De mal ficaria comigo
mesmo se não manifestasse publicamente o meu apreço e gratidão ao Eng. Duarte
Caldeira por quanto deixou exarado na edição de hoje, 17 de Fevereiro, em
artigo de fundo do DN/Funchal. Observador atento à realidade insular, Amigo e Solidário em várias frentes, sempre em
prol da causa pública, quer nas lides do combate para a abolição do regime da
colonia, quer na tribuna parlamentar, peço-lhe a permissão de incluir nos Dias
Ímpares do SENSO&CONSENSO o artigo publicado no citado matutino,
precisando, porém, a título de esclarecimento, que o processo judicial
interposto pelo PSD tinha por fundamento um artigo-direito de resposta na
imprensa regional, no qual afirmei:”O PSD abafou de forma comprometedora o
inquérito parlamentar ao desaparecimento das pratas” (únicas no mundo) proposto
então pelo CDS. Fez-se o julgamento, sendo advogado de acusação um jovem
causídico de nome Miguel Albuquerque, que se apresentou em tribunal sem a
devida procuração forense. O PSD perdeu a acção.
“Uma vida dedicada ao povo
D. Teodoro e D. António, Bispos Eméritos, principalmente o primeiro, deveriam ter a humildade de se dirigirem à Paróquia da Ribeira Seca e pedir perdão ao seu povo e ao Padre Martins
Muitas
pessoas quando são ainda muito jovens, crianças, escolhem o seu futuro através
de uma formação quer seja através dos estudos, quer através da prática. Uns
seguem uma vida académica, pois agora é obrigatório fazer pelo menos o nono
ano, com tendências para passar para o 12º ano. Muitos iam estudar para o
seminário, pois era o meio mais fácil para aqueles que tinham um vida difícil,
em que a maioria não chegava a padre porque serviam-se da “fé” para conseguir
um nível educacional mais elevado, não se limitando a ficar pela 3ª ou 4ª
classe, como acontecia no tempo de Salazar e de Caetano.
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José
Martins Júnior, ilustre machiqueiro estudou no seminário e foi graduado padre,
ou seja concluiu o seu curso. Mas parece que foi um curso diferente. Não foi
para servir a Igreja Católica, mas servir o povo onde foi pároco.
Foi
Pároco na Igreja do Espirito Santo, freguesia e Concelho do Porto Santo. Cedo
começou a trabalhar para o povo, fundando o Grupo Folclórico do Porto Santo,
responsável também, pela música, pelo traje, pelos poemas e toda a coreografia.
Começou aí a grande educação do povo que servia. Estávamos na década de 60 do
século passado. Já nessa altura foi perseguido pela PIDE que se deslocou de
propósito ao Porto Santo para o prender, mas os seus paroquianos não o
permitiram. Foi guardado por eles, um dia na casa de um e outro dia na casa de
outro. Os agentes da PIDE não conseguiram prendê-lo e às tantas convenceram-se
que tinha vindo para a Madeira nalgum barco de pesca. Foi a primeira
perseguição de que foi alvo. Seguiu-se o lugar de Capelão no Exercito português
que combatia contra as ex-colónias. Cumpriu o seu tempo de serviço militar e
regressou à Ilha da Madeira, onde foi colocado na Paróquia da Ribeira Seca em
Machico. Rapidamente lançou as mãos à sua grande obra. Começou a construção da
Igreja da nova Paróquia. Reuniu o povo e lá foi conseguindo o dinheiro
suficiente para a sua edificação. Não havia Escola nas redondezas, nem água,
nem luz, mas o seu grande interesse em servir o povo lá conseguiu a água e a
luz. Enquanto construíam o edifício da Igreja, arranjou um anexo, coberto com
folhas de zinco e assim surgiu a primeira escola primária da Ribeira Seca. Foi
nesse “sala” de aulas que se realizou a primeira reunião da Madeira sobre a
Colonia nos primeiros dias de Maio de 1974. Estava eu no meu trabalho quando
recebi um telefonema do Padre Martins Júnior, que me pediu a colaboração para
fazer uma reunião sobre a Colonia. Respondi afirmativamente e dois dias depois
fizemos essa reunião, em que expliquei o que era a colonia e como se deveria
resolver, segundo o meu ponto de vista. Estava aberta a luta dos caseiros
contra aqueles que os exploraram durante séculos.
Em
simultâneo seguiu-se o inicio da libertação do POVO de Machico e por isso foste
perseguido pela própria Igreja da qual fazias parte. D. Francisco Santana foi
nomeado Bispo do Funchal poucos dias antes da revolução dos cravos, mas só
chegou à Madeira depois do 25 de Abril de 1974, até porque os aeroportos foram
fechados. Com ele veio a tua perseguição e a outros que defendiam outros ideais
que não fosse o fascismo. Esse Bispo prontificou-se a continuar aquilo que
tinha sido morto no continente. Deu instruções aos padres para perseguirem os
democratas e poderemos dizer que talvez perto de 100% aceitaram misturar a
religião com a política, aproveitando os efeitos da consanguinidade e do
alcoolismo durante mais de 500 anos, a que a nossa população esteve sujeita.
