Há-as
para todos os gostos e (des)gostos. Para controlar a velocidade, para soprar o
balão, para apresentação de documentos. Umas com sentido pedagógico, outras
como sanção punitiva.
Assim
na auto-estrada do pensamento e da vida. No turbilhão inelutável de todas as vidas, lá estão perfilados em
cada esquina agentes de serviço diário, diria horário, “minutário” que nos
agarram por inteiro e aos quais nos deixamos entregar, com tanto ou mais prazer
consoante a cor da farda e a apetência dos nossos olhos. Em cada dia, em cada
hora, em cada minuto somos levados, inconscientemente ou lucidamente, por este
facto, por aquela figura, aquela notícia espectacular, os quais tão depressa
nos prendem quão vertiginosamente se afastam. E aqui está exactamente a medida
de nós próprios: superficiais, inconstantes, comidos e comestíveis numa
palavra, descartáveis. Por gosto. Por leviana e quase imperceptível opção. Diverte-me
e questiona-me o afã dos leitores do café que, no seu primeiro ímpeto, é desdobrar a página dos desastres e de
imediato saltar para o necrológio do dia.
É
também o risco de quem escreve: deixar-se tentar pelo periférico, pelo imediato
e tangível (sobretudo se tangível à
multidão) e abrir as torneiras do computador, encher as terras de perto ou de
longe com os chuviscos e os aguaceiros da estação, do dia, da hora, do minuto. Com “aquilo” que está a dar.
Ora,
não é essa a minha opção. É certo que, segundo o Mestre Filósofo Aristóteles, “nada
do que é humano me é estranho”, impõe-se o nosso olhar crítico, o direito (e,
nalguns casos, o dever) de opinar. Mas escrever na correnteza do efémero é algo
que está condenado às fissuras dos canais de rega, devoradoras de energias que bem
mereciam ser canalizadas para um
pensamento constructo e, daí, consistente na sua produção e suficientemente
aberto para a síntese de todas as hipóteses. Permitam-me este desabafo: leio
avidamente, imperativamente, livros ou artigos de opinião, contanto que não se
limitem a seguir o guião de cordel do vulgo indiscriminado, apenas para figurar
nas vidraças partidas do calendário.
É
a minha “Operação Stop”.
Desde
longa data aprendi, em Charles Péguy, aquela máxima imbatível: “O jornal de
ontem é mais velho que a Odisseia de Homero”. A voracidade dos “media” anda por
aí, desenfreada, como os milhares de espermatozóides à procura de um óvulo, o
mais desprevenido que se lhes apresenta. E nós, por curiosidade congénita ou mau paladar deixamo-nos
fecundar pelos batedores do costume, os interesses privados da rádio, da
estação televisiva, o açambarcamento por parte dos banqueiros-donos-do-papel
impresso. Quem escreve deveria estar atento ao perigo de destilar a diarreia
incontrolada do inútil, do efémero. Em tudo. Cito, para amostra entre muitas, determinados
programas de literatura em que se dá primazia a textos efémeros em vez de
propor, eu diria, impor a leitura dos mestres da Língua Portuguesa. Bem sei que
se le style c’est l’homme, também
cada época tem a sua marca distintiva, a nossa também. Mas nem por isso deveria
relegar-se para o museu de cera o rio vivo que emana das nascentes e mantém a
perenidade e a identidade de nós mesmos. “A minha Pátria é a Língua Portuguesa”,
sempre Mestre Pessoa, perene, semper vivens.
O
segredo é detectar o perene no invólucro do efémero. Mesmo ao tocar a
superfície dispersa na chamada “espuma dos dias” é possível fixar o ADN que
perpetua o duradouro passaporte do Homem na volta aos mundos de ontem, de hoje
e de sempre, afirmando-se como o eterno “operário sempre em construção” .
STOP!
Para seguirmos em frente.
Para seguirmos em frente.
03.Fev.16
.Martins Júnior
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