Que
se encantem os mortais ou que se danem,
tanto faz, com as efémeras lantejoulas pingadas das plumas todas de todos os
sambódromos,
Que
se atordoem ou se estalem, tanto faz, com
as peles retesadas dos tambores em marcha universal,
E
mesmo que rompam os céus europeus ou
mordam os buracos de ozono, tanto faz, os troféus do futsal, que merecem o nosso
aplauso,
Prefiro
ficar-me, entre absorto e visionário, ao ver o mesmo lençol materno unir dois
irmãos desavindos há mais de meio século. Nada mais decisivo brilhou agora no
planeta, nada mais empolgante que ver desfilar nos Jogos Olímpicos de Inverno,
em PyeongChong, as duas Coreias – a do
Norte e a do Sul – sob a mesma bandeira. A grandeza do gesto cresce cada vez
mais na proporção inversa dos resultados finais, sejam eles quais forem. Porque o pódio da vitória já foi
alcançado: a convergência em pacífica
ogiva de dois braços do mesmo corpo, separados até agora pelas mortíferas ogivas
nucleares.
Enquanto
na Europa cristã e ocidental, matriz de todas as civilizações do mundo, o
desporto resvala para conflitos fratricidas, o ‘milagre’ pode acontecer nas
remotas paragens asiáticas: o mesmo desporto
é bandeira de paz entre duas,
entre muitas guerras. Tão límpida como as brancas pistas de gelo foi esta alvorada
em PyeongChong que até serviu para nela se revelar a mancha negra do
representante de Trump.
Acreditei
no aperto de mão de Barack Obama a Raul de Castro, aquando do funeral de
Mandela, no estádio de Soccer City, Joanesburgo. Como acreditei no passo mútuo em
frente, o de Juan Manuel Santos e o do
comandante “Timochenko” das FARC, para a paz na Colômbia.
E agora
acredito que o gelo das pistas de PyeongChang será o início do degelo de ódios antigos –
ódios gémeos – que, cedo ou tarde, tornar-se-ão sol olímpico da Paz sobre a Terra. O que os
sumptuosos salões dos Congressos Internacionais não fizeram – fá-lo-ão as paisagens de neve das Coreias Unidas.
11.Fev.18
Martins Júnior
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