sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

PREITO DA MINHA GRATIDÃO E DA COMUNIDADE DA RIBEIRA SECA AO ENGENHEIRO DUARTE CALDEIRA

                                                                                            


De mal ficaria comigo mesmo se não manifestasse publicamente o meu apreço e gratidão ao Eng. Duarte Caldeira por quanto deixou exarado na edição de hoje, 17 de Fevereiro, em artigo de fundo do DN/Funchal. Observador atento à realidade insular,  Amigo e Solidário em várias frentes, sempre em prol da causa pública, quer nas lides do combate para a abolição do regime da colonia, quer na tribuna parlamentar, peço-lhe a permissão de incluir nos Dias Ímpares do SENSO&CONSENSO o artigo publicado no citado matutino, precisando, porém, a título de esclarecimento, que o processo judicial interposto pelo PSD tinha por fundamento um artigo-direito de resposta na imprensa regional, no qual afirmei:”O PSD abafou de forma comprometedora o inquérito parlamentar ao desaparecimento das pratas” (únicas no mundo) proposto então pelo CDS. Fez-se o julgamento, sendo advogado de acusação um jovem causídico de nome Miguel Albuquerque, que se apresentou em tribunal sem a devida procuração forense. O PSD perdeu a acção.


 

“Uma vida dedicada ao povo

D. Teodoro e D. António, Bispos Eméritos, principalmente o primeiro, deveriam ter a humildade de se dirigirem à Paróquia da Ribeira Seca e pedir perdão ao seu povo e ao Padre Martins

 

 

    Muitas pessoas quando são ainda muito jovens, crianças, escolhem o seu futuro através de uma formação quer seja através dos estudos, quer através da prática. Uns seguem uma vida académica, pois agora é obrigatório fazer pelo menos o nono ano, com tendências para passar para o 12º ano. Muitos iam estudar para o seminário, pois era o meio mais fácil para aqueles que tinham um vida difícil, em que a maioria não chegava a padre porque serviam-se da “fé” para conseguir um nível educacional mais elevado, não se limitando a ficar pela 3ª ou 4ª classe, como acontecia no tempo de Salazar e de Caetano.

 

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José Martins Júnior, ilustre machiqueiro estudou no seminário e foi graduado padre, ou seja concluiu o seu curso. Mas parece que foi um curso diferente. Não foi para servir a Igreja Católica, mas servir o povo onde foi pároco.

Foi Pároco na Igreja do Espirito Santo, freguesia e Concelho do Porto Santo. Cedo começou a trabalhar para o povo, fundando o Grupo Folclórico do Porto Santo, responsável também, pela música, pelo traje, pelos poemas e toda a coreografia. Começou aí a grande educação do povo que servia. Estávamos na década de 60 do século passado. Já nessa altura foi perseguido pela PIDE que se deslocou de propósito ao Porto Santo para o prender, mas os seus paroquianos não o permitiram. Foi guardado por eles, um dia na casa de um e outro dia na casa de outro. Os agentes da PIDE não conseguiram prendê-lo e às tantas convenceram-se que tinha vindo para a Madeira nalgum barco de pesca. Foi a primeira perseguição de que foi alvo. Seguiu-se o lugar de Capelão no Exercito português que combatia contra as ex-colónias. Cumpriu o seu tempo de serviço militar e regressou à Ilha da Madeira, onde foi colocado na Paróquia da Ribeira Seca em Machico. Rapidamente lançou as mãos à sua grande obra. Começou a construção da Igreja da nova Paróquia. Reuniu o povo e lá foi conseguindo o dinheiro suficiente para a sua edificação. Não havia Escola nas redondezas, nem água, nem luz, mas o seu grande interesse em servir o povo lá conseguiu a água e a luz. Enquanto construíam o edifício da Igreja, arranjou um anexo, coberto com folhas de zinco e assim surgiu a primeira escola primária da Ribeira Seca. Foi nesse “sala” de aulas que se realizou a primeira reunião da Madeira sobre a Colonia nos primeiros dias de Maio de 1974. Estava eu no meu trabalho quando recebi um telefonema do Padre Martins Júnior, que me pediu a colaboração para fazer uma reunião sobre a Colonia. Respondi afirmativamente e dois dias depois fizemos essa reunião, em que expliquei o que era a colonia e como se deveria resolver, segundo o meu ponto de vista. Estava aberta a luta dos caseiros contra aqueles que os exploraram durante séculos.

