Não
é o de 2010 que trago para hoje. Já tudo ou quase tudo foi contado, lamentado,
chorado, estudado, contestado, reclamado até à exaustão. É de todos os “20’s Fevereiro” que aconteceram e voltarão a
acontecer no Planeta Terra, depois do diluvio universal, relatado por Moisés no
seu Génesis,cap.
9º. É de todos eles ( vencidos e vincendos) que me ocupo
neste fim de dia.
Faço-o
por impulso necessário e incontido mesmo, desde domingo passado, após a leitura
do referido texto do grande líder do povo hebreu. Foi lido e escutado em todos
os continentes, como palavra sagrada, inscrita naquele que é “O LIVRO” por excelência.
Não sei se todos os ouvintes e, mais de perto nós, os madeirenses, prestámos
atenção ao juramento solene que o Deus Iahveh lavrou urbi et orbi, na pessoa do Repovoador da Humanidade, Noé, os seus
familiares, plantas e animais que, dentro da arca-barca, escaparam à hecatombe
universal: “Eu estabeleço uma aliança convosco e nunca
mais será ceifada uma só vida pelas água de um diluvio”. Para rubricar, de
forma peremptória e visível, o soberano
contrato-promessa, teve o Grande Arquitecto o cuidado de deixar a sua impressão
digital na imensa abóbada celeste, o
arco-iris. “Todas as vezes que o meu
arco-iris estiver nas nuvens, Eu lembrar-me-ei da aliança eterna que fiz entre
Mim e toda a forma de vida que há sobre a terra”.
Nem
de propósito.
Precisamente
na semana em que emergem à superfície e à profundidade do nosso subconsciente
os 42/43 cadáveres arrastados pelas águas em cachão, é manifesto o embaraço de
compaginar a tragédia com a narrativa bíblica. E perante as repetidas aluviões
na Madeira, os devastadores ‘tsunamis’ e os mortíferos cataclismos do Planeta,
o embaraço desemboca em descrédito frontal face à suposta sacralidade d”O LIVRO”.
José
Saramago já prevenira que o melhor caminho para a perda da fé era a leitura da
Bíblia. Expurgados os exageros e as conclusões apressadas, a contradição merece
esclarecimentos sólidos, fundamentados numa hermenêutica científica, com
recurso à investigação histórica, a mais segura possível. Nesta área, a falta
de literacia leva aos labirintos inextrincáveis do obscurantismo e, daí, ao
fanatismo judaico-islâmico, que não ficam longe dos tenebrosos mitos medievais,
ainda hoje embutidos em certos rituais ditos-cristãos.
Mercê
de sucessivos investigadores oriundos da Reforma Luterana, bem como do esforço corajoso
de biblistas católicos, é ponto assente que “O LIVRO”, sobretudo o Antigo
Testamento, reproduz a história de um povo – o hebreu – que se auto-denominava líder escolhido pela Divindade de entre todos os povos, matriz única da civilização e
protótipo do Homem Universal. De tal forma ganhou estatuto a supremacia
elitista do judaísmo que os seus escribas, cronistas, moralistas, liturgistas e
até profetas passaram para “O LIVRO” os
primórdios da ‘sua’ história, os regimes político-teocráticos, as dinastias, as
práxis sociais e religiosas, os escândalos, os conflitos armados com os povos
fronteiriços, as catástrofes reais ou imaginárias. É frequente ouvir-se dizer
que o povo judeu orgulha-se de ter impingido a todo o mundo o estudo da sua
história pátria.
É
neste quadro interpretativo que deve ler-se o supra-citado texto de Moisés. Relata
pura e simplesmente a mensagem do ânimo e segurança de que tanto precisavam os
sobreviventes do dilúvio então ocorrido. A voragem terrífica das águas
diluvianas deixara-os em sobressalto. Alguém tinha de garantir-lhes paz e
conforto, fosse como fosse. Prova é o recurso empírico à figura do arco-íris - tão
ingénuo quanto poético - pintado por Deus nas nuvens, como penhor da aliança
seguradora entre Iahveh e os filhos de Noé.
Paralelamente
ao efémero, consignado no histórico judaico. “O LIVRO” condensa mensagens
eternas - de ontem, de hoje e de sempre – as quais, sobretudo, no Novo
Testamento, traçam as pistas libertadoras da Boa Nova, a Notícia da verdadeira
espiritualidade que conjuga o humano e o divino.
Decisivo
e imprescindível é saber distinguir, nos textos bíblicos, o efémero e o eterno,
definir o corpo diegético da narrativa –
portanto, circunscrito no tempo e no espaço – e, dentro dela, detectar a intemporalidade infinita da sua
mensagem.
Quanto
aos movimentos cíclicos do “Planeta Azul” e aos negros cataclismos que nele sempre se
hão-de repetir, compete ao homem de hoje acautelar-se, construindo o arco-íris
da ciência e da prevenção.
21.Fev.18
Martins Júnior
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