Bem sei que nestes dias
de azáfama pré-natalícia não há lugar nem minuto para longas divagações. Mas
não ficarei bem comigo próprio se não partilhar convosco um ponto alto da nossa
preparação para o Natal, o qual compendia a conclusão do que hoje foi visto e
comentado na nossa Missa do Parto. Já tive ocasião de informar que na ementa da
nossa mesa eucarística cabem as tradições, os cânticos de outrora, as quadras
ao desafio no adro após a cerimónia litúrgica, os doces e licores. Mas o que
não pode faltar é a marcação de uma ideia enriquecedora que vá mais além do
folclore cíclico desta estação. Neste ano, a ideia marcante foi a leitura,
pelos participantes na cerimónia, da mensagem “Evangelii Gaudium” do Papa
Francisco. E tem sido uma verdadeira descoberta sentir na assembleia como que o
clarão de um relâmpago libertador em cada página do texto. Quando são sábias e
concretas as palavras o povo sabe escutá-las e ponderá-las. De facto, uma coisa
é ouvir uma palestra em ambiente académico sobre o pensamento de Francisco
Papa, outra é captá-las na fonte pela voz de homens e mulheres, ao vivo,
durante o decorrer do acto. E que força, que beleza, que coragem, que mergulho
ao dentro da vida! Foi preciso chegar à varanda do século XXI para saber que um
Papa tanto sobe ao Olimpo do pensamento humano-divino como desce até à profundidade telúrica da nossa
condição. Tudo ali está, como nunca antes se ouvira. Ali se juntam teses de
teologia e filosofia, constatações e perspectivas da ciência económica, ali se
consigna um manual de pedagogia política! Ao estilo da famosa Summa
Theológica de Tomás de Aquino, bem pode falar-se de uma Universitas Summa este feixe luminoso
chamado “A Alegria do Evangelho”.
Mas o mais importante é o
desbravar da densa floresta da sociedade em que vivemos. Ele afronta os casos e,
como um bandeirante, avança, peito
aberto, na vanguarda da denúncia e do compromisso. E aqui reside não apenas a
solução mas também um problema de futuro: ele não aponta, faz o trabalho da
mina, escava, abre a esplanada, mexe com as imutáveis estruturas, feito como
Isaías para “derrubar e construir”. Qual o patrão que vai à frente numa manifestação
de trabalhadores?... Ou qual o arquitecto ou engenheiro que mete as mãos na
massa e faz o trabalho do pedreiro ou do servente?... Francisco Papa!
É por isso que, no seio
da máfia vaticana e financeira, há quem queira liquidá-lo. É que ele está a
fazer as tarefas que competiam aos bispos e cardeais, mas não as fazem,
remetendo-se a um silêncio cúmplice em que no embrulho da “virtude” se esconde
a mais vil cobardia. Quem poderá salvar o Papa? Só o povo, só os cristãos! Porque
das hierarquias “beatíficas” nada há esperar senão os anátemas de Anás, Caifás
e Herodes contra o Menino de Belém. O povo tem de tomar nas mãos o poder de
iniciativa rumo à conquista da “Alegria”.
É verdade que estamos na
trégua fagueira do Natal, onde tudo se veste da mais terna brancura da Paz. Mas
perante a transparência matinal deste Homem que as trevas “vermelhas” dos
purpurados querem afogar, parece que o único caminho de salvação é afastar,
senão mesmo “derrubar dos seus tronos” (Lc.1,52) esses “arcanjos” do obscurantismo e da escravidão. É uma boa
campanha para salvar o Papa, a Alegria, o Natal. Mas sempre com “as armas da
Luz” (Paulo, Romanos, 13,12).
21.Dez.14
Martins Júnior
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