domingo, 25 de fevereiro de 2018

FEVEREIRO – A CADA QUAL O SEU BRASEIRO

                                                         


É quando os extremos tocam-se. Fevereiro da neve  e da chuva esconde também labaredas, braseiros de “fogo que arde sem se ver”. Lampejos de eloquência e maceração, fagulhas de génio e martírio, umas vezes gritantes, outras abafadas pelo tempo e pelo lugar.
Compulsando as efemérides do segundo mês do ano, encontramo-nos logo com o nascimento do “Príncipe da Língua Portuguesa”, o Padre António Vieira, em 3/1608, o qual mais tarde viria a ser encarcerado nas cadeias da Inquisição no dia 1 de Outubro de 1665.  Em 13/1965, é abatido à traição aquele que seria a esperança de um Portugal maior, liberto da ditadura salazarista. Quatro séculos antes, em 15/1564, já fora dado ao mundo o visionário das estrelas, Galileu Galilei, vítima da maior condenação a que um homem pode ser sujeito – a amputação do pensamento e do inalienável direito de descobrir a verdade científica – e, daí, o anátema infalível da Santa Inquisição para os hereges, a fogueira, se ele entretanto se não tivesse retratado, dando o dito por não dito. A ignorância insolente dos eclesiásticos inquisitoriais não permitia a Galileu contrariar a Bíblia Sagrada, na ‘ordem divina’ de mandar parar o sol, a pedido de Josué, comandante das tropas israelitas. (Josué, 10, 13-14).
 Em boa hora, o fórum Victim Support Europe instituiu o 22/Fev como o Dia Europeu das Vítimas de todos os massacres perpetrados no mundo. E em 23/1985, Zeca Afonso sucumbe à morte, após uma vida caldeada nas chamas persecutórias da polícia secreta do regime colonialistas.
Muitas outras atrocidades marcaram historicamente o mês de Fevereiro contra pessoas e instituições. Os poderes absolutos sempre tiveram como objectivo final esmagar e ‘queimar’ em holocausto vidas inocentes, cujo único crime foi o de erguer a bandeira da verdade e das justiça social. Por isso, pode dizer-se que em Fevereiro, a cada qual o seu braseiro. Um atentado nunca deixa de ser um crime de lesa-humanidade, seja qual for o volume dos seus efeitos. Nestes casos, o relativo não deixa de ser qualitativamente censurável e incriminatório.
Trago hoje à colação este fenómeno cíclico e vexatório para a condição humana, visto que em 1985, aqui na Madeira, um pequeno agregado populacional foi implacavelmente fustigado pelas autoridades regionais e perseguido por uma força policial composta por setenta efectivos que, de madrugada,  assaltaram a casa e violaram a igreja local, ocupando-as durante 18 dias e 18 noites.
Tem muito que contar a Ribeira Seca neste que é o Ano XXXIII dessa triste efeméride. Também jogaram esta gente à fogueira. Tudo isso será contado nos dias que se seguem. Para que o mundo não esqueça! E jamais volte a repetir-se, seja lá onde for.

25.Fev.18
Martins Júnior                                                         

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