A inexorável ‘buldozzer’ do tempo tritura nas rodas
dentadas da mais imperturbável insensibilidade aqueles que amaram, lutaram e
fizeram da vida um desbravar sem tréguas de todos os muros que barravam o
Futuro, esses de quem hoje somos herdeiros gratuitos.
Em 23 de Fevereiro de 2023, quem se lembrou de Zeca
Afonso, neste seu dia de glória imarcescível quando ficou inerte na campa rasa
de um cemitério em Setúbal? A própria
comunicação social regional e, muito pouco, a nacional e as redes sociais
rasaram de silêncio e indiferença a sua campa.
Em Machico e neste SENSO&CONSENSO não podíamos
esquecer aquele fim de tarde, já noite, ele ali esteve abraçado à estátua de
Tristão Vaz Teixeira e, diante da enorme multidão que enchia o ‘Largo da Vila’ ,
ele, ao vivo, de braço erguido, cantou o luminoso Cravo da Liberdade, a
“Grândola, Vila Morena” ! Também jamais esqueceremos, com justificada
indignação, os dez carros de militares que, tendo sido apagada a iluminação
pública, desataram à coronhada contra as pessoas que fugiram espavoridas, às
escuras, pelas ruas e atalhos que encontraram. Foi a paga das autoridades
madeirense ao concerto libertador de Zeca Afonso, aqui, em 1976. E, na manhã
seguinte, a bomba de 12 Kg de troril, montada pela ‘Flama’ para ser rebentada à
sua passagem para o aeroporto!
Ao passar hoje e todos os dias diante da estátua no
centro da cidade, ouço a sua interpelação para mim e para as gentes de Machico,
aquela pergunta em epígrafe: “Valeu a pena?”…
Fica o apelo
incontido: Sejamos dignos dele, da sua mensagem inapagável!
Da minha parte, continuo a ouvir e a interiorizar a
sua voz pregoeira neste excerto do poema que lhe dediquei em 23 de Fevereiro de
2017, 30º aniversário da sua morte:
Porque eu ando por aí
Em
tudo o que canta
Em
tudo o que clama
Em
tudo o que se alevanta
E
olhando o sol sorri
Eu
não morri
Porque
vivo em ti
23.fev.23
Martins Júnior
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