É
quando os extremos tocam-se. Fevereiro da neve e da chuva esconde também labaredas, braseiros
de “fogo que arde sem se ver”. Lampejos de eloquência e maceração, fagulhas de
génio e martírio, umas vezes gritantes, outras abafadas pelo tempo e pelo
lugar.
Compulsando
as efemérides do segundo mês do ano, encontramo-nos logo com o nascimento do “Príncipe
da Língua Portuguesa”, o Padre António Vieira, em 3/1608, o qual mais tarde viria a ser encarcerado nas cadeias da
Inquisição no dia 1 de Outubro de 1665. Em 13/1965,
é abatido à traição aquele que seria a esperança de um Portugal maior, liberto
da ditadura salazarista. Quatro séculos antes, em 15/1564, já fora dado ao mundo o visionário das estrelas, Galileu
Galilei, vítima da maior condenação a que um homem pode ser sujeito – a amputação
do pensamento e do inalienável direito de descobrir a verdade científica – e,
daí, o anátema infalível da Santa Inquisição para os hereges, a fogueira, se ele
entretanto se não tivesse retratado, dando o dito por não dito. A ignorância
insolente dos eclesiásticos inquisitoriais não permitia a Galileu contrariar a
Bíblia Sagrada, na ‘ordem divina’ de mandar parar o sol, a pedido de Josué,
comandante das tropas israelitas. (Josué,
10, 13-14).
Em boa hora, o fórum Victim Support Europe instituiu o 22/Fev como o Dia
Europeu das Vítimas de todos os massacres perpetrados no mundo. E em 23/1985, Zeca Afonso sucumbe à morte,
após uma vida caldeada nas chamas persecutórias da polícia secreta do regime
colonialistas.
Muitas
outras atrocidades marcaram historicamente o mês de Fevereiro contra pessoas e
instituições. Os poderes absolutos sempre tiveram como objectivo final esmagar
e ‘queimar’ em holocausto vidas inocentes, cujo único crime foi o de erguer a
bandeira da verdade e das justiça social. Por isso, pode dizer-se que em Fevereiro,
a cada qual o seu braseiro. Um atentado nunca deixa de ser um crime de lesa-humanidade,
seja qual for o volume dos seus efeitos. Nestes casos, o relativo não deixa de
ser qualitativamente censurável e incriminatório.
Trago
hoje à colação este fenómeno cíclico e vexatório para a condição humana, visto
que em 1985, aqui na Madeira, um pequeno agregado populacional foi implacavelmente
fustigado pelas autoridades regionais e perseguido por uma força policial
composta por setenta efectivos que, de madrugada, assaltaram a casa e violaram a igreja local,
ocupando-as durante 18 dias e 18 noites.
Tem
muito que contar a Ribeira Seca neste que é o Ano XXXIII dessa triste
efeméride. Também jogaram esta gente à fogueira. Tudo isso será contado nos
dias que se seguem. Para que o mundo não esqueça! E jamais volte a repetir-se,
seja lá onde for.
25.Fev.18
Martins Júnior
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