Desde
a Rússia e a Ucrânia até aqui basta o gesto de um clic. É connosco o que lá
passa. Não obstante a info e a contra-informação, o fio da navalha passa nos nossos
neurónios e no sono das nossas noites. Ninguém, por certo, ficará indiferente.
Por
isso, daqui de longe (e tão perto) reajo ao tumulto ululante do urso das estepes
russas face a todo o planeta, a partir das franjas ucranianas. Não entrarei nas
especificidades técnico-militares da invasão – isso está bem patente nos muitos
analistas da comunicação social – apenas fixar-me-ei sucintamente em dois
tópicos com que a experiência milenar dos humanos conflitos marcou as guerras
do futuro.
O
primeiro repetiu-se, até à exaustão, com a corrida quase impetrante e contrita
ao templo do Kremlin: peregrinos de boa-fé vindos dos EUA, da França, da
Alemanha, do Reino Unido. Enfim, a montanha foi ter com Maomé. Para quê?...
Para aquilo que hoje se vê. E para o mais que se há-de ver. Rebobinando o
filme, tudo não passou de uma enorme frustração, pois estava tudo planeado, municiado,
monitorizado ao milímetro. A história há-de registar o heróico esforço
presencial (mas auto-flagelante, humilhante, hoje se vê) de todas as altas
individualidades estrangeiras junto de
Moscovo na procura da paz, através do diálogo. Mas na mesma medida, do lado de
Moscovo, há-de ficar perante todo o mundo a hipocrisia e o fedor de uma
estratégia fraudulenta, indigna de seres pensantes, sociáveis e sensatos. Casos
como este – e eles repetem-se a nível individual e colectivo – dão razão ao
desespero do velho Jeremias, século V A.C.,
quando explodiu publicamente neste desabafo: “Maldito o homem que põe a sua
confiança em algum dos seus semelhantes”.
Quem
disse que nunca invadiria a Ucrânia? Aquele que hoje a bombardeia, às portas de
Kiev.
O
segundo tópico, polarizador de toda a vida política entre nações, vem de muito
longe e cifra-se no brocardo latino: “Si
vis pacem, para bellum”: “Se queres a paz, prepara a guerra”. Ou: “Prepara-te
para a guerra”.
Ora, o que está a passar-se diante dos olhos
de todo o mundo é a incapacidade da Ucrânia em opor-se ao arsenal bélico da
Rússia, uma situação de impotência operacional, agravada pela interdição da
intervenção da NATO, impedida, por isso, de penetrar em território ucraniano.
Por sua vez a Europa não tem Forças Armadas credenciadas e suficientemente organizadas
para entrar no teatro de guerra. Por muito que nos custe a aceitar – e a mim
também – a história política, económico-social das nações, os conflitos
institucionais, as agressões de toda a espécie, das mais artesanais às mais
sofisticadas, tudo isso exige uma estrutura defensiva global, capaz de obstruir
o livre trânsito dos malfeitores e açambarcadores, ditadores sem freio.
Foi
Mário Soares quem defendeu a criação de um regime de Forças Armadas Europeias,
iniciativa que na altura a muitos desagradou, mas agora tem a sua plena actualidade. Melhor
seria não fossem necessárias, melhor estaria o mundo se “todos déssemos uma
oportunidade à Paz”. Mas isso é sonho de outro planeta, aquele que será o
último a descobrir.
Não
foi com estados de alma, com pias orações, com sorrisos nos olhinhos ou nas
pestanas dos anjos que o Muro de Berlim caiu ao chão. Foi a acção esclarecida e
o denodado esforço das pessoas que realizaram tão gigantesco feito. Paralelamente,
aplaudem-se todas as movimentações de apoio à já massacrada Ucrânia, as
restrições legais que por todo o mundo se têm registado, enfim, todas as
tentativas de isolar a Rússia, não o seu povo mas os seus governantes.
Em
1977, Pierre Accoce escreveu um livro crítico – “Estes doentes que nos governam”
– onde, entre outros, figuram Estaline e Hitler. Não estarei longe da verdade
se pedir ao autor que inclua nesse elenco um acabado exemplar da híbrida promiscuidade
genética desses dois doentes - Vladimir Putin.
Ao total descalabro da sua política destruidora tem o desplante de
chamar “Uma Nova Ordem Mundial”.
Pois, contra essa Velha (Des)Ordem Mundial, marchar, marchar!
25.Fev.22
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário