenhuma Missa do Parto, faça frio ou chuva ou vento e, daí, entendi oferecer um só tema para reflexão dos participantes, tema esse que, sendo único, se desdobra em muitas das suas vertentes, uma espécie de mini-curso intensivo, cirúrgico, que marcasse de forma impressiva o fundo cultural e religioso de quem faz tamanho sacrifício.
Muitos e diversificados foram esses temas, entre os quais, as figuras que antes e depois de Cristo tornaram presentes o seu nascimento e a sua mensagem, figuras como Moisés, Isaías, João Baptista, os primitivos mártires,  Joana d’Arc, António Vieira, Mahatma Gandhi, Luther King. Teresa de Calcutá, Zeca Afonso e tantos outros. Noutro ano, escolhemos o estudo das diferentes religiões;  noutro, as oscilações climáticas e o dever de respeitar a natureza criada;  noutro, os povos e continentes, irmanados no mesmo abraço;  noutro, ainda, a simbologia física e psicológica das cores, aliadas à saúde e à beleza, etc., sendo todos os presépios inspirados nas respectivas temáticas.
Este ano, coincidindo com o 78º aniversário de Francisco Papa, estamos envolvidos na “Alegria do Evangelho” (Evangelii Gaudium), a sua Magna Carta para o mundo. O propósito é colocar nas mãos das pessoas o texto integral,  lido por um dos presentes, consoante o seu dia. Será o nosso presépio gigante inspirado na figura de Bergoglio abraçando o globo terrestre, todo ele composto de centenas, milhares de pinhas das nossas montanhas, trazidas pelas mãos de homens e mulheres desta comunidade. O fundamental é que não se faça do Natal apenas um folhetim folclórico, recheado de broas e licores com  que (também nós!) confraternizamos descontraidamente, despicando ao desafio, no adro da nossa igreja, após a cerimónia litúrgica. É preciso que o Natal/2014 não seja só na hora, mas  faça história dentro de nós pelo clarão de uma ideia que perdure.
Quem vier, venha por  bem. Porque aqui mora  a “Alegria do Evangelho”, a alegria branca do abraço universal!

19.Dez.14

Martins Júnior

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