Um
dia em que esse bispo foi a Machico crismar e te viu no meio do povo, disse-te
para saíres e tu respondeste-lhe: “ expulse-me, caso contrário não saio”. “Se
não saíres, serás suspenso”, retorquiu sua Eminência E foi assim que o Padre
Martins Júnior que se encontrava na Igreja da Vila para ser padrinho de um
jovem que iria ser crismado, foi suspenso por vingança de um Bispo, que
entretanto tinha nomeado diretor do Jornal da Madeira uma figura conhecida e
ligado ao fascismo através de escritas na Voz da Madeira, em que aplaudia
Marcelo Caetano. Referimo-nos a um professorzinho da Escola Industrial e
Comercial do Funchal, Alberto João Jardim.
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Claro
que não obedeceste à suspensão e mantiveste-te na tua paróquia, servindo o
povo, que não permitiu que fosses expulso daquilo que tinhas construído. Nunca
levaste um tostão a nenhum paroquiano e nunca vendeste nenhum sacramento. O
Povo uniu-se á volta do seu pastor e juntos conseguiram uma autêntica União
Sagrada. Santana partiu para se encontrar com Lúcifer e para o seu lugar foi
nomeado pela Santa Sé um novo bispo, madeirense: D. Teodoro Faria que pouco
depois da posse foi contactado por Martins Júnior para fazer as pazes. Este
Bispo, não só, não quis, como iniciou uma feroz perseguição contra ti,
mandando, em conjunto com Alberto João Jardim e a concordância do Comandante da
Policia o também madeirense Homem Costa, mandou 70 policia Tomar o edifício da
Igreja da Ribeira Seca que não era propriedade da Diocese, mas do povo daquela
localidade. Durou pouco tempo a ocupação, alguns dias, talvez um pouco mais de
duas semanas e a vida voltou ao normal.
Mais
tarde D. Teodoro resignou e foi nomeado outro Bispo, D. António Cavaco, primo
de Cavaco e Silva, que foi Primeiro Ministro e depois Presidente da República,
que apesar das tentativas de Martins Júnior para que fossem feitas as pazes com
a suspensão da “suspensão ad Divinis”, não quis perdoar, como manda “o Pai
Nosso” que rezam nas missas, embora deixasse de perseguir “o pastor da Ribeira
Seca”.
Mas,
sofreste outras perseguições, nomeadamente no primeiro mandato de Deputado na
Assembleia Regional em que foste agredido pelo Deputado Egídio Pita numa sala
ou corredora anexa à sala das Sessões. Mais tarde foste perseguido pelo Grupo
Parlamentar do PPD que te retirou o mandato de Deputado, mas que recorreste e
ganhaste a questão. Também foste acusado pelo mesmo Grupo Parlamentar de ter
roubado as pratas que desapareceram da Assembleia Regional, quando se sabia que
era gente do PPD que esteve ligado a esse caso e que a própria Policia
Judiciária de então, arquivou o processo quando soube que havia gente “Graúda”
do PPD metida no assunto.
D.
Teodoro e D. António, Bispos Eméritos, principalmente o primeiro, deveriam ter
a humildade de se dirigirem à Paróquia da Ribeira Seca e pedir perdão ao seu
povo e ao Padre Martins Júnior pelo que fizeram e por aquilo que não fizeram.
Também o então Pároco da Vila, O Conego Manuel Martins deveria fazer o mesmo
por não permitir que a Imagem de Nossa Senhora de Fátima Peregrina entrasse na
Igreja d Ribeira Seca.
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Mais
tarde a Madeira ganhou mais um Bispo Emérito que foi substituído por D.Nuno que
lavou a face da Igreja, retirando a Suspensão a que estiveste sujeito durante
muitos anos.
Foste
meu Vice-Presidente entre 2000 e 2003, quando eu fui Presidente do Grupo
Parlamentar do Partido Socialista na Assembleia Regional da Madeira. Muito
obrigado pela tua preciosa colaboração.
Para
terminar queria fazer, publicamente, um pedido ao meu amigo Martins Júnior, que
já lhe fiz diretamente, que é para escrever as suas memórias, para os jovens e
o futuro saibam do grande Homem, grande Padre que foste e que o teu exemplo
seja seguido pelo clero, como fizeram o já falecido Padre Tavares e o Padre
José Luís Rodrigues.”
Bem hajas
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