quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

“OPERAÇÃO STOP”


Há-as para todos os gostos e (des)gostos. Para controlar a velocidade, para soprar o balão, para apresentação de documentos. Umas com sentido pedagógico, outras como sanção punitiva.
Assim na auto-estrada do pensamento e da vida. No turbilhão inelutável  de todas as vidas, lá estão perfilados em cada esquina agentes de serviço diário, diria horário, “minutário” que nos agarram por inteiro e aos quais nos deixamos entregar, com tanto ou mais prazer consoante a cor da farda e a apetência dos nossos olhos. Em cada dia, em cada hora, em cada minuto somos levados, inconscientemente ou lucidamente, por este facto, por aquela figura, aquela notícia espectacular, os quais tão depressa nos prendem quão vertiginosamente se afastam. E aqui está exactamente a medida de nós próprios: superficiais, inconstantes, comidos e comestíveis numa palavra, descartáveis. Por gosto. Por leviana e quase imperceptível  opção.  Diverte-me e questiona-me o afã dos leitores do café que, no seu primeiro ímpeto,  é desdobrar a página dos desastres e de imediato saltar para o necrológio do dia.
É também o risco de quem escreve: deixar-se tentar pelo periférico, pelo imediato e tangível (sobretudo se tangível  à multidão) e abrir as torneiras do computador, encher as terras de perto ou de longe com os chuviscos e os aguaceiros da estação, do dia, da hora, do minuto.  Com “aquilo” que está a dar.
Ora, não é essa a minha opção. É certo que, segundo o Mestre Filósofo Aristóteles, “nada do que é humano me é estranho”, impõe-se o nosso olhar crítico, o direito (e, nalguns casos, o dever) de opinar. Mas escrever na correnteza do efémero é algo que está condenado às fissuras dos canais de rega, devoradoras de energias que bem mereciam  ser canalizadas para um pensamento constructo e, daí, consistente na sua produção e suficientemente aberto para a síntese de todas as hipóteses. Permitam-me este desabafo: leio avidamente, imperativamente, livros ou artigos de opinião, contanto que não se limitem a seguir o guião de cordel do vulgo indiscriminado, apenas para figurar nas vidraças partidas do calendário.
É a minha “Operação Stop”.
Desde longa data aprendi, em Charles Péguy, aquela máxima imbatível: “O jornal de ontem é mais velho que a Odisseia de Homero”. A voracidade dos “media” anda por aí, desenfreada, como os milhares de espermatozóides à procura de um óvulo, o mais desprevenido que se lhes apresenta. E nós,  por curiosidade congénita ou mau paladar deixamo-nos fecundar pelos batedores do costume, os interesses privados da rádio, da estação televisiva, o açambarcamento por parte dos banqueiros-donos-do-papel impresso. Quem escreve deveria estar atento ao perigo de destilar a diarreia incontrolada do inútil, do efémero. Em tudo. Cito, para amostra entre muitas, determinados programas de literatura em que se dá primazia a textos efémeros em vez de propor, eu diria, impor a leitura dos mestres da Língua Portuguesa. Bem sei que se le style c’est l’homme, também cada época tem a sua marca distintiva, a nossa também. Mas nem por isso deveria relegar-se para o museu de cera o rio vivo que emana das nascentes e mantém a perenidade e a identidade de nós mesmos. “A minha Pátria é a Língua Portuguesa”, sempre Mestre Pessoa, perene, semper vivens.
O segredo é detectar o perene no invólucro do efémero. Mesmo ao tocar a superfície dispersa na chamada “espuma dos dias” é possível fixar o ADN que perpetua o duradouro passaporte do Homem na volta aos mundos de ontem, de hoje e de sempre, afirmando-se como o eterno “operário sempre em construção” .
STOP! 
 Para seguirmos em frente.

03.Fev.16
.Martins Júnior


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