Ai,
o fragor furibundo deste corso “carnapalesco” que irrompe em quase todo o
rotundo ‘carnódromo’ planetário e não só, mas sobretudo, na Ucrânia!!!... Eu
sei que este meu grito – protesto, imprecação, revolta – não chegará nunca aos
salões dourados onde se engendra o monstro da guerra. Conte apenas como um
desabafo, senão mesmo de desespero - e com isso penitencio-me por não ser hoje
o optimista que sempre desejei ser.
Hoje, primeiro aniversário do monstro!
Em vez de um bolo da praxe, aí temos o “pão que o diabo amassou”. Também
estamos nós condenados a ‘comer’ desse pão maldito: ele entra-nos em casa,
senta-se à nossa mesa, mistura-se no nosso prato e dá cabo do nosso equilíbrio
emocional. Jamais imaginei (e decerto milhões de telespectadores) que, em vez
de anúncios culturais, científicos, sociais e afins, somos assaltados por uma
tremenda literatura armamentista, um arsenal bélico até agora fora do nosso
convívio quotidiano: são os mísseis balísticos, os supersónicos, os drones
suicidas iranianos, os Himars, tanques, carros de combate, são as munições 55, as 122 e 123, são os caças
F-16, são os Leopard II, enfim, toda uma terminologia que desemboca em “carne
para canhão”, mutilados nos hospitais, corpos espalhados pelas estradas de
Bucha e todos os dias em Kharkiv, Mariupol, Lugansk, Kherson, Zaparijjia…
Desestabiliza
qualquer humano – a mim, intensamente, que ajudei a levantar do chão da picada
11 amigos meus, mortos numa mina anticarro – pensar que esse insuportável
cenário é o “pão de cada dia” em terras ucranianas. Aqui, perto de nós, na
Europa. Já não é lá no incivilizado Iraque ou no muçulmano Afeganistão ou no
africaníssimo Sudão. Chamei-lhe, por isso, “carnapalesco” corso a estroutra
‘overdose’ de napalm que, sem um pingo de sensibilidade, destrói vidas no vasto
“carnódromo” que me coube habitar durante mais de 80 anos.
Hoje, de todo, não estou virado para o
optimismo e para alguma esperança neste desconcerto de munições que são servidas
em nossa casa, todos os dias, todas as horas. A história ensina-nos que os
ditadores, como Hitler e Saddham acabam,
foragidos, em ‘bunckers’ suicidas. Mas nem isso me conforta, se o mesmo
acontecesse com Putin.
A
Paz é o único oásis que nos poderá devolver a alegria de viver neste ensurdecedor
deserto que os homens fabricaram.
Quando chegará o dia em que os arsenais de guerra transformar-se-ão
em fábricas onde se produza pão em abundância com os imensos trigais
ucranianos?...
25.Fev.23
Martins Júnior
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