Em simultâneo seguiu-se o inicio da libertação do POVO de Machico e por isso foste perseguido pela própria Igreja da qual fazias parte. D. Francisco Santana foi nomeado Bispo do Funchal poucos dias antes da revolução dos cravos, mas só chegou à Madeira depois do 25 de Abril de 1974, até porque os aeroportos foram fechados. Com ele veio a tua perseguição e a outros que defendiam outros ideais que não fosse o fascismo. Esse Bispo prontificou-se a continuar aquilo que tinha sido morto no continente. Deu instruções aos padres para perseguirem os democratas e poderemos dizer que talvez perto de 100% aceitaram misturar a religião com a política, aproveitando os efeitos da consanguinidade e do alcoolismo durante mais de 500 anos, a que a nossa população esteve sujeita.

Um dia em que esse bispo foi a Machico crismar e te viu no meio do povo, disse-te para saíres e tu respondeste-lhe: “ expulse-me, caso contrário não saio”. “Se não saíres, serás suspenso”, retorquiu sua Eminência E foi assim que o Padre Martins Júnior que se encontrava na Igreja da Vila para ser padrinho de um jovem que iria ser crismado, foi suspenso por vingança de um Bispo, que entretanto tinha nomeado diretor do Jornal da Madeira uma figura conhecida e ligado ao fascismo através de escritas na Voz da Madeira, em que aplaudia Marcelo Caetano. Referimo-nos a um professorzinho da Escola Industrial e Comercial do Funchal, Alberto João Jardim.

 

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Claro que não obedeceste à suspensão e mantiveste-te na tua paróquia, servindo o povo, que não permitiu que fosses expulso daquilo que tinhas construído. Nunca levaste um tostão a nenhum paroquiano e nunca vendeste nenhum sacramento. O Povo uniu-se á volta do seu pastor e juntos conseguiram uma autêntica União Sagrada. Santana partiu para se encontrar com Lúcifer e para o seu lugar foi nomeado pela Santa Sé um novo bispo, madeirense: D. Teodoro Faria que pouco depois da posse foi contactado por Martins Júnior para fazer as pazes. Este Bispo, não só, não quis, como iniciou uma feroz perseguição contra ti, mandando, em conjunto com Alberto João Jardim e a concordância do Comandante da Policia o também madeirense Homem Costa, mandou 70 policia Tomar o edifício da Igreja da Ribeira Seca que não era propriedade da Diocese, mas do povo daquela localidade. Durou pouco tempo a ocupação, alguns dias, talvez um pouco mais de duas semanas e a vida voltou ao normal.

Mais tarde D. Teodoro resignou e foi nomeado outro Bispo, D. António Cavaco, primo de Cavaco e Silva, que foi Primeiro Ministro e depois Presidente da República, que apesar das tentativas de Martins Júnior para que fossem feitas as pazes com a suspensão da “suspensão ad Divinis”, não quis perdoar, como manda “o Pai Nosso” que rezam nas missas, embora deixasse de perseguir “o pastor da Ribeira Seca”.

Mas, sofreste outras perseguições, nomeadamente no primeiro mandato de Deputado na Assembleia Regional em que foste agredido pelo Deputado Egídio Pita numa sala ou corredora anexa à sala das Sessões. Mais tarde foste perseguido pelo Grupo Parlamentar do PPD que te retirou o mandato de Deputado, mas que recorreste e ganhaste a questão. Também foste acusado pelo mesmo Grupo Parlamentar de ter roubado as pratas que desapareceram da Assembleia Regional, quando se sabia que era gente do PPD que esteve ligado a esse caso e que a própria Policia Judiciária de então, arquivou o processo quando soube que havia gente “Graúda” do PPD metida no assunto.

D. Teodoro e D. António, Bispos Eméritos, principalmente o primeiro, deveriam ter a humildade de se dirigirem à Paróquia da Ribeira Seca e pedir perdão ao seu povo e ao Padre Martins Júnior pelo que fizeram e por aquilo que não fizeram. Também o então Pároco da Vila, O Conego Manuel Martins deveria fazer o mesmo por não permitir que a Imagem de Nossa Senhora de Fátima Peregrina entrasse na Igreja d Ribeira Seca.

 

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Mais tarde a Madeira ganhou mais um Bispo Emérito que foi substituído por D.Nuno que lavou a face da Igreja, retirando a Suspensão a que estiveste sujeito durante muitos anos.

Foste meu Vice-Presidente entre 2000 e 2003, quando eu fui Presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socialista na Assembleia Regional da Madeira. Muito obrigado pela tua preciosa colaboração.

Para terminar queria fazer, publicamente, um pedido ao meu amigo Martins Júnior, que já lhe fiz diretamente, que é para escrever as suas memórias, para os jovens e o futuro saibam do grande Homem, grande Padre que foste e que o teu exemplo seja seguido pelo clero, como fizeram o já falecido Padre Tavares e o Padre José Luís Rodrigues.”

Bem hajas

Duarte Caldeira Ferreira

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17.Fev.23

Martins Júnior

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